“Amor é a chama que aquece, mas também é fogo que consome e mesmo assim, escolhemos arder.”
Clara Vasconcelos
Meus dedos ainda tremiam quando deixei para trás os jardins sombreados. A cada passo, o chão parecia de vidro, fino, frio, pronto para rachar sob o peso da mentira que eu vestia.
O tecido do vestido roçava minha pele como uma sentença, e o véu, já preso por grampos invisíveis, puxava meus cabelos numa dorzinha surda que me mantinha acordada dentro do pesadelo. A brisa morna da noite passou pela pele dos meus braços, mas não levou o frio que crescia por dentro.
Atrás de mim, a voz dele ainda batia como trovão:
“Assuma o personagem. Seja convincente. Não existe mais Clara Vasconcelos.”
O eco não diminuía, muito pelo contrário, se multiplicava, espalhando-se entre as batidas do meu coração até confundir pulso, medo e lembrança.
Respirei fundo e tentei recompor-me. Ajeitei a postura, a coluna ereta, queixo ligeiramente erguido, ombros alinhados, afinal, Isadora andaria assim. Eu