CICATRIZES E GESTOS SIMPLES
ARIA
Acordo com o som suave da chuva batendo no telhado. Julian ainda dorme, espalhado na cama com seu bichinho de pelúcia preferido. Observo o pequeno movimento do peito dele subindo e descendo e sinto meu coração se aquecer. Ele tem sido minha força nos dias mais escuros, minha razão para continuar mesmo quando tudo parecia desabar.
Desço as escadas com cuidado, tentando não fazer barulho. Quando chego à cozinha, me deparo com uma cena que nunca imaginei ver: Alexandro, de avental, preparando panquecas. Ele está concentrado, franzindo a testa como se estivesse executando uma operação delicada.
— Isso é real ou eu ainda estou sonhando? Brinco, encostando na porta.
Ele vira o rosto e sorri, aquele sorriso de canto que sempre fez meu estômago revirar.
— Bom dia, dorminhoca. Fiz café e tentei panquecas.
Me aproximo e olho a bagunça:
Farinha no balcão, ovos quebrados demais na pia, e um cheiro levemente queimado no ar. Mas é a coisa mais bonita que já vi.
— P