Maria Drumond
Fechei a porta do quarto devagar, quase como se tivesse medo de que o som da madeira encostando no batente pudesse perturbar o silêncio que reinava lá dentro. Meu coração batia apertado, pesado, como se carregasse um fardo invisível que me impedia de respirar com naturalidade. A imagem que ficou gravada em meus olhos foi a da patroa deitada na cama, tão pálida e silenciosa, envolta em lençóis que mais pareciam uma muralha de segredos.
Desde o dia do casamento, vinha sendo surpreendida por uma mudança que parecia impossível. Sempre acreditei conhecer Isadora Vasconcelos: uma moça arrogante, fútil, vaidosa até demais, acostumada a receber o mundo aos seus pés sem nunca precisar curvar a cabeça. Uma mulher de gestos calculados, olhar frio, sorriso de quem sabia que estava acima de todos. Mas agora, diante de meus olhos, essa imagem parecia ter se dissolvido. Havia ali outra pessoa, quase doce em certos movimentos, delicada em alguns gestos, e em alguns momentos, até frágil