POV ZION BELLINI
A porta bateu com um estalo seco.
E ficou aquele silêncio.
Aquele tipo de silêncio que não te deixa respirar.
Fiquei parado no corredor, sem camisa, sem reação. A mala dela ainda ecoava nos degraus. Cada rodinha riscando o piso da escada como se dissesse: "Ela foi. De verdade, dessa vez."
Ela foi.
Por minha causa.
Mais uma vez.
Passei a mão pelos cabelos, o peito doendo num ritmo esquisito. Me apoiei na parede como se ela pudesse segurar meu peso. Mas a verdade?
Nem eu conseguia mais me sustentar.
Entrei na sala. O sofá bagunçado, o copo com resto de suco na mesinha, o notebook dela ainda carregando na tomada.
E o perfume.
O maldito perfume dela ainda ali.
Abaixei, peguei o notebook, tirei da tomada e fechei com força. Como se isso apagasse a existência dela daquela sala.
Mas não apagava.
Nada apagava.
Fui pra cozinha. A pia com o prato que ela usou no café da manhã. A xícara dela, com batom marcado.
E ali, entre o detergente e a colher suja de mel, meu peito implodiu.