Hotel Serramar — Manhã fria e nublada
Narrado por Lorena Mello
O quarto ainda estava meio escuro, mas o cheiro de café já invadia o ar.
Gustavo acordou pesado.
Demorou pra abrir os olhos.
Demorou mais ainda pra levantar o peso do corpo do colchão.
Fiquei de pé, encostada na janela, observando em silêncio.
Quando ele finalmente ergueu o olhar, nossos olhos se encontraram.
Não precisou de palavra.
Eu vi.
Vi na tensão dos ombros, na respiração curta, na maneira como os olhos dele estavam gastos — mas ainda tinham aquela centelha.
Sentei na beirada da cama, perto dele, e falei direto:
— Você quer ver o Enzo.
Ele apertou a caneca nas mãos, baixou a cabeça.
Respirei fundo.
— Eu pensei num jeito. — disse, puxando a coragem do fundo da alma.
Ele me olhou, tenso, mas disposto a ouvir.
Inclinei pra frente, falando baixo:
— A gente precisa agir direito.
— A escola não vai deixar ninguém estranho chegar perto do menino.
Gustavo apertou a mandíbula, o instinto dele querendo explodir.
Apoiei a mão