Jason
A primeira vez que vi Clara patinar, de verdade, foi como assistir a uma cena que não deveria ser tocada. Tinha algo sagrado ali.
Ela girava com leveza, o cabelo preso num coque frouxo, a expressão concentrada e decidida. Era a mulher que eu amava, mas também era alguém que eu ainda estava descobrindo. A arquibancada da pista era gelada, mas eu não sentia frio. Só orgulho.
Clara não sabia que eu estava ali — e talvez fosse melhor assim. E eu ainda não sei porque estou aqui, muitas coisas importantes me esperam.
Ela deslizava como se o mundo sumisse quando estava sobre o gelo. E ali, naquele espaço branco e silencioso, parecia inteira. Forte. Livre. Tão diferente da garota que me escreveu um bilhete e sumiu por dias.
Ela estava voltando a ser quem sempre foi.
— Impressionante, né? — ouvi uma voz ao meu lado.
Me virei devagar. Um cara alto, cabelo castanho claro preso num coque baixo, olhos atentos. Roupa esportiva. Estava sentado a poucos metros de mim.
— É. Bastante. — respondi