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9. A queda da máscara e a salvação

O ar na mansão Calegari estava pesadíssimo nos dias que se seguiram ao confronto no jardim de inverno. Jessica vivia sob uma nuvem de pavor constante, esperando a cada momento ser chamada ao escritório de Luigi e sumariamente demitida, ou pior. Isabella Moretti, por outro lado, desfilava pela casa com um ar de triunfo mal disfarçado, tratando Jessica com um desprezo glacial e aberto, como se sua vitória fosse apenas uma questão de tempo. Ela parecia saborear cada olhar de escárnio, cada oportunidade de fazer Jessica se sentir pequena e insignificante.

Luigi, no entanto, era um enigma. Mantinha uma distância fria e impessoal de Jessica, como antes, mas havia uma diferença sutil. Seus olhos, antes vazios ou irritados, agora a observavam com uma intensidade perscrutadora, quase analítica, quando ele achava que ela não estava olhando. A ameaça que ele fizera – "as consequências serão severas" – pairava sobre Jessica, mas a ausência de uma ação imediata por parte dele era, em si, uma fonte de ansiedade e uma minúscula, quase louca, fagulha de esperança. Será que uma semente de dúvida, por menor que fosse, havia sido plantada?

Isabella, talvez sentindo que precisava consolidar sua posição e eliminar Jessica de vez, começou a pressionar Luigi de forma mais incisiva. Jessica a ouvia, em conversas "casuais" mas audíveis, queixando-se da "incompetência" de certos empregados, da "falta de lealdade" que sentia pairar no ar, e da necessidade de Luigi assinar "aqueles papéis da Innovare" para que pudessem "finalmente seguir em frente com seus planos conjuntos". Essa insistência, em vez de tranquilizar Luigi, pareceu alimentar a pequena chama de desconfiança que as palavras desesperadas de Jessica haviam acendido.

Luigi começou a fazer suas próprias investigações discretas. Pediu a seu advogado de maior confiança, Dr. Arruda, um homem grisalho e astuto que servia à família Calegari há décadas, para analisar com um pente fino todos os contratos e propostas da Innovare Participações e qualquer ligação com a "Soluções Patrimoniais Vértice" ou um certo "Silas Medeiros". Ele não mencionou Jessica; apenas alegou uma "diligência de rotina" antes de finalizar grandes investimentos.

Enquanto isso, Jessica sentia o tempo se esgotar. A frase que ouvira – "transferências até o fim do próximo mês" – era um relógio implacável em sua mente. O jantar daquela noite, que Luigi mencionara como uma formalidade para "finalizar alguns acordos pendentes com os Moretti", a enchia de um pavor crescente. E se fosse hoje? E se o documento final fosse assinado naquela noite?

Movida pelo desespero, ela sabia que precisava de mais. A foto da anotação de Luigi era circunstancial demais. Lembrou-se que Isabella, em suas visitas, às vezes usava um pequeno escritório no segundo andar para fazer suas ligações e "resolver pendências". Era uma aposta arriscada, quase suicida, mas Jessica sentia que não tinha outra escolha.

Naquela tarde, enquanto Isabella estava no spa da mansão – um luxo que ela exigira recentemente –, Jessica, fingindo limpar o corredor, certificou-se de que ninguém estava por perto e entrou sorrateiramente no pequeno escritório. O laptop de Isabella estava sobre a mesa, fechado. Ao lado, uma agenda elegante. Com as mãos trêmulas, abriu a agenda. Anotações sobre o baile, compras, jantares... e, no dia do jantar daquela noite, uma anotação em letras maiúsculas: "NOITE DA VIRADA! L.C. assina o ADENDO FINAL Innovare. G.M. confirma transferência Vértice."

L.C. Luigi Calegari. G.M. Giovanni Moretti. Adendo Final. Aquilo era a confirmação. A fraude se concretizaria naquela noite.

Seu sangue gelou. Precisava mostrar aquilo a Luigi. Mas como?

Nesse instante, ouviu passos no corredor. Isabella! Voltando mais cedo do spa. Jessica entrou em pânico. Não havia tempo para sair sem ser vista. Olhou ao redor, desesperada. A única opção era se esconder atrás das cortinas pesadas que cobriam a janela. O tecido grosso a ocultou no exato momento em que Isabella entrou no escritório, falando ao celular.

"...sim, papai, está tudo sob controle. O jantar hoje à noite é apenas uma formalidade. Luigi está um pouco mais... questionador ultimamente, mas nada que um pouco de charme e pressão não resolvam. Ele vai assinar. E então...", Isabella riu, uma risada fria e triunfante. "Então a Innovare, e por extensão a Calegari, será efetivamente nossa. A Vértice já está pronta para receber os primeiros fluxos."

Jessica prendeu a respiração, o coração batendo descontroladamente. Era a prova definitiva, ouvida da boca da própria Isabella.

Isabella desligou o telefone e sentou-se à mesa, abrindo o laptop. Jessica esperou, imóvel, por longos minutos que pareceram horas, até que Isabella se levantou e saiu novamente, talvez para se arrumar para o jantar.

Assim que teve certeza de que estava sozinha, Jessica saiu de seu esconderijo, as pernas bambas. Pegou a agenda de Isabella e, com uma audácia que nem ela sabia que possuía, arrancou a página com a anotação comprometedora. Dobrou-a e guardou no bolso do uniforme. Sabia que era roubo, sabia que as consequências poderiam ser terríveis, mas a ruína de Luigi parecia um mal muito maior.

O tempo era seu inimigo. O jantar começaria em poucas horas.

Esperou até o momento em que Luigi desceu para o salão principal, impecável em seu traje de noite, mas com uma expressão sombria. Os primeiros convidados, incluindo Giovanni Moretti e sua esposa, já estavam na sala de estar, conversando animadamente com Isabella, que brilhava em um vestido esmeralda.

Jessica se aproximou de Luigi, ignorando os olhares fulminantes de Isabella e a surpresa de Dona Matilde.

"Senhor Calegari", ela disse, a voz baixa, mas firme, carregada de urgência. "Preciso lhe mostrar uma coisa. Agora. É sobre o que eu lhe disse. Sobre esta noite."

Luigi a encarou, a irritação inicial dando lugar à curiosidade ao ver a seriedade mortal no rosto de Jessica. Algo na determinação dela o fez hesitar.

"Aqui não, Jessica", ele disse, olhando ao redor. "Venha ao meu escritório."

Isabella tentou intervir. "Querido, nossos convidados..."

"Um momento, Isabella", Luigi a cortou, um tom de autoridade em sua voz que fez Isabella recuar, surpresa e irritada.

No escritório, com a porta fechada, Jessica entregou a Luigi a página arrancada da agenda de Isabella. "Eu sei que o Senhor não acreditou em mim. Mas isto... isto é da agenda dela. E eu a ouvi hoje à tarde, confirmando tudo com o pai. Eles pretendem que o Senhor assine um 'adendo final' da Innovare esta noite, e isso vai... vai dar a eles o controle. As transferências para a Vértice já estão prontas."

Luigi pegou o papel, os olhos percorrendo as palavras. Seu rosto empalideceu visivelmente. A anotação, junto com as informações que seu advogado, Dr. Arruda, havia começado a lhe passar naquela tarde – sobre a estrutura suspeita da Innovare, a reputação duvidosa de Silas Medeiros e as dificuldades em rastrear a Soluções Patrimoniais Vértice –, começou a pintar um quadro terrível. As peças se encaixavam. A insistência de Isabella. A pressão de Giovanni. Os relatórios excessivamente otimistas. A lembrança da foto que Jessica havia tirado de seu próprio caderno de anotações dias antes, que ele havia descartado como loucura, agora retornava com força total.

A máscara de Isabella, aquela fachada de noiva perfeita e parceira de negócios, começou a ruir na mente de Luigi. A sinceridade desesperada de Jessica, suas advertências consistentes, agora faziam um sentido horrível.

"Onde... onde você conseguiu isso?", ele perguntou, a voz rouca, apontando para a página.

"Não importa agora, Senhor", Jessica disse, os olhos suplicantes. "O que importa é que o senhor não pode assinar nada esta noite. Eles estão enganando o Senhor!"

Nesse momento, a porta do escritório se abriu abruptamente e Isabella entrou, seguida por um Giovanni Moretti com uma expressão preocupada.

"Luigi, o que está acontecendo? Por que essa demora? E o que essa empregadinha está fazendo aqui de novo?", Isabella exigiu, a voz estridente.

Luigi levantou os olhos da página da agenda, e o olhar que dirigiu a Isabella era um que ela nunca tinha visto antes: frio como o ártico, cortante como vidro quebrado.

"Estávamos apenas discutindo alguns... 'adendos finais', Isabella", ele disse, a voz perigosamente calma. Ele estendeu a página para ela. "Esta caligrafia... é sua, não é?"

Isabella olhou para o papel e seu rosto perdeu toda a cor. O pânico brilhou em seus olhos por um instante fugaz antes que ela tentasse se recompor. "Isso... isso não é nada! É um absurdo! Essa garota deve ter falsificado isso! Ela roubou minha agenda!"

"Roubou? Ou apenas expôs a verdade que você tem se esforçado tanto para esconder?", Luigi retrucou, a voz subindo de tom. "Dr. Arruda passou a tarde me mostrando coisas muito interessantes sobre a Innovare. Sobre a Vértice. Sobre um certo Silas Medeiros. Coisas que, curiosamente, se alinham perfeitamente com o que a Jessica aqui tem tentado me dizer."

Giovanni Moretti deu um passo à frente. "Luigi, meu caro, deve haver algum mal-entendido. Essas são acusações graves..."

"Graves, de fato, Giovanni!", Luigi explodiu, a fúria controlada finalmente rompendo. "Graves ao ponto de quase me levarem à ruína! Ao ponto de usarem sua própria filha para me manipular!" Ele se virou para Isabella, o desprezo em seu rosto era palpável. "O teatro acabou, Isabella. A máscara caiu."

Isabella começou a gaguejar, tentando negar, mas a evidência em sua própria caligrafia e a mudança na postura de Luigi eram inegáveis. Sua arrogância habitual havia desaparecido, substituída por um medo crescente.

Luigi pegou o telefone. "Dr. Arruda, por favor, venha à mansão imediatamente. E traga todos os documentos que levantou sobre a Innovare e os Moretti. Sim, a festa acabou."

Ele desligou e olhou para Jessica, que observava tudo, pálida e exausta, mas com um brilho de alívio nos olhos. A expressão de Luigi era uma mistura complexa de choque pela traição, gratidão hesitante e um profundo horror ao perceber o quão perto chegara de perder tudo – e o quão cego fora.

"Jessica...", ele começou, a voz agora mais suave, quase cansada. "Fique. Nós... precisamos conversar. Depois que essa bagunça for limpa."

A salvação imediata havia chegado. A fraude fora interrompida antes do golpe final. E Jessica, a empregada invisível, foi a chave para tudo. O futuro ainda era incerto, o escândalo seria imenso, mas naquela noite, Luigi Calegari havia sido salvo da ruína. E ele sabia a quem agradecer.

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