Mundo de ficçãoIniciar sessãoCristina
Estou sentada nessa cama, o vestido está rasgado assim como a minha calcinha. — O que aconteceu naquele quarto? Eu estava nua sobre a boca de um desconhecido e, o pior, gostando daquela sensação. Afasto esse pensamento, preciso mesmo encontrar Théo e, se eu conseguir fazer isso... Fugiremos desse lugar sem olhar para trás! — Klaus está esperando você para jantar! Era a governanta que abriu a porta sem mesmo bater antes, continuo sentada apenas olhando para ela. — Como pode ver, seu chefe não me deixou nada apresentável! Minhas roupas estão rasgadas! — Use as que estão no guarda-roupa... Pode pegar e se apresse. Ela fecha a porta, levanto-me e abro a porta do móvel. De quem serão essas coisas? De alguma prostituta dele, certamente! Escolho outro vestido, dessa vez mais parecido com o que costumo usar e menos sensual que o primeiro. Não quero que ele se aproxime de mim novamente. — Como eu sou burra, ele é cego! Visto-me rapidamente, a mulher ainda me espera do lado de fora e a acompanho até a sala de jantar. Klaus já está sentado à mesa, dessa vez não usa seus inseparáveis óculos escuros. — Ela está aqui, menino! — Não me chame assim, Gardênia. — Ela me indica onde devo me sentar, ao lado dele. Não obedeço e sento-me do outro lado da mesa, bem distante de qualquer contato próximo. — Não seja boba... — A empregada diz irritada. — Deixe-a, sou especialista em lidar com rebeldes. Peça às empregadas para nos servir e depois nos dê privacidade! — As palavras dele soam ameaçadoras, se ele pudesse enxergar o quanto o odeio e odeio ainda mais essa situação. Ela cumpre seu pedido, elas nos servem e apenas fico olhando aquele verdadeiro banquete à minha frente. Mesmo sem ter comido nada o dia inteiro, não consigo comer pensando em Théo e onde ele está. — Prove! — Ele diz ao começar a comer. Como ele sabe que não toquei em nada daquela comida? E se tiver veneno, ou algo para me fazer adormecer? — Estou sem fome. — Impossível, já sei das circunstâncias que te trouxeram para cá! Cristina! — Então me diga, onde Théo está? — pergunto com a voz trêmula. — Logo poderá ficar com ele, antes me fale mais sobre você. Sua idade, o que faz... — Tenho dezoito anos, não há mais nada para dizer, além disso. — E sua família? É aqui mesmo do Rio de Janeiro! — Ele questiona. — Não tenho ninguém, cresci em um orfanato... Agora me fale de você, nasceu assim ou... Klaus toma um pouco de água, como se minha pergunta tivesse sido difícil de engolir. — Não finja que se importa com a resposta, eu sei que não está aqui porque adora a minha companhia! Então, se abstenha de perguntas... — Só achei justo te devolver a pergunta, me mostrar interessada. Para o assunto não terminar! — Você tem futuro como prostituta, sabe bem como fingir e se dar bem mentindo... — Não sou prostituta! — gritei. — Agiu muito bem como uma, não posso negar que gostei dos seus serviços. Estou disposto a pagar bem por isso! — Você é um idiota e não enxerga nada, literalmente NADA! Saio correndo pela casa, sei que pagarei caro por isso... Mas ele está sendo tão cruel ao me tratar assim, não estou aqui por minha própria escolha e preciso achar Théo. Enquanto corro pela casa enorme, consigo ver o jardim e saio, mas sou abordada por um dos homens que me trouxe para cá. — Onde pensa que vai princesa? — Théo, onde ele está? — Dou dois t***s nele, mas sou arrastada de volta para dentro. Klaus está ali, parado no meio da sala de estar, e a empregada ao lado dele. — Ela não sai daqui até minha ordem! — Sim, patrão Klaus. Reforçaremos a vigilância na casa inteira e, se ela tentar novamente... — E o moleque? — A pergunta dele me faz continuar mais tensa. — Parece que Valter teve problemas ao trazê-lo de volta do orfanato, a bonitinha aqui sequestrou o menino e agora a vigilância ao redor dele está grande! — Não quero que o sequestrem! — Eu quero ele de volta, Klaus, por favor! — grito ao me soltar de seu capanga. Klaus me puxa pela mão, subimos até os quartos e ele empurra para dentro... Como pode saber exatamente onde tudo está nessa casa? Ele tranca a porta pelo lado de fora, maldição! Eu não deveria tê-lo desafiado e nem falado sobre sua deficiência, está claro que esse é seu ponto vulnerável. Tenho que agir com astúcia, mas se eu o seduzir, terei que me tornar sua prostituta e isso eu não conseguiria fazer. Daria razão a todas as coisas horríveis que ele disse de mim naquela mesa de jantar. — Merda! Tudo o que consegui foi seu ódio, agora ele não vai me devolver, Théo e o mandaram de volta ao orfanato. A polícia deve estar me buscando por tê-lo levado, Anthony já deve ter me esquecido lá fora! Deito-me em posição fetal, essa cama parece me tragar para dentro de um poço sem fundo. Não sei o que vai me acontecer de agora em diante, fecho os olhos e lembro-me da promessa que fiz ao menino. Como eu fui burra em achar que uma jovem como eu poderia mudar a vida dele, se não pude melhorar sequer a minha. Passo toda a noite mudando de posição na cama, sem achar um lugar onde possa adormecer. Minha mente não me permite descansar, vejo o sol nascer pela janela do quarto e saio a olhar por ela. O quintal da casa é enorme, há cães vagando por todos os lados e eu não poderia me atrever a tentar de novo. Mesmo minha vida estando um completo caos, eu posso ver algo tão bonito quanto o nascer do sol, Klaus não pode! — Será que ele nasceu desse jeito? Será que algum dia já enxergou alguma coisa? Não sei se eu conseguiria viver assim, mas ele tem uma legião de capangas e empregadas para fazer tudo por ele. Tem tudo que o dinheiro pode comprar, não merece que eu sinta pena dele!






