A Volta do Provocador

O calor de Revieras parecia ainda mais intenso naquele fim de tarde, quando o carro preto de luxo parou em frente ao hotel mais requintado da cidade. As portas se abriram lentamente, revelando um homem de terno alinhado, cabelos escuros perfeitamente penteados e um sorriso debochado no rosto. Miguel Góes tinha acabado de voltar ao país após três anos em Londres, onde comandava uma filial da empresa da família. Mas não fora apenas o trabalho que o trouxera de volta — ele tinha ouvido falar de rumores, de nomes, e de um certo amigo que estava irreconhecível.

— E então… onde está o CEO mais orgulhoso que conheci? — murmurou para si mesmo, puxando a mala enquanto entrava no saguão. — Aposto que ainda não sabe o que perdeu.

Horas depois, no restaurante panorâmico do hotel, Ethan chegou com o blazer pendendo no ombro, ar visivelmente cansado e a expressão ainda carregada de emoções mal digeridas. Desde que voltara do evento da família Castro — onde Ema revelara sua verdadeira identidade e deixara claro que não era mais Lina — algo dentro dele estava em constante guerra. Ele não sabia se estava enlouquecendo… ou se a mulher que vira no palco era a mesma que ele havia amado e perdido anos atrás.

— Ethan Sanchez — anunciou Miguel em tom teatral, levantando-se da mesa com um copo de uísque na mão. — Continua atrasado, arrogante e carrancudo. Nada mudou.

— Miguel? — Ethan sorriu com a surpresa. — Quando chegou?

— Há algumas horas. Londres estava um tédio. E além disso, soube que a tempestade chamada “Ema” pode ter voltado à cidade.

Ethan encarou o amigo, olhos semicerrados.

— Você também viu o rosto dela?

— Vi mais que o rosto. Vi o fogo nos olhos. E confesso: nunca entendi por que você a deixou escapar — disse Miguel, provocativo, enquanto tomava um gole do uísque. — Mas agora que ela voltou... talvez eu mesmo tente a sorte.

Ethan largou o casaco com força na cadeira.

— Nem brinca com isso.

— Ah, é claro que estou brincando, seu idiota — riu Miguel, levantando as mãos. — Mas se você não correr, alguém mais pode não estar brincando. A propósito, ela está hospedada aqui. Ouvi o nome na recepção. Ema Castro. Coincidência?

Ethan recostou-se na cadeira. A cabeça rodava. O nome “Ema Castro” agora fazia sentido. O segredo estava revelado, e ela estava mais perto do que jamais imaginara.

— Eu a vi, Miguel. Ela passou por mim como se eu fosse um estranho.

— Talvez seja isso que você tenha se tornado pra ela — retrucou o amigo, agora mais sério. — Mas, ei... você ainda a ama, não é?

Ethan não respondeu. Apenas lançou um olhar vazio em direção à janela envidraçada. Lá embaixo, as luzes da cidade começavam a piscar. Lá embaixo... talvez Ema estivesse rindo. Talvez estivesse fingindo que nunca o amou.

— Vai continuar sentado aí ou vai lutar por ela?

Enquanto isso, em outro andar do hotel, Ema caminhava descalça sobre o carpete, de taça na mão, observando a vista de Revieras. A cidade era a mesma, mas ela não. E por mais que mantivesse a frieza, a verdade era que estar tão perto de Ethan a fazia se sentir exposta.

— Ele estava lá, Lisa — sussurrou ao telefone. — Me olhou como se estivesse vendo um fantasma.

— Você é o fantasma dele, amiga. E agora tem o poder de fazer ele sofrer como te fez — respondeu Lisa do outro lado da linha. — Mas cuidado... fantasmas também sentem.

Ema riu de leve. Estava ferida, mas forte. E por mais que parte de si ainda ardesse de amor por Ethan, a outra parte queria vê-lo ajoelhar. Queria que ele sentisse o gosto amargo do desprezo.

— Ah, ele vai sentir — murmurou. — Mas antes... vou me divertir um pouco.

Na manhã seguinte, Ethan entrou no saguão do hotel vestindo sua melhor armadura de CEO: terno escuro, olhar cortante, presença imponente. Mas nada disso impediu que seu coração perdesse uma batida ao ver Miguel... sorrindo para alguém no café.

Ema.

Ela estava ali. Vestido branco esvoaçante, cabelo solto, óculos escuros. Linda. Serena. Indiferente.

E pior: rindo de algo que Miguel dizia.

— Bom dia, Ema Castro — disse Miguel, ao vê-lo se aproximar. — Você já conhece meu amigo? Ethan Sanchez?

Ela levantou lentamente os olhos por trás dos óculos, como se o estivesse vendo pela primeira vez. E então, com a frieza de uma rainha, respondeu:

— Já ouvi falar.

Miguel escondeu um sorriso de canto. Ethan cerrou os punhos.

O jogo estava prestes a começar.

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