Retirando as sombras
O dia amanhece com um céu nublado, mas a luz que entra pelas janelas do sítio é suficiente para me empurrar do sofá. Minha primeira tarefa é simples, mas simbólica:
Abrir todas as janelas da casa. Deixo o vento entrar, correr pelos cômodos como se levasse embora os fantasmas do passado. Há algo de libertador nesse gesto.
O jardim está tomado por ervas daninhas. Caminho entre os canteiros que, um dia, foram repletos de ervas e flores.
Minha mãe tinha mãos mágicas para a terra. Passo os dedos sobre a terra seca e começo a arrancar as primeiras invasoras. Cada puxada é uma forma de limpar não só o jardim, mas meu coração.
Lembro de Alexandro enquanto arranco as raízes mais profundas. Suas palavras ainda ecoam, cortantes:
"Você esconde algo de mim, Aria."
Não era verdade. Mas ele escolheu duvidar, escolheu virar as costas quando eu mais precisava. O peso disso ainda me esmaga.
Passo o dia limpando. Varro folhas secas, retiro entulhos que se acumularam com o tempo.