E, mais uma vez, nossas línguas brincavam uma com a outra. Se moviam em um ritmo calmo e curioso, sem se importar com nada. Eu o beijo com intensidade, mas sem aquele arrepio na espinha ou o calor ardente que me provoca Rafael com um simples toque. Com Pedro é diferente, é bom, mas não extraordinário. Eu apenas deixo meu corpo reagir a ele como qualquer garota da minha idade faria ao ser beijada por um garoto bonito… e solteiro. Para mim, o melhor de tudo, é não ter minha própria mente me julgando o tempo todo por querer alguém que não posso ter. Eu o beijo, sem peso, sem culpa, apenas me deixando levar pela sensação, outra vez.Por fim, nos afastamos um pouco, respirando com dificuldade e tentando se recompor.- Desce você primeiro, eu preciso esperar um pouco… - Pedro me aponta o volume em seu short, me deixando corada. Apenas aceno em concordância e me retiro do seu quarto. Não quero ficar pensando em tudo que aconteceu, mas, sinceramente, não me arrependo de nada. Eu não gosto de
Pedro solta uma risada debochada, seus olhos fixos em mim.- E o que eu iria fazer nessa sua cidadezinha? Andar a cavalo?- questiona com arrogância.Solto um suspiro pesado e reviro meus olhos, cruzando meus braços diante do meu corpo ao ver tamanho atrevimento.- Então pronto… Você vai à sua casa de campo e eu vou visitar o meu pai. - digo firme e direta - Pode sair, por favor. Ele me encara por alguns segundos fazendo cara feia, abre a boca para dizer alguma coisa, mas não diz nada. Apenas balança a cabeça com impaciência e sai fechando a porta. Me deixando em paz. Para ser sincera, estou animada em ver meu pai e meus amigos, mas também tenho medo de sentir que eles continuam indiferentes comigo. Respiro fundo, esse tipo de insegurança deixarei para o meu eu do futuro resolver. Tranco a porta.Começo a tirar minhas roupas, querendo logo me livrar da sensação pegajosa da bebida em minha pele, porém, escuto uma batida repentina.- Está ocupado! - “Tantos banheiros nessa casa e o povo
- Eu realmente sentia falta de ter uma mãe - confesso, um pouco envergonhada. Me sinto um pouco triste por achar, de algum modo, que dizer isso em voz alta é sinal de fraqueza.Pedro fica em silêncio, com seus olhos fixos no teto. Porém, o silêncio não dura muito, em voz baixa, ele murmura para mim:- Eu também sinto muita falta da minha…Estranhamente, eu consegui sentir a tristeza dele daqui.- Eu nem me lembro dela direito, na verdade. Quando ela morreu, eu tinha só seis anos…Eu espero ele dizer mais alguma coisa, mas ele se cala novamente.- Ela morreu de quê? - pergunto, sem pensar muito, talvez sendo até mesmo indelicada.- Câncer de mama. - responde, não parecendo ter se importado com a pergunta, mas igualmente triste - Sei que você acha que eu deveria ser grato a sua mãe e tudo mais… Já que ela cuidou de mim por oito anos…- Mas…- Mas não é bem assim. - ele suspira e se vira para mim - Posso te contar o que eu realmente penso? Mesmo que pareça um pouco ofensivo para você?-
- Você tem alguma coisa para me falar? - me pergunta Rafael, depois que nosso professor mais carrancudo sai da sala de aula, fechando a porta com força.- Que essa aula foi insuportável? - brinco, erguendo uma sobrancelha com um sorriso meio forçado. Sei exatamente aonde ele quer chegar. Por que o Pedro tem que ficar falando dessas coisas justo para ele? “Pedro, boca de caçapa”, insulto-o em minha mente.Seus olhos me encaram com certa impaciência, as sobrancelhas levemente franzidas e escuto seus pés batendo contra o chão insistentemente.- Sobre seu fim de semana… - sua voz sai baixa, quase falhando. Em seus olhos noto um pouco de mágoa. Está claro que ele sabe.Passei a primeira aula inteira evitando olhar para ele, mas agora o encaro de verdade. O ar parece mais denso entre nós, é incomodo. Eu gosto dele. Sei que gosto. Mas gostar de alguém que não pretende me escolher, é dolorido. Suspiro.- O que você quer saber? Seja direto… - digo de forma ríspida, como se eu quisesse afastá-
Deixar a casa do meu pai para ir viver com a minha mãe, nunca, jamais havia passado pela minha cabeça nesses 8 anos dos quais não vi ela. Até porque quem decidiu acabar com a família foi ela, quando traiu meu pai sabe sei lá quantas vezes. Mas enfim, aqui estou eu, na porta da casa dela ao seu lado, para uma nova etapa da vida, depois de não aguentar mais o maltrato da nova mulher do meu pai. Eu sei que poderia ter falado algo com meu pai sobre como sua mulher me trata, mas ele está tão feliz com ela que me sinto mal por atrapalhar seu romance. Então se eu tiver que fazer a vida de alguém difícil, essa vida tem que ser a da minha mãe, afinal, foi ela que decidiu ir e nos trocar por uma família com mais dinheiro. Ainda é esquisito ver ela, a que se diz minha mãe. Continua bonita, mas diferente. Sempre tivemos o cabelo tão preto quanto à noite, porém agora seus cabelos têm um tom de loiro que faz destacar ainda mais suas sobrancelhas escuras. Ela já não usa mais roupas comuns, dá para
Eu nunca tive realmente medo de algo, mas comecei a ficar meio ansiosa por ver Pedro em todo lugar da casa, nos corredores, na sala, na cozinha, onde eu estivesse, parecia que ele estava lá. O jeito que ele me olhava fazia todos os meus pelos do braço se arrepiarem, como se algo dentro de mim me avisasse que eu deveria me proteger, que algo ruim aconteceria. Seus olhos pareciam querer desnudar até a minha alma, ele analisa sempre tudo que faço, tudo que falo e até como me movo. O que significa isso? Que ele me acha uma intrusa tão insuportável assim? Ou algo a mais? Às vezes, ele me faz pensar até que ele me deseja, já que me olha tanto, mas por outro lado, a maneira como me olha me faz pensar que para ele eu sou simplesmente um nada, um inseto insignificante andando perto dele e o incomodando com minha presença. Os dois casos, me causa náusea. Sua presença também é um incômodo para mim. “Espero que o fim de semana passe rápido” pensei comigo, suspirando pela milionésima vez a
Finalmente chegou o dia de conhecer minha nova escola e eu parecia um caco de tão cansada. Não consegui dormir, mesmo trancando a porta o medo se apoderou de mim e cada segundo naquela casa pareciam horas. Mas enfim, aqui estou eu prestes a conhecer o lugar onde vou estudar e minha mãe estar ao meu lado me deixa um pouco menos ansiosa. - Ah Sophy, essa escola é a melhor, você sempre foi inteligente, vai amar esse lugar. - Não sabia ou não me lembrava que minha mãe é uma pessoa assim, tão positiva. Depois de longas conversas com o diretor sobre como funciona a escola e sobre como eu teria que me esforçar para me encaixar nos padrões elevados daqui, finalmente pude ir a minha sala e me apresentar. A professora sorriu como quem queria me encorajar, mas ter que ficar enfrente a umas 25 pessoas, não é tão encorajador assim. - Bom dia! Me chamo Sophia, tenho 16 anos e… - olhei para ela como quem se pergunta o que devo dizer, ela apenas sorriu um pouco mais. Voltei a olhar para a turma
Sinto meu rosto queimar de tanta vergonha, mas se tem uma coisa em que eu sou boa, isso é improvisar. - Você está sujo de caneta aqui. - menti, apontando para perto da minha boca, o fazendo automaticamente passar sua mão no lugar que eu indiquei, porém em seu rosto, tentando se limpar. Vejo suas bochechas se corarem levemente contra sua pele parda, o que o faz parecer até meio fofo. Solto um riso baixo sem querer. Ele me olha atônito. - O que te causa tanta graça? - ele perguntou se recompondo. - Você! - falei sem hesitar e sorri ainda mais. Rafael fica sem palavras, surpreso pela minha resposta inimaginável. E eu gosto disso. Ele continua me olhando fixamente nos olhos. “ O que será que ele está pensando?” Esse tipo de pensamento brota em minha cabeça, porém ele é um livro difícil de ler. Ao contrário dele, imagino que eu seja um livro aberto que ele consegue entender perfeitamente. Nunca fui do tipo misteriosa. - Posso te dar uma foto minha se você quiser! - digo a ele o fa