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A investigação silenciosa

A suspeita, uma vez plantada, fincou raízes profundas na mente de Jessica. A imagem de Luigi, tenso e preocupado com os negócios da "Innovare Participações" e com a família Moretti, assombrava seus pensamentos. A dor de seu próprio coração ferido começou a ceder espaço para um novo tipo de angústia – o medo de que o homem que ela, apesar de tudo, ainda amava em segredo, estivesse caminhando para uma armadilha.

Com uma determinação recém-descoberta, Jessica transformou sua rotina de trabalho em uma discreta operação de vigilância. Seus olhos, antes focados em evitar o patrão e sua noiva, agora estavam mais alertas do que nunca, captando detalhes que antes passariam despercebidos. A limpeza do escritório de Luigi, dos quartos de hóspedes que Isabella por vezes utilizava, ou das áreas comuns após as visitas da família Moretti, tornou-se uma oportunidade para observar, para escutar, para tentar encontrar qualquer peça que se encaixasse no quebra-cabeça perturbador que se formava em sua cabeça.

Seus primeiros passos foram hesitantes, movidos mais pela intuição do que por um plano concreto. Enquanto esvaziava as lixeiras do escritório de Luigi, examinava com um cuidado disfarçado os papéis amassados. Eram, na maioria das vezes, rascunhos sem importância, lembretes de reuniões. Mas, certa vez, encontrou um pequeno post-it com um nome – "Silas Medeiros" – e um número de telefone que ela não reconheceu. Guardou a informação mentalmente, sem saber se teria alguma utilidade.

Isabella tinha o hábito de fazer longas ligações "privadas" no terraço dos fundos, um local mais isolado da mansão. Jessica começou a "coincidir" a limpeza das janelas da sala adjacente com esses momentos. O som era abafado pelo vidro, mas ela conseguia, por vezes, captar o tom irritado de Isabella, ou palavras soltas em italiano que reforçavam sua desconfiança: "prazo final", "transferência", "ele não pode saber ainda". Eram fragmentos, mas alimentavam sua crescente apreensão.

O risco era palpável. Em uma dessas ocasiões, enquanto tentava disfarçar seu interesse na conversa de Isabella no terraço, a própria noiva de Luigi entrou abruptamente na sala, quase flagrando Jessica com o ouvido mais atento do que o normal.

"Perdeu alguma coisa por aqui, empregada?", Isabella perguntou, a voz gélida, os olhos azuis semicerrados, faiscando desconfiança.

"N-não, senhora Moretti. Apenas... limpando o vidro", Jessica gaguejou, o coração disparado, sentindo o rosto queimar. Isabella a encarou por mais um longo e desconfortável momento antes de dar de ombros com desdém e sair, mas o aviso silencioso havia sido dado. Isabella estava atenta.

Dona Matilde, com sua percepção aguçada, também pareceu notar a mudança sutil no comportamento de Jessica. "Anda muito pensativa ultimamente, menina", comentou certo dia, enquanto Jessica organizava a rouparia. "E um pouco... distraída. Lembre-se, esta casa exige foco total."

Jessica apenas murmurou um pedido de desculpas, mas sabia que precisava ser ainda mais cuidadosa. Estava sozinha naquela empreitada silenciosa. Confidenciar suas suspeitas a alguém era impensável. Quem acreditaria nela, uma simples empregada, contra a palavra de Isabella Moretti, a noiva socialite do poderoso Luigi Calegari? Seria demitida, talvez até acusada de calúnia. O medo era um companheiro constante, mas a imagem de Luigi, vulnerável e possivelmente enganado, a impelia para frente.

A pequena descoberta que realmente acendeu o alerta vermelho veio de uma forma inesperada. Isabella havia passado a tarde na mansão, reunida com Luigi e, posteriormente, com seu pai, Giovanni Moretti, que fizera uma visita. Após a saída dos Moretti, Jessica foi encarregada de arrumar a sala de reuniões privativa que eles haviam utilizado. Sobre a mesa de conferências, entre xícaras de café vazias e blocos de anotações, havia uma caneta-tinteiro de luxo, claramente esquecida. Ao lado, um pequeno cartão de visitas de uma empresa chamada "Soluções Patrimoniais Vértice", com um endereço em um paraíso fiscal conhecido. Jessica estranhou. O nome era diferente da "Innovare Participações", mas por que um cartão desses estaria ali, em uma reunião sobre os negócios Calegari-Moretti?

Com as mãos trêmulas, pegou seu celular e, disfarçadamente, fotografou o cartão antes de colocá-lo junto à caneta, para que fosse devolvido a quem pertencera. Mais tarde, em seu quarto, pesquisou o nome "Silas Medeiros". Descobriu que ele era um advogado conhecido por se especializar em... empresas offshore e planejamento tributário complexo. Uma coincidência? Ou mais uma peça?

A hostilidade de Isabella para com ela também aumentava. Pequenas armadilhas eram deixadas. Um objeto de valor "perdido" em um local onde apenas Jessica havia limpado, apenas para ser "encontrado" depois por Isabella com um olhar acusador. Comentários venenosos feitos na presença de Luigi sobre a "incompetência" ou a "curiosidade excessiva" de certos empregados. Luigi, estressado e cada vez mais consumido pelos problemas da "Innovare", parecia não dar muita atenção, mas o desgaste emocional em Jessica era imenso.

O ponto de virada, o momento em que a suspeita se tornou uma certeza aterradora, aconteceu numa noite chuvosa, semelhante àquela em que Luigi havia se mostrado vulnerável. Isabella estava na mansão, e Luigi havia se recolhido ao escritório mais cedo, alegando dor de cabeça. Jessica estava terminando suas tarefas na ala leste quando ouviu a voz de Isabella vindo da pequena biblioteca que ficava naquela ala, um cômodo raramente usado. Parecia estar em uma chamada de vídeo, a voz ligeiramente alterada pelo viva-voz do laptop.

"Pai, ele está começando a desconfiar dos relatórios da Innovare", dizia Isabella, a voz tensa, mas baixa. "Aquele contador dele é um cão farejador. Precisamos acelerar a fase três da Vértice antes que ele comece a cavar demais. As transferências precisam ser concluídas até o fim do próximo mês."

O coração de Jessica parou. Vértice. A empresa do cartão. Fase três. Transferências.

"Não se preocupe, filha", a voz de Giovanni Moretti soou metálica e distante pelo alto-falante. "Silas já está cuidando de tudo. O importante é manter Luigi calmo e assinando o que precisa. Continue com o teatro da noiva apaixonada. Uma vez que tivermos acesso majoritário aos ativos da Calegari através da Innovare e das outras fachadas, ele não poderá fazer nada. Será tarde demais."

"E se ele descobrir antes?", a voz de Isabella traía uma ansiedade incomum.

"Não vai. Ele está cego pela pressão dos negócios e, convenhamos, um pouco encantado por você, apesar de tudo. E mesmo que suspeite, não terá provas concretas até que nosso plano esteja concluído. Apenas continue o bom trabalho, querida. O império Calegari será nosso."

Jessica sentiu o chão sumir sob seus pés. Um frio gelado percorreu sua espinha. Era pior do que imaginara. Não era apenas um mau investimento ou uma pequena falcatrua. Era um plano arquitetado, meticuloso, para enganar Luigi, para tomar o controle de suas empresas, para destruí-lo financeiramente. E Isabella, a noiva "perfeita", era a peça central daquele golpe.

Recuou lentamente, o som do sangue pulsando em seus ouvidos abafando o da chuva lá fora. As mãos tremiam tanto que ela teve que se apoiar na parede para não cair. Aquele conhecimento era dinamite pura. O que ela faria com aquilo? Como poderia alertar Luigi? Ele acreditaria nela, uma simples empregada, contra a noiva que, apesar das tensões, ele ainda parecia minimamente tolerar e que sua família apoiava? Isabella e Giovanni Moretti eram perigosos, e não hesitariam em esmagá-la se ela se metesse no caminho.

O peso daquela informação era esmagador. O medo a paralisava, mas sob o medo, uma centelha de fúria e uma determinação ainda maior se acenderam. Não podia ficar parada. Não podia deixar que destruíssem Luigi daquela forma. Ele podia tê-la magoado, podia tê-la afastado, mas não merecia ser traído e arruinado por aquelas víboras.

Naquela noite, Jessica não dormiu. A conversa que ouvira ecoava em sua mente, cada palavra cravando-se mais fundo. O segredo que carregava agora não era mais sobre um coração partido ou um amor impossível. Era sobre um crime, sobre uma conspiração que poderia levar Luigi Calegari à ruína. E ela, Jessica Souza, a empregada invisível, era a única que parecia saber a verdade devastadora. A questão que a aterrorizava era: o que fazer agora?

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