Vittoria tenta se soltar, mas os dedos de Vincenzo apertam seu braço como algemas. Seus pés tropeçam no próprio vestido, sendo forçados a acompanhar o ritmo acelerado que ele impõe.
Em um último impulso de desespero, ela olha por cima do ombro, a tempo de ver Giuliano sacar a arma, os olhos em chamas.
E, mais ao longe, seu pai faz o mesmo, caminha com pressa pelo jardim, o olhar cravado nos dois como se cada passo fosse um aviso silencioso de que o sangue pode ser derramado a qualquer instante.
— Me solta. — Vittoria ordena, a voz baixa, mas carregada de firmeza. Puxa o braço com força, forçando Vincenzo a parar. — Ao menos me permita me despedir da minha família.
— Você os verá amanhã. — Vincenzo responde, seco, retomando o controle ao agarrar seu braço com firmeza, como se o assunto estivesse encerrado.
— Por favor, Vincenzo. — Implora, a voz embargada, enquanto é arrastada pelo jardim. — Me deixa fazer isso, só isso. — Insiste, virando-se por instinto, os olhos encontrando os de seu pai e irmão, agora a poucos passos, avançando.
— Faça logo. — Ordena, parando abruptamente. — Mas escute bem, se um deles ousar sequer respirar perto de mim, eu transformo esse jardim em um cemitério. E te prometo, cara mia, o sangue derramado não será o meu. — Completa, soltando-a com um gesto brusco, os olhos faiscando de irritação.
Vittoria cambaleia para trás, o impacto da ameaça ainda vibrando em sua pele. Sem pensar, recua na direção do pai e do irmão.
— Por tudo que é mais sagrado, não façam isso. — Vittoria implora, a voz embargada, enquanto se lança entre eles com o corpo trêmulo. — Se vocês reagirem, ele atira. — Sussurra, lutando para manter o controle.
— Ele não vai puxar gatilho nenhum, ragazza. — Alfonso afirma, envolvendo a filha em um abraço firme, enquanto encara Vincenzo com olhar ameaçador. — Esse figlio di puttana só está blefando, querendo bancar o poderoso às nossas custas.
— E o que ele pretende fazer com você? — Giuliano pergunta, a voz grave e marcada pela culpa, carregada de uma impotência sufocante.
— O que você imagina que um homem faça com a própria esposa, caro? — Vincenzo provoca, movendo-se lentamente na direção de Giuliano, um sorriso ácido marcando o canto dos lábios. — Relaxe, Don Alfonso. Prometo cuidar da sua principessa tão bem que ela jamais vai esquecer meu sobrenome.
— Se você ousar tocar um fio de cabelo dela…
— Don Alfonso, aceite o inevitável, agora ela é minha esposa. — Interrompe, enquanto inclina levemente a cabeça, como se prestasse um favor em explicar o óbvio. — E como o senhor bem sabe, na Máfia levamos nossos votos a sério: até que a morte nos separe. — Faz uma breve pausa, o sorriso frio desenhando-se no rosto. — Imagino que não tenha interesse em recebê-la de volta, não é mesmo? Afinal, nesse caso, ela retornaria em um caixão.
— Basta uma palavra, Don Alfonso. — Giuliano dispara, com os olhos fixos e a mandíbula tensa, enquanto aperta a pistola com força. — Apenas diga, e eu resolvo tudo agora.
— Isso é realmente tentador, Giuliano. — Vincenzo comenta, pousando a mão nas costas de Vittoria com a calma de quem sabe que está no controle. — Mas, infelizmente, papà não aprovaria, não aqui. Seria grosseiro sujar o jardim, ainda mais diante dos convidados. — Prossegue, a voz baixa, impassível. — Os ratos, como bem sabe, preferem agir nas sombras. — Faz uma pausa breve, como quem saboreia o próprio sarcasmo. — Seu tempo acabou. Andiamo. — Finaliza, segurando a mão de Vittoria e virando as costas, encerrando a conversa como quem fecha uma porta sem intenção de abrir de novo.
— Don Alfonso? — Giuliano insiste, a voz tensa, os olhos fixos em Vincenzo, que se afasta levando sua irmã.
— Não é assim que se vence uma guerra, Giuliano. — Alfonso responde, entre os dentes, os olhos fixos nas costas de Vincenzo.
O impulso de sacar a arma e explodir os miolos daquele bastardo pulsa em suas veias, mas ele se contém.
Sabe que guerras não se ganham com raiva e sim com sangue-frio e estratégia.
Assim que atravessam os portões que dão acesso à rua, um carro preto já os espera. O motorista, ao avistá-los, apressa-se em abrir a porta.
Com um gesto cortês, Vincenzo estende a mão para ajudá-la, mas, como era de se esperar, ela recusa.
Apoia-se na lateral da porta e entra sozinha no automóvel, mantendo intacto o pouco de orgulho que ainda lhe resta.
— Como quiser, cara mia. — Vincenzo murmura, com um leve sorriso no canto dos lábios, enquanto contorna o veículo e assume seu lugar ao lado dela.
O carro se põe em movimento, e Vittoria acompanha com o olhar os veículos que os escoltam, à frente e atrás, como uma muralha móvel.
Permanece em silêncio, o rosto voltado para a janela, recusando qualquer contato visual.
Agora que estão sozinhos, longe do último vestígio de segurança que conhecia, ela sente o peso do silêncio entre eles.
Não sabe o que dizer, nem como agir. Tudo ao seu redor parece estranho e ele, ainda mais imprevisível.
Após longos minutos na estrada, o carro cruza os portões de uma extensa propriedade privada.
Homens armados patrulham o local, postados a cada ponto estratégico, como peças de um xadrez sombrio.
O veículo segue em silêncio por uma alameda cercada de árvores meticulosamente podadas, até parar diante de uma mansão imponente.
Antes mesmo que o motor cesse por completo, o motorista já está do lado de fora, apressando-se em abrir a porta para ela com uma formalidade quase ensaiada.
Vincenzo desce com calma e, por um instante, permanece parado, observando em silêncio as costas dela, como um predador estudando sua presa.
Em um movimento firme e inesperado, ele se aproxima e a ergue nos braços sem aviso.
Um grito escapa dos lábios de Vittoria, tomado pelo susto e pela violação brusca do pouco controle que ainda julgava ter.
— Me coloca no chão! — Vittoria exige, a voz carregada de raiva e humilhação, enquanto se debate nos braços dele.
As mãos o empurram, os pés chutam o ar, mas Vincenzo não cede nem por um segundo.
Caminha com passos firmes em direção à porta, indiferente à revolta dela, como se carregar sua esposa, contra a vontade, fosse apenas parte do ritual.
— Benvenuta a casa, signora Lucchese. — Vincenzo murmura, a voz arrastada, carregada de sarcasmo, enquanto ignora por completo os protestos dela.
A porta se abre diante deles, e ele cruza o limiar da mansão como quem reivindica o que é seu, sem pressa, sem remorso, como se o mundo lá fora já não importasse.
— Por que você está fazendo isso? — Pergunta, a voz tensa, lutando para se soltar dos braços dele.
Mas não recebe resposta. Vincenzo continua caminhando em silêncio, subindo as escadas com passos firmes, como se ela não tivesse dito uma única palavra, como se estivesse muda em seus braços.
As portas do quarto se abrem e, assim que os pés dela tocam o chão, Vittoria recua instintivamente, dando alguns passos para trás.
Com uma calma irritante, Vincenzo leva a mão para o interior do paletó, sem desviar os olhos dela por um segundo sequer.
Quando puxa uma faca, o brilho do metal corta o ar entre eles e o coração de Vittoria dispara, como se pressentisse que nada ali está sob controle.
— Vamos começar a diversão. — Vincenzo murmura, a voz baixa, quase um sussurro rouco, enquanto caminha lentamente na direção dela.
Vittoria recua instintivamente, o peito subindo e descendo em ritmo acelerado.
Quando seus calcanhares tocam a beira da cama, ela perde o equilíbrio e cai de costas, os cabelos se espalhando sobre o colchão como um convite não intencional.
Vincenzo se inclina sobre ela com lentidão calculada, o sorriso mais perigoso do que qualquer arma.
— Está tremendo, principessa, mas eu mal comecei. — Continua, a voz roçando o ouvido dela, quente como o próprio fôlego.
Com uma calma quase cruel, Vincenzo desliza a faca rente ao rosto dela, sem encostar de fato na pele, somente o suficiente para que Vittoria sinta o frio do metal e o peso do controle em cada centímetro percorrido.
A lâmina desce lentamente, traçando um caminho insinuante pelo pescoço até alcançar o busto do vestido.
Então, em um único gesto preciso, o tecido se rasga sob o corte, sem que ele desvie os olhos dos dela por um segundo sequer, firme, provocador, irrefutável.
— Quero ouvir mais do que protestos esta noite, especialmente quando eu te fizer gemer. — Sussurra, a voz rouca, arrastada, como uma promessa perigosa que desliza direto até a pele.