Narrado por Caio)

A porta bateu atrás dela.

Ficou o cheiro do perfume.

E o gosto amargo do que ela disse.

“Não me usa, Caio.”

“E o Gustavo era o quê pra você?”

A pergunta ainda ecoava.

Me encostei na mesa.

Fechei os olhos.

Ela não entende.

Não vê.

Não enxerga o que eu fiz por ela.

Fui eu quem ficou.

Fui eu quem segurou aquele apartamento enquanto ela chorava todas as noites.

Fui eu quem pegou Enzo no colo, doente, febril, sem saber o que fazer.

O Gustavo foi embora.

E eu fiquei.

E agora que a vida começou a se reorganizar…

ela quer me deixar do lado de fora.

Me expor?

Foi só um gesto.

Um toque.

Um título que já é dela, porra.

Minha esposa.

Tá no papel.

Tá na casa.

Tá na rotina.

Eu não tô forçando.

Tô tentando.

Mas ela ainda olha pra mim como se eu fosse uma sombra.

Como se tudo que eu faço tivesse veneno.

Talvez tenha mesmo.

Mas é veneno doce.

Daquele que ela já provou e não quer admitir.

Ela pode tentar correr.

Pode chorar escondido.

Pode sonhar com um morto todos os dias.

Mas no fim