Capítulo 5
Quando Lívia voltou a si, estava deitada numa cama de hospital.

Otávio estava sentado ao lado, com o notebook no colo, trabalhando. Como se tivesse sentido o movimento dela, levantou os olhos.

Os olhares se encontraram. Ele soltou um leve suspiro, quase imperceptível, mas a voz continuou fria, firme:

— Gostou de sentir na pele o que é ser humilhada? Espero que isso te sirva de lição. E que não volte a procurar confusão com a Marina.

Lívia virou o rosto para o outro lado, em silêncio.

Uma lágrima escorreu pelo canto do olho, sem nenhum som.

Antes, ela via Otávio como uma salvação.

Mas agora, olhando bem, o que ele fazia com ela não era diferente daquilo que os agressores da faculdade faziam.

Otávio encarou a garota calada na cama.

Por algum motivo, algo nele se contraiu por dentro.

Ela tinha inveja. Atacou Marina. Estava apenas colhendo o que plantou.

Mesmo assim, por que ver aquela lágrima doía tanto?

Foi então que a porta se abriu, e uma enfermeira entrou:

— Sr. Otávio, o ar-condicionado do quarto da Srta. Marina parou de funcionar...

Otávio franziu a testa:

— Se quebrou, manda consertar. Vai me avisar por causa de uma bobagem dessas?

— Já chamamos a manutenção, mas só chega daqui a uma hora. Ela está sentindo muito frio, e o hospital não tem quarto vago pra trocar.

Ao ouvir isso, Otávio se levantou de imediato.

— Que tipo de hospital é esse? Um ar-condicionado leva uma hora pra consertar? A Marina tem saúde frágil, não pode passar frio. Deixa ela vir pra cá. Troca com a Lívia.

— Mas... — A enfermeira hesitou, olhando para a cama.

Lívia tinha alergia severa a pimenta, e havia sido forçada a ingerir uma grande quantidade. Embora estivesse fora de risco imediato, o esôfago e a mucosa do estômago continuavam gravemente lesionados. Qualquer mudança poderia colocar tudo a perder.

Mas Marina só tinha comido um pedaço de bolo de castanha. Depois de algumas injeções antialérgicas, já estava melhorando.

Para Otávio, no entanto, tudo o que Lívia tinha passado parecia não ter importância alguma.

— Tá esperando o quê? Se a Marina pegar um resfriado, esse hospital fecha as portas!

Com a ordem dita nesse tom, a enfermeira não teve escolha.

Logo em seguida, Lívia foi transferida para o quarto de Marina.

Otávio ficou com Marina. Lívia ficou sozinha. Deitada naquela imensa enfermaria vazia, o olhar perdido no teto.

Ao lembrar de tudo o que tinha vivido nos últimos dias, não aguentou mais segurar. As lágrimas começaram a cair, uma atrás da outra.

E, no meio do choro, sentiu um frio repentino.

Levantou os olhos. O ar-condicionado estava ligado, soprando rajadas contínuas de vento gelado.

Naquele instante, tudo fez sentido.

Marina nunca esteve com frio. Nunca houve ar-condicionado quebrado.

Ela tinha inventado tudo aquilo só para trocar de quarto com Lívia, para ver ela ali, sozinha, se contorcendo de frio. Era a maneira dela de descontar a raiva, de se vingar.

A temperatura do quarto foi caindo pouco a pouco. Lívia sentia o frio se infiltrando nos ossos, nos músculos, fazendo até os dentes tremerem.

Tentou chamar ajuda. Mas a garganta estava inchada, não saía som algum.

Esticou a mão para alcançar o botão de emergência. O braço, fraco, não aguentou. Depois de alguns segundos, caiu de novo sobre o lençol.

Tomada pelo desespero, encolheu o corpo o máximo que pôde, tentando preservar o último calor que ainda restava.

Não sabia quanto tempo passou. Mas, enfim, alguém notou que ela estava ali — esquecida num quarto que mais parecia um castigo.

Quando Lívia conseguiu abrir os olhos com esforço, o que viu foi o rosto de Marina, distorcido por um sorriso cruel.

— Lívia, olha só pra você. Está igual a um cão sem dono. Otávio fez tudo isso só pra me ajudar a me vingar de você. Te quebrou até o fundo da alma, e agora todo mundo tem as fotos da sua humilhação. Estão se divertindo às suas custas. Ah, e sabe o melhor? Uma produtora de filmes pornôs entrou em contato comigo. Querem saber se você topa ser a protagonista do próximo filme. Hahahaha... — Marina ria alto enquanto falava.

Quando se cansou, agarrou com força o ponto mais ferido do braço de Lívia e apertou sem piedade.

O sangue espirrou de imediato.

Lívia viu tudo escurecer.

— Agora você deve ter entendido, né? Quem ele ama de verdade. Se tiver um pingo de noção, assume logo que sua mãe era amante. E depois some da minha frente. Só de olhar pra sua cara já me dá enjoo.

O brilho nos olhos de Lívia desapareceu, engolido por um vazio profundo.

Sumir?

Ela sumiria, sim.

Muito em breve, partiria para longe.

E dessa vez, seria pra nunca mais voltar.
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