108. O corredor da incerteza e a linguagem dos gestos
A mudança de Luigi da distante ala de hóspedes para um dos quartos na ala principal da mansão foi um evento silencioso, mas com o peso sísmico de uma mudança de eras. Sob o olhar atento e esperançoso de Dona Matilde, ele transferiu seus poucos pertences para o novo aposento, um quarto elegante, mas impessoal, que ficava a poucos metros do corredor que levava à suíte de Jessica e aos quartos das crianças. A distância física havia diminuído drasticamente, mas o abismo emocional entre ele e Jessica permanecia, agora talvez ainda mais vertiginoso por conta da proximidade.
As primeiras noites foram uma tortura para ambos. Luigi, deitado em sua cama, ouvia os sons da família que ele quase destruíra: o riso de Jessica em uma conversa ao telefone com sua mãe, a melodia suave de uma canção de ninar que ela cantava para Gabriel, os passos dela no corredor. Cada som era uma faca em seu coração, um lembrete do paraíso do qual ele ainda era um exilado, mesmo estando a poucos metros de distância. S