Luto

  Dois dias haviam se passado. Por dois dias eu não saía do quarto. Vovó vinha me ver de hora em hora, sempre trazendo algo para comer, que eu mordiscava apenas para agradá-la e já deixava de lado assim que ela cruzava a porta em saída.

Silas era quem sorrateiramente roubava a comida do prato quando acreditava que eu não estava vendo, mas eu sempre via, só não tinha ânimo para repreendê-lo.

  Quanto ao gato, vovó não teve objeções em deixar que ficasse, apesar de Silas se mostrar um pouco hostil as tentativas de contato da vovó. Ela, assim como eu, também ficou surpresa e intrigada com o gato ter aparecido aqui. Meu tio deu de ombros.

  Já ele - Andrew - não apareceu no quarto em nenhum momento, Hélène dizia que ele estava atarefado, além de toda a burocracia quanto ao corpo de Stella, ele ainda tinha outros assuntos para cuidar. 

- Conversei com seu tio e ele já matriculou você na escola, começa na próxima segunda. - Hélène me contou em uma das vezes que me visitara no quarto. Por mais casual que quisesse soar dava para ver a animação dela pelo tom da voz. - Foram semanas muito difíceis para você, não imagino como tenha sido encontrar sua mãe, sepultá-la sozinha. Agora essa moça que só estava fazendo seu trabalho... - ela suspirou com pesar - Será bom ir à escola, a cidade é pequena mas os jovens são animados, você fará novas amizades e vai ajudar a se distrair. O início assusta, o novo assusta, mas você está em casa, querida.

Concordei.

  Hélène era o total oposto de Sarah: paciente, afetuosa, animada, dedicada ao lar. Não foi difícil me acostumar com sua presença já que ela a impôs com seu amor em excesso. Talvez sentisse falta da filha e via em mim a oportunidade de não só reparar o passado, mas revivê-lo.

  Com o passar dos dias me esforçava para sair ao menos duas vezes por dia do quarto, lavava as louças que encontrava na pia para buscar mostrar alguma serventia. Em um dia onde o sol se mostrou mais firme decidi me sentar um pouco na varanda, com Silas descansando em meu colo. O grande gato cinza de olhos amarelos era um grude só. Estava sempre ao meu lado pela casa. Era estranho. Normalmente ele era mais próximo da minha mãe do que de mim, talvez entendesse que havia partido e agora éramos eu e ele. Nossa família de 2 - com vovó e tio Andrew, os novos agregados.

  Escrevi uma carta à Lyan, marido ce Stella, nela desejava os meus mais sinceros sentimentos, disse que sua esposa sempre teria um lugar só seu em meu coração por exercer seu trabalho na assistência social com tanto zelo e afeto.

Me desculpei por não poder prestar minhas condolências presencialmente, explicando que não teria como voltar à cidade pois meu tio trabalhava muito e minha avó não dirigia por causa da visão. 

Disse-lhe que rezaria por Stella e por ele, assim como fazia por minha mãe. 

  Pedi à Hélène que pedisse ao pastor uma singela homenagem à Sarah e Stella no culto de domingo, vovó concordou, e o Pastor Howard fez um emocionante sermão sobre os planos de Deus para nós e de como devemos buscar nos reconstruir diante das adversidades.

Ele também falou sobre mim: dizendo que por mais perdas que houvessem, Deus presenteava a comunidade comigo, em especial meus parentes, que haviam perdido as esperanças quando minha mãe fora embora mas Deus me devolveu ao meu lar. Agora eu era conhecida na cidade como o milagre dos Blaccer. Não conseguia imaginar uma forma pior de ser conhecida na cidade justamente na semana em que começaria na nova escola.

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