Cheguei em casa como lixo humano, entrei pela porta e percebi que Benny não estava porque, na verdade, era muito cedo. Joguei a minha bolsa esportiva enorme no sofá enquanto me arrastava para o banheiro, com uma sacola de compras pendurada na mão.
Sentei-me no vaso sanitário, mas o único líquido que saiu foram lágrimas.
Não sei quanto tempo esperei a urina sair, mas quando saiu, havia urina suficiente para todos os testes que comprei.
Levantei-me, abaixei a privada, dei descarga e deixei o meu collant desabotoado, pois os meus dedos estavam trêmulos demais para fechá-lo. Lavei as mãos e a água me deixou com um frio indescritível.
Abri os cinco testes de gravidez, coloquei as pontas acolchoadas no copo de urina e esperei, com as mãos agarrando a borda da pia com força. Olhei-me no espelho à minha frente e não reconheci a mulher com os seus olhos inchados, rosto vermelho e expressão devastada.
Suspirei enquanto esperava os minutos passarem, lendo as instruções pela quinta vez. O papel dizia que era melhor fazer os testes com a primeira urina do dia, mas eu estava ansiosa e impaciente demais para esperar até a manhã seguinte.
Ainda faltava um minuto para o tempo de espera acabar. No entanto, não pude deixar de olhar para o frasco.
As minhas pernas cederam quando vi duas linhas bem coloridas em cada janela do teste. Peguei todos num punhado e joguei na parede, ainda sem conseguir parar de chorar. Bati a cabeça na pia, mas nem senti. Não doeu tanto quanto a dor que senti por dentro com a notícia.
Estou realmente grávida.
Levei as mãos ao rosto, o meu corpo tremia e, às vezes, tive que olhar para o teto e abrir a boca para não me afogar. Foi puro instinto, porque, sinceramente, morrer naquele momento parecia a saída perfeita.
Eu não entendia como esse resultado era possível, como isso aconteceu.
Eu sempre fui cuidadosa. Nunca fui descuidada.
Benny era obrigado a usar camisinha sempre, sempre. Eu podia não estar tomando nada, mas não era por descuido. O anticoncepcional me fazia inchar e ganhar peso, algo inaceitável na minha carreira.
Então, como método de apoio, usei espermicida todas as vezes.
Comecei a me lembrar das vezes que fizemos sexo nos últimos dois meses. Não foram muitas, mas mesmo assim, eu fiquei tentando me lembrar algum momento que isso pode ter acontecido.
Assim que as lágrimas pararam, porque não havia mais nada para chorar, levantei-me com alguma dificuldade, fui para o quarto e sentei-me descuidadamente na cama. Tirei o meu collant e me livrei dos tênis. Depois, peguei algumas roupas na cômoda, apenas uma blusa esportiva e um short confortável. Então, deitei-me, abracei o travesseiro com uma das mãos e deslizei a outra sobre a minha barriga nua.
— Sinto muito, mas eu não te amo. Essas foram as primeiras palavras que disse ao bebê. — Por que você não pôde escolher outra mãe? Perguntei, sabendo que não haveria resposta. — Acho que você é burro, assim como eu. Não sou muito inteligente. Talvez você tenha herdado isso de mim, porque ninguém inteligente me escolheria como mãe. Solucei.
Apertei a mão, quis me bater, girei o punho, mas me contive a tempo, abri a mão e a deslizei de volta para a minha barriga ainda lisa.
Tentei parar de pensar na situação por um momento, mas não consegui.
Como eu iria criar esse bebê?
Eu gastava o pouco dinheiro que ganhava com comida e tudo o que precisava na escola. O meu emprego de meio período nem dava para me sustentar sozinha. Eu mal conseguia pagar o aluguel do apartamento.
Benny ajudava com as contas, porém, ele contribuia com a mesma quantia que eu, às vezes um pouco mais, às vezes um pouco menos.
Contar aos meus pais não era uma opção, e voltar para casa deles como um fracasso também não. Eles já tinham me dado tudo, então agora eu teria que tirar o dobro deles ou dar a eles o fardo de um bebê para cuidar enquanto eu saía para trabalhar.
Eu estava ficando louca. O dinheiro não era o suficientes. Eu ia morrer de fome, sobrevivendo com auxílio governamental para mães de baixa renda.
Fraldas, comida, uma babá, um médico, um parto, um pediatra...
Sentei-me novamente na cama, os meus pulsos pressionados contra as têmporas, me esforçando, esperando que assim os meus pensamentos se dispersassem.
Nesse momento, o meu telefone tocou. Atirei-me a ele, torcendo para que fosse Benny. Eu precisava que ele voltasse para casa logo para que eu pudesse contar tudo.
— Ah, merda. Sussurrei quando vi que era o meu pai ligando.
Se eu não atendesse, ele ficaria preocupado.
— Papai? Respondi depois de pigarrear.
— Como está a minha linda menina? Os meus olhos lacrimejaram e respirei fundo. A voz do meu pai estava ficando mais velha e doce.
Nesse momento, eu queria ir até ele, sentar no seu colo e ouvi-lo me prometer que tudo ficaria bem.
— Muito bem, pai. Como estão você e a mamãe? Perguntei, tentando manter a voz o mais calma possível.
— Nervosa, já te disseram qual é o seu papel na peça? Chorei de novo, mas dessa vez baixinho.
— Oi, querida! Ouvi a voz cantada da minha mãe ao fundo. — Já temos o papel principal? Ela perguntou. — Já pedi para a nossa vizinha fazer um vestido para a noite de estreia! Levei a mão à boca, abafando os soluços.
— Sim, mamãe! Eu disse, chorando de profunda tristeza por ter mentido para eles tão profundamente, mas eu não podia decepcioná-los, não agora.
— Eu sabia! O meu pai começou a chorar enquanto a minha mãe agradecia a Deus.
— Eu disse a vocês que um dia todo esse trabalho duro seria recompensado. Estamos tão orgulhosos de você, pequena Nat. Mamãe me parabenizou, enquanto eu ouvia o meu pai enchê-la de beijos.
— Você já tem uma data de estreia? Eles perguntaram.
— Ainda não. Puxei de volta o muco e limpei as bochechas com as costas da mão. — Mas assim que tiver os detalhes, aviso vocês. Prometi.
— Estaremos aguardando ansiosamente. Parabéns novamente, minha menina. A minha boca se contraiu para não soluçar.
— Obrigada, eu amo vocês. Declarei com a maior sinceridade.
— Você é o nosso raio de sol, não se esqueça disso. Disseram em uníssono. Era a maneira deles de dizer que me amavam.
Eu era filha única de Frederic e Marie Brown, um casal de classe média que tentou engravidar por anos. Depois de muitas tentativas, lágrimas derramadas e bebês perdidos, entrei na vida deles.
Irônico que, com esse passado, o meu primeiro pensamento, ao descobrir que estava grávida, foi me livrar do bebê.
A culpa me atingiu imediatamente, forte e cortante.
— A diferença é que eu não estava esperando por você. Tentei me justificar com o bebê.
Será que ele vai conseguir me ouvir?
— Nat? Quando abri os olhos, a primeira coisa que vi foram os olhos castanhos de Benny, que estava sentado ao meu lado, passando a mão no meu cabelo. — Está tudo bem? Ele perguntou com uma expressão confusa. — Achei que você estivesse ensaiando.
Cobri a mão com a boca enquanto me sentava, abracei o meu namorado e ele me recebeu sem hesitar.
— O que houve, Natalia? Ele parecia consternado. — Você não conseguiu o papel? Deram para aquela maluca da Gianna, né? Eu sabia, eu te disse que aquela garota era...
— Estou grávida. Eu simplesmente soltei.
Os dedos de Benny, embora permanecessem no lugar, se abriram. Ele não me apertou mais, não disse uma palavra, e tudo o que vi foi a forma como a sua expressão se contorceu.
— O que você está dizendo? Ele engoliu em seco com dificuldade. — É uma piada de mau gosto? Deixa eu te falar, não foi um bom dia na... Puta merda. Ele sussurrou quando lhe entreguei os testes de gravidez.
— Quem me dera que fosse uma piada. Fui expulsa da academia. Descobriram antes de mim quando fiz os exames mensais, então não tenho nenhum papel, não vou participar de nenhuma peça, não tenho emprego, não tenho dinheiro e não sei como vamos sustentar um bebê.
— Natalia...
— Você acha que é um falso positivo? Perguntei. — Sempre fomos cuidadosos, sempre. Você acha que pode ser um falso positivo? Questionei esperançosa. — Diga-me o que é possível.
— Natalia...
— Sempre fomos cuidadosos com dois métodos. Interrompi ele novamente com os meus devaneios. — É impossível que isso tenha acontecido, certo? Eu precisava do apoio dele com isso.
— Desculpa. Ele sussurrou, com a cabeça baixa enquanto passava a mão pelos cabelos.
— Você está se desculpando pelo quê? Perguntei, alarmada.
— Que nossos métodos não funcionaram. Então, ele me abraçou com mais força.
— Os meus sonhos acabaram, Benny, acabaram. Eu desabafei.
— Você quer ficar com ele? Ele perguntou, hesitante.
— Você não quer? Respondi, trêmula.
— Eu quero o que você quiser. Não vou ficar chateado se você quiser fazer um aborto.
— Acho que eu deveria marcar uma consulta e pensar no assunto.
— Pensar no assunto? Ele deu uma risada irônica. — Sem o bebê, você pode continuar de onde parou, Natalia. Ninguém jamais saberá. Eu não direi nada. Ele deu de ombros, minimizando o assunto, como se estivéssemos falando sobre as compras semanais de supermercado.
— O pessoal da academia sabe. Até aquele idiota do Gerald me disse para voltar quando abortasse. Eu disse a ele com profunda consternação.
— Viu?! Ele apontou para mim com as duas mãos, como se estivesse me dando a solução perfeita. — É o melhor para você!
— Não sei se tenho forças para fazer um aborto. Confessei. — Respeito quem faz, mas não sei se consigo. Solucei. — Pesquisei sobre o procedimento; é horrível para nós dois. Benny, eu não sou tão forte assim.
— Ele vai arruinar a sua vida, Natalia! Ele levantou um pouco a voz.