Capítulo 4

Capítulo 4

Leonardo ajeitou os óculos pela quinta vez em menos de um minuto. Sentia-se como uma versão atrapalhada do Clark Kent, como se, a qualquer momento, fosse obrigado a rasgar a camisa expondo o uniforme de herói para proteger sua chefe de algum perigo iminente.

— Por Deus... — murmurou para si mesmo, tentando controlar os nervos, enquanto empurrava a porta da sala de Margareth.

— Olá, Leonardo. Bom dia! — disse ela com seu tom sempre cordial.

— Bom dia, senhora Margareth — respondeu ele, mais tenso do que gostaria.

— Entre, ela está te esperando.

Leonardo congelou. Literalmente parou no mesmo lugar, piscando devagar enquanto as palavras ecoavam na mente.

“Está me esperando?”

A frase ganhou outra forma em sua imaginação já bagunçada. Por um breve momento — que durou segundos demais — imaginou Alana o esperando na sala, vestindo apenas um casaco elegante e, por baixo, uma lingerie vermelha rendada. Um cenário digno dos seus devaneios mais proibidos.

— Leonardo?

— O quê?! — ele se sobressaltou, voltando à realidade como se tivesse levado um choque. O rosto ficou vermelho como um farol de advertência.

Margareth arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

— Vá logo!

— Sim, claro! Obrigado!

Ele entrou às pressas, tropeçando levemente no tapete antes de recuperar o equilíbrio e desaparecer pelo corredor. Margareth balançou a cabeça, murmurando algo que soou como “esses novinhos de hoje...”.

Leonardo parou diante da imponente porta da CEO. Respirou fundo, ajeitou novamente os óculos, e ergueu a mão para bater. Mas antes que seus nós dos dedos tocassem a madeira, a porta se abriu sozinha, revelando Alana de pé, com uma pasta em mãos.

Ela usava um blazer justo, marcando sua silhueta impecável, e uma calça de alfaiataria que delineava suas curvas de forma elegante. O cabelo preso em um coque alto deixava o pescoço à mostra, o que, para Leonardo, parecia cena de filme.

— Leonardo — disse ela, com a voz firme e cordial.

— Senhora Dumont — ele respondeu, travado, tentando manter o foco nos olhos dela, e não no conjunto da obra.

— Entre.

Ele deu dois passos e esqueceu como se andava. As pernas estavam bambas, os joelhos quase batiam um no outro. Sentou-se na cadeira em frente à mesa, um pouco torto, tentando disfarçar o nervosismo com um sorriso de canto.

Alana voltou a se sentar com elegância, analisando-o por cima dos óculos de leitura.

— Margareth me disse que chegou cedo hoje.

— Ah, sim... Eu... gosto de estar preparado com antecedência. A pontualidade é uma virtude que... bom, eu valorizo bastante — disse ele, tropeçando nas palavras e mexendo nos dedos nervosamente.

Alana soltou um leve sorriso com o canto dos lábios. Ele era um desastre ambulante, mas havia algo genuíno ali que ela começava a achar interessante.

— Fico feliz em ouvir isso. — Ela abriu a pasta. — Hoje você acompanhará minha agenda e alguns compromissos externos. Margareth vai te passar os detalhes. Alguma dúvida?

Leonardo balançou a cabeça tão rápido que os óculos quase voaram.

— Não, senhora!

Ela fechou a pasta com um leve estalo.

— Ótimo. E Leonardo?

— Sim?

— Relaxe um pouco. Você está parecendo que vai ser interrogado pela CIA.

Ele riu nervoso.

— Quem sabe um dia eu chegue lá — tentou brincar, mas a própria piada soou estranha.

Alana apenas piscou, surpresa com a tentativa de humor, e voltou sua atenção para o monitor.

Leonardo se levantou, bateu o joelho na mesa, tropeçou no próprio pé e, antes de sair, virou-se.

— Obrigado pela confiança, senhora Dumont.

— Só Alana, por enquanto — disse ela, sem tirar os olhos da tela.

Ele assentiu, corando outra vez, e saiu da sala, deixando a porta se fechar suavemente atrás dele.

Alana apoiou o queixo na mão, observando a porta por um instante, antes de murmurar:

— Que figura...

Margareth já o aguardava do lado de fora, com um tablet em mãos e um sorrisinho discreto de quem sabia exatamente o quanto aquele rapaz estava deslocado.

— Venha, Leonardo. Aqui está a agenda do dia. A primeira reunião é fora da empresa, em uma das unidades do grupo. Alana quer que você vá com ela.

— Claro. Estou pronto. — Ele engoliu em seco, tentando parecer confiante, embora sentisse que poderia desmaiar a qualquer momento.

Eles desceram até a garagem subterrânea. O carro da CEO, um sedã preto luxuoso, já os esperava. O motorista abriu a porta para Alana, que entrou com naturalidade. Leonardo se acomodou ao lado, no banco de trás, e passou os primeiros minutos encarando a própria pasta no colo.

— Leonardo? — Alana quebrou o silêncio, olhando de soslaio para ele. — Você já trabalhou em campo antes? Acompanhando alguém em reuniões?

— Já sim, senhora… digo, Alana. Em... em alguns estágios. Eu anotava tudo! Tudo mesmo. Até... até o que as pessoas pediam no café — respondeu, se atrapalhando com as palavras.

Ela soltou uma risada abafada, e o som fez Leonardo quase sorrir de alívio. Quase.

— Ótimo. Hoje vai ser simples. Só mantenha-se atento. E, por favor, não derrube nada caro.

Ele assentiu vigorosamente.

Chegando ao prédio da unidade industrial do grupo, foram recebidos por uma equipe de gerentes ansiosos. Alana caminhava firme, confiante, com Leonardo ligeiramente atrás, equilibrando pasta, caneta e celular como se estivesse carregando dinamite.

Na reunião, Alana dominava a sala. Inteligente, incisiva, irresistivelmente charmosa. Leonardo tomava nota com precisão impressionante, acompanhando cada argumento, cada número citado, cada expressão dos rostos ao redor. Por um instante, até Alana pareceu notar o quanto ele era eficiente — apesar da cara de quem tinha medo de respirar fundo.

Quando saíram, ela comentou enquanto caminhavam pelo corredor:

— Confesso que você foi melhor do que imaginei.

— Isso é... um elogio? — arriscou, sem olhar diretamente para ela.

— Ainda estou decidindo — respondeu com um sorriso enigmático.

Já no carro de volta, Leonardo encostou a cabeça discretamente na janela, pensando:

"Sobrevivi ao primeiro teste. Agora só faltam mil outros."

E do outro lado do banco, Alana o observava pelo reflexo do vidro, intrigada.

O carro os deixou de volta na sede da empresa, mas ao invés de subirem, Alana surpreendeu Leonardo:

— Vamos almoçar antes. Estou com fome.

— Claro! — ele respondeu mais alto do que gostaria. — Quer dizer… claro, ótimo.

Ela riu de leve.

— Conhece o Bistrô Savoy?

— Já passei na frente. Várias vezes. Sempre achei que lá fosse só pra gente… rica. — Ele se calou, percebendo o que acabara de dizer.

— É. E é mesmo — Alana disse com um sorrisinho de canto, já entrando no carro novamente. — Mas hoje você vai experimentar como é almoçar como gente rica.

Leonardo engoliu em seco.

Minutos depois, estavam sentados em uma mesa reservada com vista para a cidade. O ambiente era requintado, o som do piano ao fundo dava um ar elegante. Leonardo se sentia uma gravata viva no meio de um desfile da alta sociedade.

O garçom veio anotar os pedidos.

— O de sempre, senhorita Dumont? — perguntou educadamente.

— Sim. E para ele… — ela olhou para Leonardo com um brilho divertido nos olhos — traga o prato executivo. Vamos ver se ele aguenta.

Leonardo apenas assentiu. Assim que o garçom se afastou, tentou puxar assunto:

— Você... parece dominar tudo com muita naturalidade.

— E você parece um esquilo nervoso com um copo de cristal na mão.

Leonardo sorriu, sem graça.

— Eu sou só cuidadoso. Isso aqui parece mais caro que meu salário anual.

— Eu gosto do seu jeito — disse de repente, observando-o. — Você me diverte.

Ele piscou.

— Isso é bom?

— Ainda estou decidindo — repetiu, como fizera mais cedo, mas dessa vez com um toque mais suave na voz.

O almoço foi servido. Leonardo tentou parecer educado, mas quase engasgou com um pedaço da carne ao tentar manter a postura enquanto Alana o observava rindo com o canto dos lábios.

— Relaxa, Leonardo. Estou te avaliando como assistente, não como modelo da alta gastronomia.

— Ufa — respondeu, aliviado.

O clima entre eles começou a se suavizar. Pela primeira vez, ele conseguia conversar sem tropeçar tanto nas palavras. Alana parecia gostar da espontaneidade dele, e Leonardo começava a perceber que, apesar de seu ar imponente, ela era... humana.

Quando terminaram, ela se levantou.

— Vamos. Ainda temos uma tarde cheia.

Leonardo se levantou também, mas antes de sair, esbarrou na mesa e quase derrubou a taça de água. Por reflexo, segurou e a água voou direto no paletó.

Alana riu alto, sem conseguir evitar.

— Está tudo bem. Vai se acostumar... ou vai acabar banhado todos os dias.

— Pelo menos é água — ele respondeu, suspirando, encharcado.

Eles voltaram ao carro. E no caminho, pela primeira vez, Alana não pegou o celular. Ficou apenas olhando pela janela… com um leve sorriso no rosto.

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