Rahmi Já faz três meses que só me comunico com minha Pérola Negra por telefone e vídeo. Por mais que a tecnologia nos aproxime, nada se compara ao toque, ao cheiro e à presença física dela. Sinto falta de sua pele contra a minha, do seu calor, dos nossos momentos íntimos que vão muito além de uma chamada de vídeo. A saudade tem sido uma companheira constante e cruel. Minha irmã e eu fomos convidados para o casamento do meu amigo Roberto com Camila, no Brasil. Nathifa ficou animada com a viagem, confirmou presença sem pestanejar. Ahmed também vem, acompanhado da nova namorada será a primeira vez que os dois pisarão em solo brasileiro. No momento, estamos a caminho do Rio de Janeiro. No avião, percebo que minha irmã está mais calada do que o normal. Estranho, considerando o entusiasmo dela com essa viagem. Mas, para ser honesto, minha atenção está em outra direção. Só consigo pensar nela. Rebeca. A mulher que virou meu mundo de cabeça para baixo. Quero abraçá-la, beijá-la, tê-la em me
Rebeca Todas estávamos nos preparando com capricho. Meu vestido era longo, elegante, com um decote em V que valorizava minhas costas. Letícia usava um modelo idêntico, mas em outro tom, igualmente deslumbrante. O par dela seria o irmão de Camila, que mora fora do Brasil e veio exclusivamente para o casamento da meia-irmã. Ele é casado, tem dois filhos, mas a esposa não pôde comparecer. Assim que terminamos, fomos ajudar a noiva, grávida e radiante. Ela estava linda, com um brilho especial que só a maternidade proporciona. Os convidados já estavam acomodados em seus lugares. Virei para Nathifa e perguntei: — Ele já chegou? — Claro que sim. — Será que vai surtar me vendo com outro? — Com toda certeza, cunhada — respondeu com um sorriso malicioso. Vitor apareceu animado: — Vocês estão um espetáculo! Rebeca, minha doçura, você está de tirar o fôlego. — Pelo amor de Deus, não me chama assim na frente do meu turco, ou você sai daqui sem dentes. — E sem os olhos — completou Nath
Rebeca Dois meses. Esse foi o tempo exato desde a última vez que falei com Rahmi. Ou melhor, desde a última vez que tentei. Ele simplesmente parou de responder. E quanto mais o silêncio se prolonga, mais me pergunto: por que eu deveria continuar tentando? Por que me preocupar com alguém que claramente não se importa? Voltei a dançar. Confesso que exagerei um pouco na bebida naquela noite nada que me deixasse fora de mim, apenas o suficiente para relaxar, deixar as preocupações de lado e me sentir viva por algumas horas. — Que tal irmos para outro lugar? — sugeri, animada. — Aquele barzinho com aquele peixe delicioso. Estou com uma vontade absurda de comer. — Tá bom, grávida! — brincou Victor, rindo alto. — Credo, vira essa boca para lá, homem! — retruquei, revirando os olhos. Chegamos ao bar, que era bem mais calmo do que o agito da Lapa. A iluminação suave e o ambiente acolhedor faziam dele o lugar perfeito para conversas sinceras o tipo de conversa que a gente evita por orgulh
Rebeca Ainda estou com raiva. Dois meses se passaram e continuo sem responder as mensagens da Rebeca. Viajei até o Rio de Janeiro só para vê-la. Pedi que faltasse ao trabalho para ficarmos juntos, mas, contrariando meu pedido, ela foi com a promessa de que voltaria logo. Só que demorou uma eternidade. Ela me deixou ali, consumido pela frustração. Eu só queria aproveitar cada segundo com ela. Será que não entende que sou completamente apaixonado? Que estava morrendo de saudade? Vivemos em continentes diferentes, nos vemos por vídeo, e mesmo assim ela achou aceitável me deixar sozinho. Fiquei tão irritado que voltei para o hotel e decidi não falar mais com ela naquele momento. Estava tomado por emoções demais — e sabia que acabaria dizendo coisas imperdoáveis. No dia seguinte, ignorei todas as tentativas dela de contato. Até mesmo no casamento em que estivemos, me recusei a reconhecê-la. Ela pediu desculpas, e eu fingi que não ouvi. Claro que isso a deixou furiosa. Mas ela me feriu p
Rahmi Depois de escovar os dentes, ela voltou para a cama com passos lentos e sensuais, os cabelos ainda úmidos caindo pelas costas. Seus olhos encontraram os meus, e naquele instante, o amor que eu sentia por Rebeca me atingiu com tanta força que o ar pareceu desaparecer por alguns segundos. Minha intenção era apenas abraçá-la e dormir com ela nos meus braços, mas Rebeca tinha outros planos. Deitou-se de costas para mim, e aos poucos, começou a se mover, roçando o corpo quente contra o meu. Sua pele macia, seu perfume adocicado, e aquele rebolado provocador... ela sabia exatamente o que estava fazendo. — Amor, dá pra parar de me provocar? — murmurei com um sorriso de canto, sentindo a tensão crescer dentro de mim. Ela não respondeu com palavras, apenas continuou sua dança silenciosa, insinuante, deliciosa. Era o suficiente para me tirar do controle. Segurei sua cintura e a virei com firmeza. Nossos olhares se cruzaram por um segundo antes que eu tomasse sua boca com urgência. O
Rebeca Fazer uma surpresa para o meu turco foi maravilhoso. Ver o sorriso dele iluminando o rosto me encheu de alegria. Como sempre, a conexão entre nós foi arrebatadora, como se o universo inteiro conspirasse para nos manter colados um ao outro. Ele é tudo que uma mulher poderia desejar: lindo, encantador, carinhoso... e perigosamente possessivo. Nunca conheci alguém tão ciumento. Quando seus olhos verdes se fixam em mim, parece que ele me possui só com o olhar. Sinto um arrepio na espinha. Amo tanto esse homem que, às vezes, chego a perder o ar só de pensar nele. Mas ultimamente, meu coração anda apertado. Ontem à noite, ele teve uma febre repentina. Tentei convencê-lo a procurar um médico, mas ele insistiu em seguir viagem a trabalho. Isso me revolta. Ele já tem dinheiro suficiente para parar agora mesmo, mas vive se desgastando como se estivesse correndo contra o tempo. Será que vale a pena sacrificar a saúde? Vê-lo doente e insistente me deixou inquieta. No meio da tarde, Nat
Rebeca Maldito preconceito. Respirei fundo e encarei o teto do quarto. Meu coração, mesmo cheio de amor, estava em guerra com a realidade. E a realidade, às vezes, não perdoa. Não é só pela cor da pele. A barreira é muito mais profunda: cultura, raça, status social. É como se o mundo tivesse sido projetado para afastar pessoas que se amam por razões que não deveriam importar. No caso da família do Rahmi, o preconceito parece vir em camadas. Não gostam de negros, tampouco do Brasil. E eu me pergunto... o que, exatamente, eles têm contra o meu país? Para piorar, Rahmi está claramente doente, fragilizado. E seus pais, ocupados demais com aparências e tradições, parecem incapazes de notar. É revoltante. Eles olham tanto para si mesmos que esquecem de ver o próprio filho. Meus pensamentos foram interrompidos pelo som inesperado da campainha. Estranhei. A recepção não avisou ninguém. Imaginei que fosse Nathifa. Mas, ao abrir a porta, dei de cara com um casal bem vestido, com a postura
Rahmi Dois dias longe da minha Pérola Negra e já estou tomado pela saudade. É inacreditável como não consigo mais viver sem essa mulher. Tenho que pedi-la em casamento logo, quero tê-la comigo para sempre. Não me importa se meus pais não aceitam nosso relacionamento, o que realmente importa é que eu a aceitei, que ela é minha desde o momento em que a vi, sambando e me deixando completamente louco. Eu sei que não estou bem. Meu corpo está coberto de hematomas e a febre voltou, mas nada disso importa agora. Preciso vê-la. Fui direto para o hotel, entrei no meu elevador particular, ansioso para abraçá-la. Mas, ao chegar no quarto, senti um frio na espinha. Estava vazio. As roupas dela, que deveriam estar no guarda-roupa, tinham sumido. O que aconteceu com o meu amor? Ela me prometeu que estaria aqui, esperando por mim. Por que não está? O aperto no peito só piorou quando vi uma carta sobre a cama. Peguei o envelope com mãos trêmulas, abrindo-o sem sequer prestar atenção em mais nad