(POV de Olivia)
Victoria sorriu docemente, enquanto enfiava a mão na bolsa, mais uma vez. Então, ela tirou mais roupas de Ethan, deliberadamente colocando uma cueca no topo da pilha.
— Ele estava com tanta pressa esta manhã... — Ela disse com um suspiro teatral. — É que a pobre Emma não queria que ele fosse embora.
Olhei para as roupas, meu rosto cuidadosamente vazio, apesar de sentir como se uma faca fosse torcida em meu coração. Victoria inclinou a cabeça, expondo o pescoço onde marcas frescas de um chupão eram claramente visíveis contra sua pele pálida.
— Ele sabe ser bastante... apaixonado, não sabe? — Ela tocou as marcas delicadamente. — Embora eu tenha certeza de que você ainda se lembra.
Pensei em Lily, em seu rostinho olhando para mim, enquanto perguntava por que seu pai nunca ia vê-la. A memória endureceu algo dentro de mim.
— Leve isso de volta para Ethan, você mesma. — Eu disse, com a voz fria e firme. —Minha casa não é um depósito de lixo para itens indesejados.
O sorriso de Victoria vacilou ligeiramente.
— Não seja tão hostil, Olivia. Você ainda é a companheira dele, tecnicamente. Pelo menos até o divórcio.
— Não haverá divórcio. — Respondi, empurrando as roupas de volta para ela. — Porque, para começo de conversa, nunca fomos casados, tecnicamente.
Seus olhos se arregalaram, com surpresa genuína.
— Do que você está falando?
— Ethan e eu tivemos uma cerimônia de acasalamento, não um casamento legal. A matilha reconheceu nosso vínculo, mas legalmente? Não temos laços.
As unhas perfeitamente cuidadas de Victoria tamborilavam contra a mesa.
— Isso não pode ser verdade. Você é a Luna.
— Eu nunca fui oficialmente reconhecida como Luna. Verifique os registros da matilha, se você não acredita em mim.
Antes que Victoria pudesse responder, um cheiro familiar encheu o café. Era sândalo e pinho. Meu coração, traiçoeiramente, falhou uma batida em meu peito.
Ethan se aproximou de nossa mesa, sua presença poderosa chamava a atenção de todos no café. Seus olhos cor de âmbar estavam fixos em mim e irradiavam raiva.
O comportamento de Victoria mudou instantaneamente. Seus ombros se curvaram ligeiramente, fazendo-a parecer menor e mais vulnerável.
— Ethan. — Ela disse, com voz suave e trêmula. — Por favor, não fique com raiva. Olivia não me ameaçou.
Quase ri do absurdo. Quantas vezes eu tinha assistido àquele exato cenário? Victoria me provocava e depois, quando Ethan aparecia, se fazia de vítima.
— Estou de saída. — Anunciei, levantando-me. — Já que essas roupas pertencem ao Sr. Stone, Srta. Frost, você deve cuidar delas, você mesma. Afinal, o melhor lugar para o lixo é com quem o coleta.
Eu me virei para sair, mas a mão de Ethan se moveu e seus dedos envolveram meu pulso com força inconfundível.
— Precisamos conversar. — Ele rosnou, com voz baixa o suficiente para que só eu pudesse ouvir.
— Solte-me. — Eu disse, tentando me libertar.
Mas, seu aperto apenas se tornou mais forte.
— Não até que você explique o que está fazendo aqui com Victoria.
— Ela me convidou. — Respondi, com os dentes cerrados. — Pergunte a ela você mesmo.
Os olhos de Ethan piscaram para Victoria, que enxugou lágrimas imaginárias com um guardanapo.
— Eu só queria devolver suas coisas. — Ela sussurrou. — Achei que era a coisa certa a fazer.
Mais uma vez, tentei libertar meu pulso.
— Deixe-me sair!
Em vez de me soltar, Ethan começou a me arrastar para a saída. Seus dedos pressionaram minha carne com força contundente.
— Pare com isso! — Eu sibilei, lutando contra seu aperto. — Você está me machucando!
Ele ignorou meus protestos, continuando a me arrastar pelo café. A pressão no meu pulso aumentou, ameaçando esmagar meus ossos delicados. Eu estava prestes a usar minha mão livre para me defender, quando Victoria fez um barulho alto, como se engasgasse. Ela apertou o peito e desabou em uma cadeira próxima, seu rosto se contorcendo em aparente angústia.
— Victoria? — A atenção de Ethan mudou imediatamente. Ele soltou meu pulso e correu para o lado dela.
— Estou bem. — Ela sussurrou com voz fraca, inclinando-se para o toque dele. — Apenas... um pouco tonta.
Ethan se agachou ao lado dela, seu rosto se contorceu de preocupação.
— Devo ligar para o Dr. Bennett?
Olhei para o meu pulso, onde as marcas vermelhas dos dedos de Ethan apareciam. As marcas em minha pele deixavam claro quais eram suas prioridades. Sem outra palavra, me virei e saí do café.
A luz do sol brilhante do lado de fora parecia uma zombaria ao meu humor sombrio. Entrei no meu carro, e minhas mãos tremiam enquanto eu segurava o volante.
Dirigi até o Shopping Lua Crescente, desesperada para me concentrar em algo diferente da cena que acabara de deixar. O Caderno de Esboços Crystal Design e Lápis de Madeira da Lua que eu precisava para a próxima Competição de Cristais de Cura estariam disponíveis lá.
Esta competição era minha única esperança agora. Eu precisava do prêmio em dinheiro para comprar um lugar adequado para depositar as cinzas de Lily.
Eu tinha visitado mais de trinta locais, uma semana antes, mas cada um tinha me deixado mais desanimada do que o anterior. Um local de descanso adequado, digno do espírito de minha filha, custava uma nota preta e eu não tinha esses fundos à minha disposição.
Andando pelo shopping, refleti amargamente sobre minha situação financeira. Ethan havia fornecido um subsídio mensal, que parecia generoso no início. Eu até consegui poupar um pouco. Mas quando Lily adoeceu, as economias desapareceram rapidamente.
Ethan se recusava a reconhecer a gravidade de sua condição. ‘Ela só está um pouco doente’, ele dizia com desdém. ‘Pare de exagerar.’
Para garantir fundos para seus tratamentos, fui forçada a mentir. Inventei consultas com especialistas, tratamentos experimentais e terapias. Mas cada mentira me dilacerava, aumentando minha culpa e o sofrimento de Lily.
— Sinto muito, querida. — Eu sussurrava para ela, enquanto ela estava deitada em sua cama de hospital. — Papai está muito ocupado. Ele virá te ver em breve.
Agora, eu estava determinada a fornecer a Lily um local de descanso final adequado, sem precisar envolver Ethan. Eu ganharia o dinheiro com meu próprio talento.
— Olivia? É você, querida?
Eu me virei para a voz familiar. A Anciã Willow estava perto de uma loja de cristais e seus olhos sábios brilharam ao me ver.
A Anciã Willow foi minha mentora durante meu treinamento de curandeira. Ela reconheceu meu talento com cristais de cura quando ninguém mais o fez.
— Anciã Willow. — Cumprimentei, sentindo um sorriso genuíno se formar em meus lábios, pela primeira vez em semanas.
Ela me abraçou calorosamente, seu cheiro de sálvia e flores da lua era reconfortante.
— Eu estive pensando em você, criança. Como você está se saindo?
A pergunta simples, feita com preocupação genuína, quase rompeu algo dentro de mim. Eu pisquei para conter as lágrimas.
— Eu estou... levando. — Respondi cuidadosamente.
Mas, a Anciã Willow estudou meu rosto.
— Você vai se inscrever na Competição de Cristais de Cura este ano?
Eu balancei a cabeça, afirmativamente.
—Eu estava prestes a comprar suprimentos.
— Isso é maravilhoso! — Os olhos dela brilharam de entusiasmo. — Sua compreensão das propriedades dos cristais sempre foi excepcional, Liv.
O apelido familiar, usado por tão poucos, aqueceu algo dentro de mim.
— Você se lembra daquele pingente de cura que você criou em seu último ano? Aquele que poderia reduzir a febre em filhotes de lobo? — A Anciã Willow apertou minha mão. — Você tem um dom, minha querida. Você deveria usá-lo.
Ela se inclinou para mais perto, sua voz caindo para um tom de conspiração.
— O prêmio do primeiro lugar deste ano será bastante generoso.
Pela primeira vez, em semanas, senti uma onda de esperança.
Depois de comprar os suprimentos, fui para o estacionamento subterrâneo. Minha mente já estava fervilhando com ideias de design para a competição.
Ao passar por um SUV preto elegante, uma mão de repente se estendeu do banco de trás. Dedos fortes agarraram meu pulso, puxando-me para dentro com uma força surpreendente.
Antes que eu pudesse gritar, a porta se fechou. Eu me vi presa ao assento de couro, e o corpo de um homem se pressionava contra o meu.
Eu lutei instintivamente, golpeando repetidamente com minha sacola de compras contendo os lápis.