CAPÍTULO 40

Retirando as sombras

O dia amanhece com um céu nublado, mas a luz que entra pelas janelas do sítio é suficiente para me empurrar do sofá. Minha primeira tarefa é simples, mas simbólica:

Abrir todas as janelas da casa. Deixo o vento entrar, correr pelos cômodos como se levasse embora os fantasmas do passado. Há algo de libertador nesse gesto.

O jardim está tomado por ervas daninhas. Caminho entre os canteiros que, um dia, foram repletos de ervas e flores.

Minha mãe tinha mãos mágicas para a terra. Passo os dedos sobre a terra seca e começo a arrancar as primeiras invasoras. Cada puxada é uma forma de limpar não só o jardim, mas meu coração.

Lembro de Alexandro enquanto arranco as raízes mais profundas. Suas palavras ainda ecoam, cortantes:

"Você esconde algo de mim, Aria."

Não era verdade. Mas ele escolheu duvidar, escolheu virar as costas quando eu mais precisava. O peso disso ainda me esmaga.

Passo o dia limpando. Varro folhas secas, retiro entulhos que se acumularam com o tempo.
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