(Narrado por Renan)
Voltei sem avisar.
Gente que mente não gosta de surpresa.
Entrei naquela empresa e tudo brilhava demais.
Novo demais.
Controlado demais.
E quem brilha demais… geralmente tá tentando esconder sujeira.
Caio me recebeu com aquele sorrisinho treinado.
Aquele aperto de mão falso.
E um olhar que tentou ser firme — mas vacilou.
Eu aceitei o café.
Aceitei o discurso.
Aceitei até a ideia de "nova fase".
Mas cá entre nós?
Nada daquilo me convenceu.
Porque eu conheci o Gustavo.
E o que ele tava montando era maior.
Mais ousado.
Mais limpo.
O projeto que o Caio apresentou era só uma cópia mal disfarçada.
Mal feita, mal intencionada.
E aí veio o detalhe que não sai da minha cabeça.
O corpo.
Nenhum parente reconheceu.
Nenhuma autópsia feita.
Nenhum exame de DNA.
Cremado às pressas.
Hospital alegando “protocolo” como se isso fosse explicação.
Tem coisa errada.
Muito errada.
Talvez o Gustavo tenha mesmo morrido naquele acidente.
Mas se morreu…
foi em silêncio demais.
E se não morre