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Miranda Araújo.

Aproximei devagar até o balcão, com coragem… continuei encarando o cartaz...

Aquilo parecia ter sido colocado ali de propósito, como se estivesse me esperando.

Sorri, pensando ser um presente divino.

Um senhor de cabelos grisalhos e olhar calmo se aproximou, ajeitando o avental manchado de vinho.

— Boa noite, senhorita. O que vai querer? — perguntou, simpático, mas sem disfarçar o cansaço nos ombros.

Engoli em seco.

— Na verdade… eu não vim comer. — Hesitei, depois apontei para o cartaz. — Eu vi que estão contratando.

Ele arqueou as sobrancelhas, me analisando de cima a baixo. E então sorriu de leve, quase desconfiado.

— Você não é daqui, né? — disse, captando o sotaque no mesmo instante.

Balancei a cabeça.

— Me mudei há pouco tempo. — ele assentiu.

— Experiência com restaurante? Com pratos, bebidas, atendimento?

Quase travei, mas respondi.

— Não, senhor. Não em restaurante. Mas já trabalhei em cafeterias… Eu era atendente, ficava no caixa, fazia a limpeza, estoque… eu aprendo rápido. Preciso muito dessa chance.

Por um instante, vi o brilho da esperança morrer nos olhos dele. Mas não deixei espaço para desistência. Inclinei-me para frente, falando com firmeza.

— Eu posso não ter experiência com pratos sofisticados, mas sei ouvir, sei observar. E, mais que tudo, sei que vou me dedicar. Eu preciso desse emprego. Eu posso mostrar ao senhor minha carteira de trabalho, sempre sou pontual no trabalho, faço horas extras se precisar.

Ele respirou fundo, os olhos enrugando nas laterais. Depois de um silêncio que pareceu durar minutos, pegou um bloco e uma caneta.

— Muito bem. Me deixe seus dados. Vamos marcar uma entrevista e alguns testes. Se der certo, o trabalho é seu.

Senti alívio quando peguei naquela caneta.

Escrevi meu nome, telefone, até o endereço de Ana e Alexa com mãos quase trêmulas.

— Obrigada… de verdade.

Ele sorriu, sincero desta vez.

— Me chamo William. Pode esperar meu contato, Miranda.

Deixei o restaurante com os pés leves, como se tivesse ganhado na loteria. Nunca pensei que uma saída despretensiosa pudesse virar algo tão… promissor.

Quando cheguei ao apartamento, Alexa e Ana me olharam surpresas.

— Ué, já voltou? — Mariana perguntou, erguendo a sobrancelha. — Achei que ia rodar a cidade inteira.

— Eu só queria respirar um pouco — respondi, tentando disfarçar o brilho nos olhos. — E acabei encontrando um restaurante contratando. Falei com o dono.

As duas me encararam por um segundo, depois gritaram juntas, me puxando para um abraço coletivo.

— Isso é incrível! — Alexa disse, animada. — Tá vendo como essa cidade vai te fazer bem?

Rimos, celebramos…

Alexa tinha feito uma torta e comemos juntas, conversamos e me sentia bem melhor.

Depois disso, ajudei com a louça e disse que iria dormir, estava cansada.

Abracei elas e fui tomar um banho rápido.

Depois de roupas limpas e confortáveis no meu corpo, me deitei na minha cama.

Confesso que estava cansada…

Me cobri com o cobertor e fechei os olhos torcendo para que, na manhã seguinte, a ligação de William fosse a primeira coisa que veria no celular.

Adormeci rapidamente…

Já de manhã…

Depois de alguns minutos desperta… estava ansiosa, para a ligação de Willian.

Quando o peguei… não foi a notificação dele que vi no celular.

A tela iluminada mostrava uma notificação que fez meu coração parar por um segundo: um e-mail da editora organizadora do concurso literário.

Não, não… era sério isso?

Meus olhos leram as palavras ligeiramente: “Parabéns, Miranda! Você foi selecionada para participar de um evento especial na cidade vizinha, onde escritores e leitores se reunirão para debater temas, regras e premiações. Sua presença é essencial.”

Fiquei imóvel por alguns instantes, absorvendo aquilo. Eu? Convidada? Não achei que sequer iriam notar a minha inscrição. Só de ver aquelas linhas, senti o peito inflar, a confiança reacender.

Eu… precisava estar lá.

Corri para a cozinha, mas minhas amigas já estavam atrasadas para o trabalho. Elas me ouviram no meio da correria, ainda calçando os sapatos.

— A gente vai com você, não se preocupe — garantiu Alexa. — É só esperar a gente sair do serviço.

Acenei para elas e então fiquei ali… esperando…

Passei o dia todo ansiosa, lendo e relendo trechos do meu livro, ensaiando respostas, imaginando perguntas. Eu tinha que ser escolhida. Tinha que mostrar que era capaz.

À tarde, coloquei a melhor roupa que tinha: um vestido simples, mas elegante, e sapatos que quase não usava. Olhei meu reflexo no espelho e, pela primeira vez em muito tempo, me reconheci. Não a garota sufocada pela avó, mas uma mulher que podia respirar por conta própria.

Horas depois…

Alexa e Mariana chegaram ofegantes, com medo de estarmos atrasadas. Juntas, entramos no ônibus em direção à cidade vizinha.

Algumas horas depois, cansadas, mas cheias de expectativa, chegamos.

Na entrada do prédio enorme e iluminado, anunciei meu nome com a voz firme. Mas o segurança franziu a testa.

— Não consta nenhuma Miranda na lista.

Meu estômago gelou.

— Isso não pode estar certo. Eu recebi o e-mail. Está aqui. — Mostrei a tela do celular.

Ele digitou no pequeno tablet, olhou, e apenas balançou a cabeça.

— Deve ter sido problema no sistema. Não estou achando nada aqui… mas acho que está tudo bem em deixar você entrar.

Meu coração quase saiu pela boca. Senti o chão se abrir sob meus pés. Mas respirei fundo.

Tudo bem… foi só um problema no sistema, nada demais.

Atravessei a porta com as pernas bambas, tentando manter a dignidade.

E então, vi.

Livros por todos os lados. Pôsteres, estantes, mesas cheias de escritores e leitores. Um paraíso. Meus olhos marejaram.

Alexa e Mariana sorriram, mesmo sem compartilhar da minha paixão. Elas estavam ali por mim.

Comecei a andar, olhando mesas, capas brilhantes, rostos desconhecidos. Perguntando-me se deveria ter trazido algumas cópias do meu livro.

E foi quando aconteceu.

Um arrepio frio desceu pela minha espinha, tão forte que meus passos pararam. Eu sabia o que era aquela sensação. Era a mesma do dia anterior, quando cheguei na cidade de Mariana e Alexa.

Olhei para frente.

E lá estava ele.

Um homem. Alto, parado entre a multidão. Os olhos cravados em mim.

Não piscava. Não desviava. Era como se fosse um predador… avaliando sua presa.

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