Quem é ela?

CAPÍTULO 02

Theodoro Almeida

Quase caí da cama com o susto que levei. Fui pego aqui no quarto de hotel por alguém que tenho carinho, e o pior foi ela ter visto uma das mulheres que chamo ocasionalmente para não morrer de tédio, “nua” ao meu lado.

As coisas aconteceram muito rápido, estranhei não me lembrar de ter ligado para chamar uma delas, e quando vi, a moça já havia saído correndo.

— Nossa, me desculpe, dona Maria! Não era para ter visto isso, eu nem me lembrei de fechar a porta!

— Ai, meu filho! Eu vi o seu estado ontem, depois que saiu lá de casa, imaginei que se abalaria.

— Estou bem, não se preocupe, só bebi um pouco a mais, ontem! — passei a mão no rosto, e voltei a olhá-la.

— Infelizmente o tempo passou e as coisas mudaram, Théo. A minha filha se apaixonou por outro, não dá para mudar isso, você precisa superar, ela espera que vá no casamento deles!

— Aí dona Maria... a senhora sempre soube dos meus sentimentos. Eu planejei tantas coisas, fui para guerra, mas meu coração ficou aqui com ela, eu iria pedi-la em casamento, mas...

— Mas não pediu. A minha filha sofreu muito, meu querido, porém sofreu como amiga, porque você nunca falou dos seus sentimentos e deixou a sua oportunidade passar. Aconteceu aquele bombardeio, você ficou anos afastado, e agora ela conheceu uma pessoa e se apaixonou.

— Espero que seja feliz! — fui sincero, soltando o ar preso nos pulmões, e tentando melhorar a dor do nó na garganta.

— Bom, já vi que está bem, agora preciso ir! Só passei mesmo para ver como estava, já que é tão pertinho!

— Tenha um bom dia, dona Maria! — dei um meio sorriso, ela acenou e saiu do quarto, deve ter notado que eu estava sem roupa, graças a esse hotel que ainda não modernizou todas as portas, a maioria ainda tem maçaneta, deve ser pela cidade ser tão pequena.

Assim que fechou a porta, me levantei apressado e tranquei. De repente olhei para a cama e estranhei algumas manchas de sangue, havia alguma coisa errada.

Passei a mão na cabeça, comecei a andar de um lado para o outro, e lembranças da noite que tive vieram de repente.

Aquela prostituta me acordou em meio ao surto psicótico e conseguiu me controlar, como ela havia feito aquilo? Ninguém além da mulher que amo conseguiu fazer isso, mas como ela fez?

Olhei para o chão e vi um pano esquisito de tecido leve, se não era meu, só poderia ser dela..., mas quem era ela?

Peguei meu celular e liguei naquele número privado novamente. Era nele que eu ligava sempre que queria uma mulher, eles me enviavam uma e o serviço sempre foi muito sigiloso, já que não posso e nem quero me relacionar com ninguém.

No segundo toque aquela voz aveludada me atendeu:

— Lembrou da gente, gato? É só dizer que sim, e em alguns minutos terá uma bela mulher no seu quarto!

— Não, na verdade, eu só queria saber mais da mulher que enviaram ontem! Eu sempre fui claro que em hipótese alguma, deveriam passar a noite aqui, e só porque bebi, a acompanhante acordou do meu lado, qual o problema de vocês?

— Calma senhor! Nenhuma das nossas acompanhantes foi até o seu quarto ontem, tem certeza que não levou alguma outra mulher? — bufei, sem acreditar que ela teve coragem de perguntar isso, era só o que faltava.

— Isso é impossível! Verifique no seu sistema aí, e descubra quem veio! Essa acompanhante tem reações bem estranhas, além de passar a noite comigo, ainda saiu correndo, quero que volte aqui, quero saber quem é.

— Olha, eu realmente não tenho dúvidas, nenhuma das nossas, esteve no seu quarto. — ouvi conversas paralelas, fiquei tentando entender. — Olha, uma delas disse que viu a mulher que saiu do seu quarto, e só percebeu que era acompanhante porque saiu enrolada num lençol, mas a mulher era bem desajeitada para trabalhar com isso. — ouvi gargalhadas.

— Certo, ligo outra hora.

— Espere, envio uma acompanhante até aí?

— Não. — desliguei o celular e quanto mais depressa comecei a me vestir.

Saí pelo corredor, olhei para todos os lados, mas pelo tempo que levei, dificilmente encontraria aquela mulher.

Fui pelas escadas, observando a cada andar, então quando cheguei na recepção, conversei com a recepcionista:

— Tem como você verificar nas câmeras, quem foi que saiu do meu quarto a uma meia hora?

— Não é comigo, senhor. Posso te encaminhar para o setor responsável, mas precisa ter um bom motivo, por acaso o senhor foi roubado? — pensei por um momento, mas vi que a mulher me ignorou, já havia voltado a olhar seu computador, e foi aí que me lembrei.

— Sim, fui roubado. — ela levou o sobre-lençol do meu quarto, mas se não era dela, é um roubo, simples assim!

A mulher bufou, me indicou a direção que eu deveria ir e saí apressado, vendo ela me olhar torto.

Me atenderam bem na sala que me enviaram, que era de monitoramento, logo começaram a procurar as imagens, e então eu a vi...

Uma morena bonita, não dava para ver muita coisa, estava muito assustada e inteira coberta com o lençol. O que foi bem estranho, é que parecia não enxergar por onde andava, como isso seria possível? Uma mulher cega como prostituta?

— Senhor, então é essa? — voltei a olhar as imagens, quando o homem me apontou.

— Sim, entrou num quarto. Ligue para lá! — apontei na tela, indicando um número.

— O senhor encontrou o que lhe foi roubado?

— Só ligue, por favor! — falei já sem paciência.

Aquele homem ligou, não estou fardado, mas aqui todos já sabem que sou um tenente, então quando ouvi a voz dela, falei:

— Quem te autorizou a passar a noite comigo? No meu quarto, me roubar e ainda sair correndo? Para uma moça cega, deveria pensar melhor antes de fazer tais coisas, você não acha? — não ouvi nada, me irritei — Está me ouvindo?

— Estou... ouvir, eu ouço muito bem! Agora, o que eu faço da minha vida, é problema meu. É você quem não deveria se preocupar com uma desconhecida, não acha? E, não roubei nada! — sua voz era agressiva, parecia até que era eu, quem havia feito merda ali.

— Olha aqui... — Fui reclamar, mas fiquei apenas com o barulho da ligação encerrada: “ela desligou na minha cara?“

— Senhor, precisa dar queixa... o que foi roubado?

— Esquece! — soltei o telefone apressado, ignorei todos, e comecei a voltar para o andar que eu estava hospedado, mas meu celular tocou perto da recepção.

Puxei do bolso rapidamente e atendi, só que antes que eu colocasse os pés no primeiro degrau da escada, paralisei:

— Tenente Almeida, gostaria de lhe informar que o soldado Messias passou mal agora de manhã...

— Droga! Estou indo pra aí! — desliguei a ligação sem questionar, mudei o percurso e imediatamente fui ver aquele rapaz.

“Com você eu converso mais tarde, morena!“

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