capítulo 14

(Narrado por Renan)

Voltei sem avisar.

Gente que mente não gosta de surpresa.

Entrei naquela empresa e tudo brilhava demais.

Novo demais.

Controlado demais.

E quem brilha demais… geralmente tá tentando esconder sujeira.

Caio me recebeu com aquele sorrisinho treinado.

Aquele aperto de mão falso.

E um olhar que tentou ser firme — mas vacilou.

Eu aceitei o café.

Aceitei o discurso.

Aceitei até a ideia de "nova fase".

Mas cá entre nós?

Nada daquilo me convenceu.

Porque eu conheci o Gustavo.

E o que ele tava montando era maior.

Mais ousado.

Mais limpo.

O projeto que o Caio apresentou era só uma cópia mal disfarçada.

Mal feita, mal intencionada.

E aí veio o detalhe que não sai da minha cabeça.

O corpo.

Nenhum parente reconheceu.

Nenhuma autópsia feita.

Nenhum exame de DNA.

Cremado às pressas.

Hospital alegando “protocolo” como se isso fosse explicação.

Tem coisa errada.

Muito errada.

Talvez o Gustavo tenha mesmo morrido naquele acidente.

Mas se morreu…

foi em silêncio demais.

E se não morre
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