Ratinha

Quando as aulas acabaram, eu mal podia esperar para correr para os dormitórios das bruxas. Estava cansada do jeito que olhavam para mim, e só queria tomar um banho e me enfiar embaixo das cobertas.

Por algum motivo desconhecido, a cada ciclo, meu calor corporal desaparecia, e um frio intenso me tomava.

- Você está quase batendo o queixo. – Kael me disse, passando o braço sobre os meus ombros. – Precisa que eu te esquente de novo, ruiva?

Teve sorte de ter um amigo lobisomem, que era uma fonte de calor inesgotável, e estava sempre disposto abraça-la nesses dias. Mas hoje, ela queria ficar sozinha, um cobertor térmico poderia aliviar aquela sensação gelada.

Além disso, por alguma razão, sentia que estava sendo injusta com ele. Não era certo fazer alguém ficar do seu lado dessa maneira, sem sentir nenhum sentimento, ou algo mais. Ele era atraente, e admitia que o quase beijo que deram, também poderia ser bom. Mas e depois...

- Neréia? – ele chamou, olhando para baixo enquanto caminhavam. – Sabe que eu não estou te oferecendo nada com segundas intenções, não é?

-Oh não, eu sei. Você é o único macho não acasalado que continua normal comigo durante essa coisa.

- É que tenho um auto controle bem treinado. Meu pai me ensinou, ele sempre dizia que um sobrenatural sem controle, não passa de uma besta para ser usada pelos outros.

- Seu pai é muito sensato. Me fale mais sobre ele e sua mãe. – pedi, de repente curiosa.

Kael estava sempre citando ensinamentos do pai e da mãe. Ele era filho único, e se orgulhava muito de sua família, mas não se aprofundava em detalhar nada, nem mesmo como eram as pessoas mais importantes de sua vida.

- Não há muito o que contar. Eles estão envolvidos com a política desde que os lycans decidiram exigir um território próprio; acabam viajando muito, por isso me colocaram na academia.

- Qual deles é o lycan? – perguntei. Nenhum lobo de alto escalão da aliança dos subs, era autorizado a lidar com a espécie que quase foi extinta. Logo, um dos pais de Kael, tinha que ser um lycan.

- Minha mãe. – ele respondeu simplesmente. – E então, você quer que eu suba com você para o dormitório? Posso entrar pela janela oculta, como da outra vez.

Machos não eram permitidos nos dormitórios das moças e fêmeas lupinas. Um sistema de monitoramento que usava magia, averiguava todos os acessos principais. No entanto, sempre escapava algum atalho que garantia o encontro de namorados.

- A Belle está lá em cima, ela vai nos dedurar. Sabe que ela me odeia. – respondi, me lembrando que hoje o terceiro ano tinha o resto da tarde livre.

Minha companheira de quarto era uma bruxa do clã que repudiava subs sem poderes, como eu.

- Aquela maluca...- murmurou Kael, ao chegarem frente ao prédio alto de torres pontudas do lado oeste. – Bem, então descansa bem. Mas tarde vou tomar uma cerveja com o pessoal no Vilas Bests, se quiser podemos nos ver no lugar de sempre.

Ele se referia ao jardim de salgueiros e flores mutantes, que cercava o lago negro, logo atras do prédio das bruxas.

- Tudo bem. Se eu for, te envio uma mensagem.

Kael me abraçou forte, e beijou suavemente meu rosto.

Entrei para o salão de recepção me sentindo melhor. Estar com ele me fazia me sentir bem, e eu não tinha que fingir ser alguém diferente do que sou. As pessoas se indignavam quando eu falava que não me importava em não ter poderes, elas me condenavam.

Para os subs, ter poderes era o mesmo que respirar.

Mas para mim, era outra coisa. Eu temia o poder.

Cheguei ao alto da quarta escada que levava aos dormitórios. Estava tudo muito calado e silencioso, os calouros estavam na cerimônia de iniciação e a maioria dos veteranos estavam em aula.

Segui pelo longo corredor escuro que só se iluminava com magia, prendi o folego. Girei a chave na fechadura, esperando que no quarto vinte e seis, não estivesse ninguém.

Mas ao entrar no quarto, algo me aprisionou contra a porta.

Um cheiro característico me nocauteou, quando a parede enorme que me esmagava contra a madeira envernizada, se inclinou sobre mim no escuro.

- Pelo menos foi esperta o suficiente para não deixar o cachorro imundo subir. – Uma enorme se fechou em meu pescoço me privando de todo o ar. – Te encontrei, ratinha.

Não era Belle, minha colega de quarto insuportável. Era alguém que me odiava ainda mais.

Zayden.

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