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Miranda Araújo.

O apartamento das minhas amigas não era grande, mas logo que entrei senti algo que não sentia a muito tempo… conforto.

Era diferente do caos da rodoviária, do barulho da cidade grande.

Ali havia algo que me fazia sentir em casa. As paredes com retratos delas em alguns cantos, móveis que não combinavam entre si, mas davam a sensação de lar, parecia que eu finalmente estava em um lugar que pertencia.

— É pequeno, mas é todo seu — disse Alexa, puxando as cortinas e deixando a luz fraca do fim da tarde entrar.

— Ehh… Aconchegante — respondi, sorrindo.

Caminhamos até o quarto que seria meu.

Havia uma cama de solteiro, uma escrivaninha simples e uma prateleira com alguns livros antigos, um guarda roupa pequeno também.

Talvez não fosse um quarto de visita, mas para mim, era mais que o suficiente.

Eu me joguei na cama, sentindo a madeira velha reclamar embaixo do colchão. Pela primeira vez desde que acordei naquele dia, relaxei.

— Vocês realmente moram aqui e trabalham na cidade vizinha? — perguntei, olhando para o teto.

Ana riu. Sempre apelidei Mariana de Ana.

— Morar aqui, trabalhar lá… A rotina é meio maluca, mas a gente se acostuma.

Alexa continuou.

— Cidade pequena tem disso. Todo mundo acha que é cansativo, mas, na verdade… até que é divertido.

Talvez elas só dissessem aquilo para me convencer, para que eu acreditasse que estava em boas mãos. Ainda assim, deixei que o sorriso delas me confortasse.

Contei, então, sobre o livro que estava escrevendo.

Sobre o concurso em que havia me inscrito. Graças às duas que haviam me falado sobre o concurso que havia sido divulgado recentemente. Por uma editora da cidade e da cidade vizinha.

Enquanto falava, percebi como meus olhos brilhavam, como alguém que realmente presta atenção, que se importa.

— Vai ser bom espairecer a cabeça. Ficar longe daquela agitação da cidade grande… e longe da minha avó.

Elas trocaram olhares cúmplices, como quem entendia mais do que dizia. Conheciam bem a minha avó.

Sabiam o quanto ela podia ser exigente, perfeccionista, sufocante. A mulher que nunca aceitava nada menos que o perfeito, que me cobrava como se eu fosse nada além de um item, objeto, não uma neta.

Alexa me puxou para um abraço apertado. Ana logo se juntou.

— Tudo vai dar certo, Miranda. Você vai ver. Tenho certeza que você vai ganhar esse concurso, você sempre foi focada e talentosa na escrita. — disse sorrindo para mim.

Suspirei fundo, tentando acreditar.

— Obrigada… — sorri de volta. — Vou procurar emprego amanhã… Prometo que não vou ser um peso pra vocês. Quero ajudar, dividir as despesas.

— Você nunca seria um peso — disse Ana, séria pela primeira vez no dia.

— Eu gosto de ser independente — completei, me explicando.

Quando elas me deixaram sozinha, arrumei minhas coisas no quarto.

Trouxe uma mala de roupas e outros acessórios que sempre estava comigo.

O álbum de fotos dos meus pais… tinha algumas lembranças deles.

Alguns livros de romance e com temas mais sombrios que adorava.

Coloquei os livros nas prateleiras, limpei a poeira. Troquei a roupa de cama, guardei minhas roupas.

Estava tudo arrumado.

O tablet na escrivaninha, ele era meu instrumento para escrever, já que não tinha um notebook.

Quando terminei, olhei pela janela, já era noite, algumas luzes iluminavam as ruas, mas estava tão silencioso. Não escutava sons de carro como em São Paulo, era até… estranho.

Eu poderia até continuar ali, aconchegada no pequeno quarto, mas uma inquietação me empurrou para fora.

Confesso que estava curiosa, me sentindo livre pela primeira vez em anos da minha vida.

Saí do quarto e fui até a sala, onde as meninas estavam.

— Vou dar uma volta — anunciei. — Quero ver como é a cidade à noite. — Coloquei um casaco, pois estava um pouco frio.

Elas me olharam com desconfiança, mas não insistiram, apenas disseram para tomar cuidado.

“ A cidade é pequena de qualquer jeito, não tem como você se perder” Brincou Ana me despedindo da porta.

Sai, andando pelas ruas da pequena cidade, e para minha surpresa, estavam mais vivas do que eu imaginava.

Na avenida principal poucas pessoas passavam por ali, havia bares com luzes de néon, restaurantes cheios de risadas, turistas entrando e saindo como se aquilo fosse um ponto obrigatório em qualquer viagem.

A cidade era pequena, sim, mas parecia ser muito maior à noite.

Caminhei devagar, observando as mesas cheias, o cheiro de comida escapando pelas portas.

Por um instante, senti algo que não experimentava há muito tempo, a vida.

Era como se tivesse saído de uma longa dormência.

Mas enquanto continuei caminhando distraída, a lembrança da reportagem mais cedo me pegou desprevenida.

As imagens das garotas, os detalhes sobre o possível assassino em série. Um arrepio percorreu meu corpo novamente.

Olhei para trás no mesmo instante. Ninguém.

Pelo menos, ninguém visível.

Tentei rir de mim mesma.

“Ainda bem que não estou mais em São Paulo”, pensei. “ Estou bem longe de toda aquela loucura…”

A sensação, no entanto, voltou.

Um peso atrás de mim, era como se algo queimasse em minha nuca.

Droga… maldita paranoia.

Meus passos aceleraram.

Sim, só podia ser paranoia.

Respirei fundo e, antes que minha mente me enlouquecesse, entrei no primeiro lugar que vi.

Um restaurante.

Assim que pisei lá dentro ouvi uma música suave, vi mesas ocupadas por casais, famílias.

O cheiro de vinho e pratos típicos que eu desconhecia.

Eu estava segura ali, ao menos queria acreditar nisso.

Andei devagar entre as mesas, indecisa sobre onde me sentar.

Foi então que notei um cartaz pregado no fundo do salão:

“Estamos contratando.”

Meus olhos se arregalaram…

Isso era sério?

Era uma coincidência?

Ou o destino?

Não soube dizer.

Mas então… meus lábios se curvaram… eu sorri, animada com a idéia.

Talvez, finalmente, uma boa coisa estivesse acontecendo.

Eu poderia ter um emprego…

Finalmente essa caminhada, valeu a pena.

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