170. A TERRÍVEL CRUELDADE
Eu piscaria, tentando decifrar suas palavras. "Aquela noite." A que dia ela se refere? Minha mente percorre lembranças fragmentadas, momentos em que talvez eu tenha feito ela acreditar que podia confiar em mim. No entanto, seu olhar, seu gesto caloroso, não refletem ressentimento, mas sim uma nostalgia carregada de ternura.
—Esse dia? —pergunto finalmente, tentando ligar os pontos enquanto busco em seu rosto uma resposta—. A que você se refere?
Ela sorri timidamente, e por um momento, parece que o tempo retrocede. Há muito não via essa expressão: a pequena curva de seus lábios que parece lutar para se manter firme contra as lágrimas.
—Você não se lembra? —balbucia sem me olhar.
Minhas lembranças colidem umas com as outras, mas eu sei exatamente a que ela se refere. Finalmente, como um choque, a memória me atinge.