Capítulo 4
— Por quê?

A pergunta simples, mas cortante, acendeu a raiva em Marina. Ela gritou, os olhos cheios de fúria:

— Por quê? Porque você não sabe o seu lugar! Sua mãe morreu faz anos, e você continua se agarrando à fortuna da família Vidal como se fosse sua! Tudo aquilo era pra ser meu! Você é filha de uma amante! Que direito você tem de viver no luxo como se fosse legítima?

Lívia conseguia aguentar qualquer coisa. Menos ver a memória da mãe sendo manchada.

Avançou de repente, até ficar cara a cara com Marina. Sua voz saiu apertada pelos dentes, carregada de dor:

— A minha mãe não era amante. Quando ela se casou com o meu pai, ela nem sabia que você e a sua mãe existiam. Foram vocês que empurraram ela até a morte, passo a passo!

Marina não esperava a reação. Sem pensar, levantou a mão para bater nela.

Mas, naquele instante, a porta da sala se abriu com força.

Do canto do olho, Marina viu Otávio entrando. Rápida, pegou um punhado de castanhas da bandeja e enfiou na boca.

No segundo seguinte, o corpo dela desabou mole no chão, e a voz saiu abafada, falsa:

— Lívia... Por que você me forçou a comer isso? Você sabe que eu sou alérgica a castanha...

Otávio correu até ela. Sem hesitar, empurrou Lívia com força para o lado.

Ela cambaleou, caiu contra a mesa de centro.

Com um estalo seco, os copos se quebraram. Os estilhaços de vidro cortaram as mãos de Lívia, fazendo o sangue escorrer.

Mas Otávio nem olhou para ela.

Ajoelhou-se ao lado de Marina e a segurou nos braços, com o rosto tenso:

— Marina, você está bem?

Com os olhos marejados, Marina se agarrou no braço dele, fraca:

— Eu só queria conversar com a Livinha... Não sei o que eu fiz pra irritar ela. De repente, ela me forçou a comer aquilo. Olha pra mim, Otávio... Vê se já estou toda empolada...

Otávio baixou os olhos.

E ali estava: manchas vermelhas começaram a se espalhar pelo corpo de Marina, visíveis a olho nu.

— E agora? A recepção ainda não acabou, eu não posso envergonhar você. Maquiagem... Isso, eu preciso cobrir com maquiagem!

Otávio apertou o pulso de Marina com força e falou entre os dentes:

— Você ainda está pensando nisso? Olha a situação! Vamos. Eu vou te levar ao hospital.

Ele a pegou nos braços. Antes de sair, lançou um olhar frio e cortante para Lívia.

Lívia se levantou com dificuldade, ignorando a dor. O sangue continuava a escorrer das mãos, manchando a barra do vestido em questão de segundos.

Mas ela não sentia dor. Era como se tivesse caído num abismo tão fundo que seu corpo já não lhe pertencia mais.

Chamou um dos garçons e pediu uma caixa de primeiros socorros. Com os dedos tremendo, lutou para fazer um curativo nas feridas.

Depois de tudo, estava exausta. Cada passo parecia pesar toneladas.

Decidiu ir embora. Mal entrou no corredor, algumas sombras surgiram do nada. Antes que pudesse reagir, foi puxada à força para um depósito ao lado.

Uma mão grande e áspera agarrou seu queixo com violência, obrigando-a a levantar o rosto.

Na mesma hora, um jato de spray de pimenta de alta concentração foi esguichado direto em sua boca.

Os olhos de Lívia se arregalaram de terror.

Ela, assim como Marina, tinha alergia severa. Desde pequena, era extremamente sensível a pimenta.

Aquela quantidade... podia matar.

— N-não... pa...

Tentou resistir, debater-se. Mas não lhe deram chance alguma.

Uma dose. Depois outra. Mais outra.

O líquido ardente descia pela garganta feito fogo. Lívia começou a se engasgar. O rosto ficou vermelho como brasa. O corpo inteiro se contorcia em espasmos violentos.

As mãos feridas arranhavam o chão com desespero, deixando um rastro de sangue e arranhões e um som áspero e assustador de fricção contra o piso.

Ao verem o estado miserável de Lívia, aqueles homens não só não pararam, como passaram a insultá-la ainda mais, com vozes cheias de desprezo:

— A Marina é a mulher que o Otávio carrega no coração. E você teve a ousadia de encostar nela? Já olhou no espelho pra ver quem você é?

— Dizem que você vivia sendo humilhada na faculdade. Aposto que já foi rodada por todos os tipos de homem. O Otávio, com o nível dele, ia querer uma vadia suja como você?

— Bebe logo essa pimenta toda. Considera isso uma desculpa pra Marina. Se não fizer, vai se arrepender.

A visão de Lívia começou a escurecer. A consciência se esvaía, pouco a pouco.

Com as últimas forças que lhe restavam, quase sem perceber, murmurou o nome dele:

— Otá...

Mal a palavra saiu, risadas estridentes explodiram acima dela.

— Hahaha! Você ainda acha que o Otávio vai te salvar?

— Foi ele mesmo que mandou a gente fazer isso. Depois do que você fez com a Marina, ele é o primeiro que quer ver você morta!

— Vamos rasgar essa roupa toda, tirar umas fotos bem caprichadas e mandar pra ele. O Otávio vai adorar!

Os homens se jogaram sobre ela. Em segundos, o vestido de Lívia foi reduzido a pedaços.

Enquanto ela agonizava, sem forças para reagir, tiraram várias fotos, uma após a outra dela — até que, finalmente, Lívia não resistiu mais e desmaiou completamente.

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