Capítulo 1

6 meses antes…

A torcida naquelas arquibancadas gritava como se fosse a final de um jogo mundial. Bandeiras, líderes de torcida, jogadores a flor da pele. Os campeonatos de futebol entre faculdades eram disputados até o último suor cair. O fim de ano era marcado pela rivalidade e disputa acirrada, e naquele ano o time de Ronny Tornneght ganhou com maestria, seu time havia treinado, se fortalecido e levado a melhor. 

Dentro do campo, Ronny não se via como o herdeiro de um grupo de empresas famoso e milionário, mas como um garoto normal tentando ganhar sua própria fama, e não havia coisa melhor que ser aclamado por seus esforços. Seu time, sua faculdade… e finalmente sua namorada.

— Você foi incrível – Ela o abraçou fortemente, o suor não lhe incomodava  quantas vezes já o tocou assim. As pessoas ao redor também não iriam lhe impedir de beijá-lo.

— Todos os gols foram para você. Eu te amo. – De todas as formas, ela quem o incentivou para sua glória. 

Gritos de vitória cercaram o casal. O ano tinha sim finalizado com grande estilo, quem sabe no ano que vem, a faculdade rival consiga sua tão esperada primeira vitória.

A comemoração foi dada pelo capitão em sua casa em uma festa que fechou todo o condomínio. Quem seria louco de ir contra o sobrenome forte? Música alta, bebidas, loucuras, jovens "sendo felizes" por uma noite, uma noite longa e cheia de segredos.

Junto ao nascer do sol, o homem mais velho daquela casa sentou na cama procurando por suas roupas antes de levantar e ir até a janela, uma pequena fresta da cortina foi erguida para conferir o estrago da noite passada por seu jardim e piscina. Certamente ele reclamaria se fosse em outra época, mas entendia a felicidade dos jovens pela vitória junto ao fim do semestre e ano novo se aproximando. Não iria lhe deixar mais pobre pagar por aquilo.

E claro, deixar que seu filho fizesse aquela grande festa, também deixaria as portas de sua casa abertas para Clarisse Evan, a garota que só via em seus olhos… e a namorada do filho. 

Desde que a conheceu, deixou claro para o mundo inteiro que não a queria com seu filho, nem na sua família e nem perto de si… mas a verdade é que que a queria… não apenas perto, não apenas na família, mas na sua cama.

— Querido… – Ele deixou a cortina para encarar a mulher em sua cama — Acordou mais cedo? Pretendo dormir mais um pouco, viajaria em poucas horas.

— Fique à vontade.

 Não que o fizesse feliz ver sua namorada de duas semanas agir como se fosse dona de sua cama, mas não iria impedi-la de dormir mais depois de tudo que fizeram na noite passada. Entendia seu cansaço. 

Saiu do quarto depois de um banho quente, o sábado lhe prometia uma visita em sua fazenda preferida, uma corrida de cavalos com seus sócios, até mesmo apostas e saídas mais tarde, então, claro que ele iria está de pé mais cedo que o planejado, dando susto nas empresas que de apressaram para arrumar tudo. 

Desejar bom dia, ou responder a esse cumprimento também não lhe custava muita coisa, mas nem todos tinham isso.

A mesa estava recheada, ainda tinha muita gente em sua casa?

— Bom dia senhor, Tornneght, gostaria de algo mais para o café?

— Muitos convidados ainda? 

— Você concordou com isso. – Antes que sua governanta pudesse responder, o herdeiro de Vicent apareceu na cozinha. Tinha um sorriso no rosto e assim que tirou os óculos, riu mais ainda mostrando duas olheiras – E não tem muita gente. Apenas os amigos que conhece e que não tem medo de você ficaram para dormir.

— E porque teriam medo de mim? Sou algum tipo de Monstro? – Não encarou o garoto que rodou a mesa para se sentar ao lado direito, mas prestou atenção na agenda oferecida por sua governanta. — O motivo da festa foi a vitória do time?

— Achei que tivesse assistido. – Vincent balançou a cabeça fazendo o outro achar graça — Tá tudo bem, eu sei que tem muita coisa para fazer. Mas a vitória foi nossa. 

— Não espero menos do meu filho. Você é incrível. 

— É, eu sei. Minha namorada me disse isso ontem.

O mencionar daquela garota alertou o homem na mesa que rapidamente deixou o Tablet se lado mandando que a mulher se afastasse apenas com um aceno, sorriu para mais um novo tomando seu café tranquilamente. 

O sangue gelou a sentir o arrepio na pele. Não, ele não sabia quando o desejo por aquela garota apareceu de verdade, mas desde que foi apresentada, o olhar, o toque entre suas mãos  aquilo o deixava incerto de como agir. 

— Palavras de uma garota que gosta de agradar a quem espera algo grande. 

— Você não vai começar a falar mal da Clarisse, você não a conhece.

— E como iria conhecer se não a vejo? – E era bem melhor assim.

— Você já deixou claro que não gosta do meu namoro, e em nenhuma das festas que pude levar você a tratou bem. Ela não é de uma família rica, mas é uma pessoa legal.

— Ela não está a sua altura.

Ronny pensou em responder, mas logo a garota apareceu na sala chamando sua atenção, e a de Vicent também.

E como chamava atenção.

Não entendia como uma garota branquela, com olhos grandes e verdes e o cabelo liso e preto passando de sua cintura feito um penteado tão simples quanto suas roupas e a bolsa jogada de qualquer jeito podia lhe interessar tanto.

Era a voz doce?

O olhar inocente?

O amor que mostrava ter por seu filho?

Os lábios finos?

O sorriso?

Ou olhar brilhante que era lançado em sua direção quando ninguém estava olhando?

— Amor, você poderia ficar mais um pouco, não te acordei porque achei que dormiria mais. – Ronny foi ao seu encontro.

— Tudo bem. Preciso ir pra casa, meus pais devem estar me esperando para o café e claro, não quero atrapalhar.

— Você não atrapalha – Embora estivesse falando com seu namorado, o olhar era direcionado ao homem sentado. O olhar frio, desconfiado. — Não é, pai?

Parou ao lado da moça e encarou o pai da mesma forma, não obteve qualquer resposta.

— Então eu te levo. Não me custa nada.

— Você bebeu noite passada, sua amiga consegue chegar em casa sozinha. – Vicent levantou com toda sua elegância se aproximando dos mais jovens — E você precisa se vestir, vamos até a fazenda.

— Pai…

— Vá se trocar. Vamos sair em alguns minutos. 

— Está tudo bem, meu amor. É só eu pedir um táxi. – Não havia muito o que fazer, Vicent era a autoridade maior naquela casa e ninguém poderia ir contra. 

Se despediu do namorado logo o vendo sumir de sua vista. Tornou a encarar Vicent. Ele não parecia tão velho para ser rabugento ou grosso como se mostrava.

— Foi bom vê-lo. – Embora soubesse que não havia chances de agradar o pai do namorado, jamais o trataria mal. 

— Não posso dizer o mesmo. – Ela assistiu abrindo um sorriso, um sorriso que deixou todas as armas daquele homem travadas. Não podia tratá-la mal. Não quando o caminho estava livre. — Mandarei que alguém a leve para casa.

— Eu posso me virar sozinha como você mesmo disse. – Deu as costas para ir embora, porém, parou quando o escutou outra vez.

— Você não tem que fazer nada. Aceite minha boa ação. Não faço isso com frequência. Mas um pai sabe o que fazer para deixar seu filho feliz.

— Ah você sabe? – Virou apenas para olhá-lo — Então, porque não gosta de mim? Não vou fazer mal a ele. Eu sou uma pessoa legal.

E era mesmo, afinal, depois de ser tratada mal, ela jamais deixaria sua educação de lado, respeitava os mais velhos e sabia exatamente quando tinha que partir.

Porém, o olhar daquele homem em sua direção vinha com tantas pontas soltas, que só em encará-lo, sentia todas suas forças irem embora. Para uma estudante de direito, seus argumentos jamais deviam acabar, mas sua boca travava na presença dele. 

Ainda mais o vendo se aproximar, como um leão pronto para dar o bote. Tão alto e charmoso… Não, charmoso não.

— Você não merece meu filho. – Disse em tom ameaçador. — Você é só uma garota que está tentando descobrir coisas novas, e com ele, não terá nada. 

— Eu tenho vinte e dois anos. Não estou tentando descobrir nada. – Para a surpresa da garota, Vicent acabou rindo, um sorriso brilhante e quente. — Só quero ser feliz, e seu filho também.

— Enquanto estiverem juntos, você jamais terá a chance de ser feliz. – Ele se aproximou mais, a ponto de sentir o cheiro doce que vinha dela. 

Suas mãos saíram de dentro dos bolsos e até ergueram para tocá-la, mas jamais isso. Todas as duas ações foram observadas por Clarisse que por um momento achou que seria enforcada e assassinada, mas nada aconteceu. 

— Não vou mesmo ser feliz  porque ter você como sogro, é um castigo. – Foi embora, sem dar chance alguma de ser respondida.

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