Lobos da noite PT

O auditório da universidade estava lotado, repleto de vozes animadas e risadas que ecoavam pelo grande salão iluminado. Emma Oliveira deveria estar feliz. Vinte anos, formada em Direito, cercada pela família e amigos. Mas, em vez da excitação comum àquela noite, uma sensação diferente tomava conta de seu peito.

Um incômodo. Algo estava errado.

— Emma, você está bem? — Luna, sua melhor amiga, puxou seu braço suavemente, chamando sua atenção.

Emma piscou algumas vezes antes de focar nela.

— Sim… só estou um pouco cansada.

Luna arqueou a sobrancelha, desconfiada.

— Sério? Você nem parece animada. Você se formou! Isso não era o seu sonho?

Emma hesitou. Era um sonho, não era? Ela estudou por anos para chegar ali, se dedicou, passou noites em claro lendo livros e escrevendo trabalhos. Então por que, agora, parecia que aquele diploma não significava nada?

Seu olhar vagou pelo salão. Colegas tiravam fotos, abraçavam familiares, celebravam. Seus pais estavam na plateia, orgulhosos. Ela deveria sentir felicidade, mas no fundo…

O vazio continuava lá.

"Porque esse nunca foi o seu verdadeiro destino."

A voz de Selene, sua loba, ecoou dentro dela. Emma respirou fundo.

Desde que nascera, sabia que era diferente. Filha de um alfa poderoso, uma futura líder. Mas não era só isso. Dentro de si, não habitava apenas um lobo… havia também um lado sombrio, uma herança de sangue vampírico.

Lilith, sua vampira, sempre esteve presente. Silenciosa, observadora, calculista. Diferente de Selene, que era pura fúria e instinto.

Emma cresceu tentando equilibrar essas duas partes de si. Durante anos, elas foram apenas vozes distantes, sussurros que surgiam de tempos em tempos. Mas agora… agora elas estavam despertando. Mais fortes. Mais exigentes.

"Você sente isso, não sente?" Selene rosnou em sua mente. "O chamado."

"O destino está se aproximando." Lilith murmurou.

O coração de Emma acelerou. Seu olhar percorreu o ambiente, inquieto. O ar parecia mais denso. Seus sentidos estavam mais aguçados do que nunca.

O som das conversas se tornou mais nítido. Ela podia distinguir cada voz, cada batida de coração. O cheiro do perfume das pessoas misturava-se no ar.

E então… veio o cheiro.

Amadeirado. Intenso. Viciante.

Emma congelou.

Foi como um choque elétrico correndo por seu corpo, despertando algo primal dentro dela. Selene uivou. Lilith sussurrou de prazer.

"Ele chegou."

Emma segurou a beirada da mesa mais próxima, tentando controlar a onda avassaladora de sensações. Seu peito subia e descia rapidamente. O que era aquilo?

O cheiro invadiu seus pulmões, bagunçou seus pensamentos. Ela olhou ao redor, tentando entender, mas não encontrou nada… ainda.

— Emma? — Luna voltou a chamar, segurando seu braço. — Você está estranha.

— Eu… — Sua voz falhou.

Ela precisava sair dali.

Caminhou apressada pelo auditório, ignorando os chamados da amiga. Precisava de ar.

Saiu para o corredor, respirando fundo. Mas o cheiro… o cheiro continuava lá.

"Minha."

A palavra surgiu em sua mente como um trovão.

Emma sentiu o coração disparar. Seus instintos gritavam, algo dentro dela reconhecia…

Ela não sabia quem ele era. Mas sabia que ele a estava esperando.

E nada mais seria como antes.