Capítulo 5

Capítulo 5

A tarde na empresa foi tranquila. Alana estava focada em reuniões, e Leonardo se dedicou a organizar documentos, responder e-mails e se familiarizar com as tarefas da nova rotina.

Em um momento nos corredores do último andar, ela passou por ele, os olhares se cruzaram por um segundo. Ela não disse nada, apenas arqueou uma sobrancelha como quem avaliava, e seguiu. Ele, claro, quase tropeçou no próprio pé ao se virar para continuar trabalhando.

Quando o relógio marcou seis da tarde, Margareth se aproximou da mesa dele com um sorriso gentil.

— Pode ir, Leonardo. Alana disse que foi um bom primeiro dia.

Ele não conseguiu conter um sorriso bobo.

— Obrigado, senhora Margareth. Até amanhã.

Pegou sua mochila surrada, ajeitou os óculos e saiu da empresa com o coração leve após um dia tão tenso. Era a primeira vez em muito tempo que sentia que algo realmente bom estava começando em sua vida.

O trajeto até em casa foi calmo, ouvindo música baixa nos fones de ouvido. Desceu do ônibus, caminhou pelas calçadas estreitas do bairro simples onde morava e parou diante do prédio antigo. Era daqueles sem elevador, de escada apertada e degraus que rangiam a cada passo.

Subiu os quatro lances com paciência, já acostumado.

Chegando em seu pequeno apartamento, abriu a porta e entrou no ambiente silencioso. O lugar era simples, com móveis antigos, livros empilhados e uma pequena TV na sala. Jogou a mochila no sofá, tirou o paletó ainda úmido da hora do almoço e soltou um suspiro profundo.

Foi até a janela, abriu para deixar o ar fresco entrar e observou a vista, prédios baixos, antenas, roupa nos varais dos vizinhos.

— Sobrevivi ao primeiro dia — murmurou para si mesmo com um sorriso cansado.

E sem conseguir evitar, a imagem de Alana lhe veio à cabeça. O modo como ela falava, andava, o jeito firme e confiante... Ele balançou a cabeça, indo até a cozinha para preparar um miojo.

— Concentre-se, Clark Kent… concentração — disse, mexendo o macarrão enquanto ria de si mesmo.

Depois do jantar simples, Leonardo foi direto para o banho. A água quente relaxava os músculos do dia tenso, e pela primeira vez em semanas, ele se sentia bem. Ao sair, enrolado na toalha, passou pela pia e parou diante do potinho de gel para cabelo.

Olhou para ele com uma sobrancelha erguida.

— Não preciso parecer um boneco envernizado em casa — murmurou, deixando o frasco de lado.

Pegou o pente, passou algumas vezes no cabelo ainda úmido e, para sua surpresa, a franja se ergueu em um topete meio rebelde. Ele inclinou a cabeça, curioso, analisando no espelho.

— Menos feio… Interessante.

Lembrou da recepcionista e torceu a boca.

— Feio... Mulherzinha sem alma. Deve ser mal amada — resmungou, pegando a caixinha do aparelho móvel antes de guardá-la cuidadosamente no criado-mudo.

Foi então para o quarto, onde um espelho de corpo inteiro o aguardava. Ficou em frente a ele, apenas de cueca boxer preta. Suspirou.

— Ao menos o corpo está em dia — disse, virando-se de lado.

Era verdade. Apesar da aparência de nerd, o corpo era de atleta: pernas musculosas, abdômen definido, braços fortes e um peitoral que preenchia bem qualquer camiseta. E havia também aquele detalhe, o volume generoso que, por mais que tentasse disfarçar, acabava atraindo alguns olhares femininos na academia. Sim, era bem dotado. Não tinha como negar, e nem sempre era fácil disfarçar com as roupas.

Mas, claro, ninguém notava. Quem olharia duas vezes para ele com aquelas camisas largas de gola folgada e calças parecendo sacos de batata?

— Não vou mudar meu estilo por causa daquela sem coração — disse convicto. Fez uma pausa. — A não ser… se ela pedisse…

Os olhos suavizaram ao pensar em Alana. Suspirou outra vez, agora mais lento.

— A luz dos meus olhos... a flor que desabrocha todas as manhãs mostrando toda sua beleza… Alana... — murmurou com um sorriso bobo nos lábios.

E com o coração acelerado por uma admiração que nem ele sabia explicar direito, desligou a luz e se deitou, embalado por pensamentos que dançavam entre realidade e fantasia.

O despertador tocou, mas Leonardo, ainda sonolento, o desligou sem nem perceber. Virou para o lado, mergulhando novamente no sono. Meia hora depois, acordou com um sobressalto, pulando da cama como se tivesse levado um choque.

— Ai, merda! — exclamou, caindo no chão com o impacto.

Levantou-se num pulo, o coração acelerado. Correu até o guarda-roupa e, na pressa, pegou as primeiras roupas que viu, sem notar que não eram as que costumava usar. Vestiu-se às pressas, tropeçando nas próprias pernas, e saiu de casa ajeitando a camisa enquanto caminhava a passos largos até o ponto de ônibus.

No meio do caminho, tateou os bolsos com rapidez.

— Chaves… celular… carteira… — murmurou, fazendo um checklist mental. — Ufa. Tá tudo aqui.

O sol da manhã batia forte no rosto, e o suor já começava a escorrer. Ele acelerou o passo, tentando ignorar a ansiedade que apertava o peito. Não podia, de jeito nenhum, chegar atrasado no segundo dia.

Leonardo colocou o pé na empresa às 08:35. Cinco minutos de atraso.

— Merda… — resmungou para si mesmo, sentindo o coração acelerar.

Do outro lado do saguão, a recepcionista estava distraída, rindo com a colega. Mas ao levantar o olhar e ver Leonardo atravessando o hall, a risada morreu nos lábios. Seus olhos se arregalaram, surpresa.

— É ele? — murmurou a colega ao lado, também de boca aberta.

— É. O nerd… — respondeu, quase sem ar.

A colega soltou uma risadinha, inclinando-se para frente, como se estivesse observando uma escultura viva.

— Pois eu diria que o “feioso” hoje tá um gato. Miau!

Leonardo passou por elas sem perceber, ajeitando os óculos com a mesma expressão séria de sempre. Mas o cabelo, com aquele topete despretensioso, a roupa mais ajustada que delineava seu corpo atlético, tudo nele gritava confiança, mesmo que ele não soubesse disso.

As duas continuaram olhando até ele sumir no elevador.

— Definitivamente, eu subestimava esse nerd — disse a recepcionista, mordendo o canto do lábio.

— Eu não. Sempre achei que por trás daquele gel todo tinha um milagre esperando pra acontecer — retrucou a colega, rindo.

Enquanto Leonardo entrava no elevador, ajeitando a alça da mochila no ombro e conferindo o crachá, outras mulheres no saguão pararam o que estavam fazendo. Umas fingiram olhar para o celular, outras mexeram na bolsa apenas para poder acompanhar o rapaz com os olhos.

Murmúrios discretos, sorrisos trocados e até um assobio abafado se espalharam pelo ambiente. Mas Leonardo, alheio a toda aquela atenção repentina, manteve-se sério, focado, completamente inconsciente de que, naquele instante, era o centro de dezenas de olhares curiosos e admirados.

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