(POV de Olivia)
No momento em que seus lábios colidiram com os meus, eu soube exatamente quem havia me agarrado. Era Ethan Stone. Meu companheiro. Meu algoz.
Meu medo inicial se dissolveu, transformando-se em determinação gelada. Eu empurrei seu peito, com toda a minha força.
— Ethan Stone, deixe-me ir... Você não tem direito de fazer isso! — Eu sibilei, lutando contra seu abraço poderoso.
Seus olhos cor de âmbar brilhavam perigosamente na luz fraca do SUV. A aura de Alfa dominante jorrava dele em ondas, deixando o pequeno espaço entre nós sufocante.
— Eu não tenho o direito? — Ele rosnou, seu rosto a centímetros do meu. — Você ainda é minha companheira, Olivia. Ou você esqueceu?
Eu me afastei dele, pressionando-me contra a porta.
— Nós terminamos, Ethan. Eu já deixei isso bem claro.
Sua risada era cruel, desprovida de humor.
— É por isso que você se encontrou com Victoria? Para discutir nosso status de relacionamento?
— Foi ela quem me convidou. — Cuspi. — Para exibir suas roupas e as marcas que você deixou no pescoço dela.
Ethan apertou o maxilar, e sua mão se moveu rapidamente, segurando meu queixo e me forçando a olhar para ele.
— Você tem um pouco de coragem. — Ele disse, com a voz perigosamente suave. — Mesmo depois do que você fez, cinco anos atrás.
A acusação me atingiu como um golpe físico.
— Eu nunca te droguei! Quantas vezes eu tenho que dizer isso?
Seus olhos se estreitaram, com descrença gravada em suas belas feições.
— Então, explique-me como acabei na sua cama, naquela noite.
— Eu já expliquei isso mil vezes. — Eu disse, com exaustão aparecendo em minha voz. — Você já estava drogado quando eu te encontrei.
O aperto de Ethan em minha mandíbula se tornou dolorosamente mais forte.
— E ainda assim você se aproveitou.
Eu afastei sua mão de meu rosto.
— Victoria sabe que terminamos. Por que você não pode aceitar isso também? Ou minha dor significa tão pouco para você?
Algo cintilou em seus olhos, uma incerteza, talvez. Mas desapareceu tão rapidamente quanto apareceu.
— Você está jogando o mesmo jogo que jogou há cinco anos. — Ele disse friamente. — Agindo inocentemente, fingindo ser a vítima.
Minha respiração parou enquanto uma dor familiar apunhalava meu coração. A lembrança daquela noite surgiu espontaneamente: Ethan tropeçando em meu lar, seus olhos desfocados, seus movimentos descoordenados.
— Eu nunca te droguei. — Eu sussurrei, as palavras pareciam vazias depois de anos de repetição.
Lembrei-me de tê-lo encontrado do lado de fora da minha porta, quase inconsciente. Eu poderia tê-lo deixado lá, e talvez até deveria ter feito isso. Mas eu não podia. Meu coração não me deixaria.
Eu o ajudei a entrar, dei-lhe água, tentei deixá-lo sóbrio. Quando ele desabou na minha cama, eu dormi no sofá.
Mas, a manhã seguinte trouxe acusações em vez de gratidão. Victoria, de alguma forma, o convenceu de que eu o tinha drogado para seduzi-lo. A verdade não importava. Nunca tinha importado.
— O que você quer, Ethan? — Eu perguntei, de repente, cansada demais para lutar. — Por que você está fazendo isso?
Ele zombou, e sua expressão endureceu.
— Você é quem está brincando comigo, Olivia. Encontrando-se com Victoria, desafiando minha autoridade.
— Eu não estou brincando...
O telefone de Ethan tocou, interrompendo minha resposta. O nome de Victoria apareceu na tela.
Ethan hesitou, seus olhos ainda fixos nos meus. Mas, a distração momentânea era tudo que eu precisava.
Levantei meu joelho com força, conectando-o solidamente contra sua virilha. Ethan se dobrou com um grunhido de dor, e seu aperto sobre meu corpo ficou mais frouxo.
Eu agarrei desesperadamente a maçaneta da porta, empurrando-a para abrir e caindo na garagem. Meu coração martelava contra minhas costelas enquanto eu corria para meu próprio carro, mexendo nas chaves.
Uma vez lá dentro, tranquei as portas, minhas mãos tremiam tanto que eu mal conseguia ligar o motor. Lágrimas turvavam minha visão quando saí da vaga de estacionamento, quase batendo em um pilar de concreto.
Eu tive um vislumbre de Ethan emergindo de seu SUV, com o rosto contorcido de raiva e dor. Nossos olhos se encontraram brevemente antes que eu acelerasse em direção à saída. Os pneus guincharam contra o concreto enquanto eu acelerava. Minha respiração veio em suspiros curtos e dolorosos.
Por que ele não podia acreditar em mim? Depois de todos esses anos, a mesma acusação ainda me assombrava.
Eu verifiquei o espelho retrovisor, meio que esperando ver seu SUV preto em perseguição. Mas não havia nada. Apenas a estrada vazia atrás de mim. O alívio tomou conta de mim, seguido imediatamente por uma tristeza esmagadora. Como chegamos a isso? No passado, Ethan olhava para mim com amor. Agora havia apenas suspeita e desprezo.
Enxuguei as lágrimas com a mão trêmula. Eu precisava me concentrar em dirigir, e não pensar nos restos despedaçados de nosso relacionamento.
A estrada diante de mim ficou borrada. E eu tive que parar, incapaz de continuar.
Meu telefone zumbiu com uma mensagem de texto. Eu meio que esperava que fosse de Ethan, mas era a Anciã Willow verificando se eu tinha chegado em casa em segurança.
Enviei uma resposta rápida, não querendo que ela se preocupasse. Como eu poderia explicar o que acabara de acontecer?
Respirando fundo várias vezes, me recompus. Eu não poderia desmoronar agora. Lily precisava que eu fosse forte. O pensamento de minha filha me estabilizou. Eu ganharia essa competição por ela. Nada mais importava. Com determinação renovada, voltei para a estrada. Ethan Stone não me quebraria novamente.
(POV de Ethan)
Assisti o carro de Olivia se afastar, enquanto a dor entre as pernas cedia lentamente. Com calma deliberada, caminhei até o Café ao Luar e sentei-me perto da janela.
Peguei um cigarro, acendendo-o com naturalidade. A fumaça subiu enquanto eu dava uma longa tragada, obscurecendo minha expressão do olhar dos curiosos.
Meu telefone continuou a tocar. E o nome de Victoria apareceu na tela.
— Alô? — Eu respondi, com a voz enganosamente casual.
— Ethan? — A voz preocupada de Victoria encheu meu ouvido. — Você está bem? Você parece estranho.
Eu dei outra tragada, observando a rua onde Olivia havia desaparecido.
— Estou bem.
— Você não parece bem. — Ela pressionou. — Onde você está?
— Café ao Luar. — Respondi, batendo cinzas em um cinzeiro.
Houve uma pausa do outro lado.
— Você estava com ela? — Victoria perguntou, com a voz de repente apertada.
Eu não precisava perguntar a quem ela se referia.
— Por que isso importa?
Victoria encheu os pulmões de maneira ruidosa.
— Você estava, não estava? Com Olivia.
Uma hora atrás, eu tinha mandado Victoria para casa no Recanto Matarrosa. Ela tinha sido melosa e exigente, insistindo que eu ficasse mais uma noite.
Mas recusei friamente, eu precisava de espaço para pensar. Minha mente estava cheia de pensamentos conflitantes sobre Olivia.
Agora a voz de Victoria tremia com ciúme mal disfarçado.
— Sinto muito pelo tumulto que causei no Café, Ethan. Eu não queria causar problemas.
— Você não queria? — Eu perguntei, com a voz endurecida.
— Não! Eu juro. — Ela insistiu. — Eu estava apenas preocupada com o Emmy. Você sabe o quão sensível ela é sobre... mudanças.
Permaneci em silêncio, dando outra longa tragada no cigarro. O gosto amargo combinava com meu humor.
Victoria sempre mencionava Emma quando ela queria me manipular. A criança me fazia de gato e sapato, e Victoria sabia disso.
— Ethan, por favor. — Victoria continuou, com a voz suavizando para aquele tom vulnerável que ela sabia que eu não poderia resistir. — Eu só quero o melhor para Emma. Para todos nós.
Fechei os olhos. A imagem do rosto desafiador de Olivia ainda queimava em minha mente. A dor em seus olhos cor de esmeralda me assombrava.
— Eu sei. — Eu disse. Finalmente, minha voz suavizava apesar de minhas emoções contraditórias. — Conversaremos mais tarde.
Encerrei a ligação, olhando para a rua vazia pela janela. Algo sobre a negação de Olivia parecia genuíno. A dor em seus olhos quando mencionei a noite de cinco anos atrás, parecia muito crua, real demais para ser fingimento.
Eu balancei a cabeça, descartando o pensamento. Victoria havia explicado tudo naquela época. Como Olivia planejara nos separar, para me prender em um relacionamento. Como ela tinha drogado minha bebida naquela festa. No entanto, a dúvida se insinuou como um hóspede indesejado. Victoria poderia ter mentido?
Não. Ela não faria isso comigo.
— Senhor? Você gostaria de pedir alguma coisa? — Uma garçonete esperava nervosamente, ao lado da minha mesa.
Acenei para ela, apagando o cigarro. A memória do cheiro de Olivia, de flores silvestres e chuva, permaneceu em minhas narinas, mexendo com algo primitivo em meu lobo.
Noah rosnou dentro de mim, confuso com as emoções conflitantes. Ele tinha reconhecido o cheiro de nossa companheira e queria persegui-la para reivindicá-la.
Mas o perfume de lavanda de Victoria se agarrou às minhas roupas, lembrando-me de minhas promessas a ela e a Emma. A garotinha que me chamava de 'papai', embora não compartilhássemos sangue.
Acendi outro cigarro, deixando a fumaça encher meus pulmões. A sensação de queimação me distraiu da turbulência interna.
O rosto de Olivia brilhou em minha mente novamente. A maneira como ela tinha se comportado no hospital, implorando para que eu acreditasse que Lily estava morta. Mas, eu me recusei a aceitar. Nossa filha não poderia estar morta. Olivia estava escondendo-a, me punindo por minha proximidade com Victoria.
Mas... E se...?
Não.
Eu esmaguei o pensamento, antes que ele pudesse se formar completamente.
O café ficou mais silencioso à medida que a tarde se transformava em noite. Sentei-me sozinho com o copo vazio diante de mim, uma testemunha silenciosa de minha luta interna.
Depois que terminei o cigarro, voltei para o carro novamente, indo para a casa de Victoria.