“Há uma beleza sombria em dar tudo de si, sabendo que talvez reste nada.”
Clara Vasconcelos
O som dos aplausos ainda reverberava pelos jardins da Mansão Ferraro quando senti a mão de Lucca abandonar a minha cintura com uma frieza que me cortou como lâmina. O arrepio que subiu pela minha coluna não tinha nada a ver com o beijo, nem com a música, era um presságio. Era o peso do que estava por vir, como o primeiro trovão antes da tempestade.
A valsa cessou e, por um instante, tudo pareceu perfeito do lado de fora. O som de taças tilintando, uma risada aqui, outra ali, sussurros encantados sobre a “química perfeita” do casal. Lustres pendiam da pérgola coberta de heras, e luzes quentes desenhavam círculos dourados na grama. Para eles, aquilo era romance, um verdadeiro conto de fadas. Para mim, era a borda de um precipício. Eu me equilibrei no limite, olhando para baixo, e o vazio me devolveu um silêncio que só existia entre nós dois.
Um silêncio perigoso. Um silêncio cheio de perguntas qu