Cap.114
As portas da grande sala de reuniões se abriram, e todos os olhares se voltaram para ele. Havia pelo menos vinte pessoas na longa mesa de carvalho: acionistas de terno engomado, advogados, consultores, todos com pastas abertas, óculos na ponta do nariz e a respiração suspensa diante daquela aparição.
De pé, no centro, Rafael já esperava. O tom debochado surgiu antes mesmo que Lúcios se acomodasse.
— Aí está ele. — Rafael abriu os braços com teatralidade, o sorriso carregado de veneno. — Nosso tão dedicado presidente. Vejam só, se importa tanto com a empresa que nem faz questão de chegar no horário.
Alguns acionistas se entreolharam. Outros franziram o cenho. O comentário foi calculado para provocar, e todos sabiam disso.
Mas Lúcios não reagiu. Nenhuma palavra. Nenhum olhar de reprovação. Apenas o leve erguer de uma sobrancelha, o sorriso discreto no canto dos lábios, como quem se divertia com a encenação barata do sobrinho.
Aquele silêncio, tão pesado e controlado, falava mais