O som ritmado dos saltos de Isabella ecoava pelos corredores envidraçados da imponente Torre Moretti, refletindo sua ansiedade e a expectativa que pulsava dentro do peito. A brisa de Chicago batia contra as janelas, como se até o vento soubesse que aquele dia não seria apenas mais uma segunda-feira qualquer. Ela apertava contra o peito a pasta com seu currículo, projetos e esperanças, enquanto tentava controlar o nervosismo que fazia seus dedos tremerem levemente.
Depois de anos estudando arquitetura, noites em claro entre maquetes e cafés, finalmente havia conseguido uma entrevista na Moretti Design & Construções, uma das empresas mais renomadas da cidade. Aquela era a sua chance. E ela não podia errar. A recepcionista a conduziu até o 49º andar, onde ficava o setor executivo. O luxo era palpável — mármore italiano, móveis de design contemporâneo e uma vista de tirar o fôlego da skyline de Chicago. Isabella ajustou a blusa branca justa por dentro da saia lápis preta. Não era curta, nem vulgar, mas realçava suas curvas de forma elegante. O batom nude contrastava com o brilho nervoso em seus olhos cor de mel. — Senhorita Hart? — chamou uma voz doce. — O senhor Moretti vai recebê-la agora. Isabella levantou-se, engolindo em seco. Aquilo era real. Seu coração disparou. Ela entrou na sala espaçosa, cujas janelas iam do chão ao teto. Estava de costas, observando a cidade, um homem alto, de terno perfeitamente ajustado, ombros largos e postura imponente. Ao se virar, Isabella sentiu o mundo desacelerar. Dominic Moretti não era apenas bonito — ele era o pecado encarnado em terno Armani. Cabelos escuros e bem aparados, barba por fazer que realçava sua mandíbula firme, olhos cinzentos como tempestade e um olhar que parecia ver através da alma. Ele não sorriu, mas seus olhos analisaram Isabella com uma intensidade que a fez sentir-se nua, mesmo vestida. — Senhorita Hart, — ele disse com a voz baixa e rouca, como veludo áspero — sente-se, por favor. Ela obedeceu, tentando manter o queixo erguido e o olhar firme, mas sua pele já ardia sob aquele olhar. — Seu portfólio é impressionante — ele disse, passando os dedos pelas páginas com atenção. — Gosto da ousadia nos seus traços. Poucos jovens arquitetos arriscam tanto em estruturas como você. — Obrigada, senhor. Eu… sempre acreditei que a arquitetura também precisa provocar emoções, não apenas servir funções. Ele ergueu os olhos e os cravou nos dela. Isabella sentiu um arrepio percorrer sua espinha. — Uma mulher que entende de forma e emoção. Isso é raro… e perigoso — ele disse com um meio sorriso nos lábios. Ela corou, mas manteve a compostura. — Perigosa é a rotina sem ousadia, senhor Moretti. Dominic inclinou a cabeça, claramente intrigado. Ele então se levantou, caminhando até a janela novamente. — Está contratada. Isabella arregalou os olhos. — Perdão? — Quero você na minha equipe pessoal. Diretamente envolvida nos projetos especiais. Comece amanhã. Ela piscou várias vezes. Aquilo parecia um sonho. — Obrigada. Eu prometo não decepcioná-lo. Ele se virou novamente, desta vez com um sorriso discreto no canto dos lábios. Um sorriso que poderia fazer qualquer mulher esquecer o próprio nome. — Já me deu motivos para querer ver até onde pode ir. ** Naquela noite, Isabella mal conseguiu dormir. Deitada em sua cama no pequeno apartamento no centro, revivia cada segundo do encontro com Dominic. Havia algo nele que a perturbava… um magnetismo silencioso, perigoso. Não era apenas um chefe atraente. Era como se ele dominasse o ar ao redor, como se soubesse exatamente o efeito que causava nas pessoas. Na manhã seguinte, vestiu um conjunto elegante — calça social de cintura alta e uma camisa acetinada que deixava sutilmente entrever a curva de seus seios. Queria parecer profissional. Mas também… desejava provocar. Nem que fosse um pouco. Ao entrar novamente na Torre Moretti, o mundo parecia mais claro. Era oficialmente uma funcionária da empresa mais prestigiada de Chicago. E seu chefe… o homem mais misterioso que já cruzara seu caminho. ** — Isabella, certo? — chamou uma voz masculina simpática, ao lado do elevador. — Sou Aaron Bennett, arquiteto sênior. Você vai trabalhar comigo no Projeto Horizon. — Prazer — ela respondeu, apertando a mão do homem de sorriso acolhedor e olhos verdes vibrantes. Aaron parecia ser o oposto de Dominic. Alegre, acessível, falante. — O chefe falou muito bem de você. E olha que ele não costuma fazer isso — disse Aaron, com um sorriso malicioso. — É mesmo? — Isabella respondeu, sentindo o rosto esquentar. — Acha que ele é só um empresário frio? Acredite, Dominic vê tudo. E ele raramente erra em quem aposta. Eles seguiram até a sala onde ficava a equipe de elite da empresa. Isabella foi apresentada a outros dois arquitetos e à assistente de Dominic, Vanessa, uma mulher elegante e reservada. — Isabella, ele quer que você vá até a cobertura — avisou Vanessa, poucas horas depois. — Sozinha. O coração de Isabella saltou no peito. O último andar da Torre Moretti era conhecido como o “nível proibido”, onde Dominic mantinha sua sala privada e… boatos. Muitos boatos. Ela subiu de elevador exclusivo. Ao chegar, a porta se abriu para um ambiente sofisticado, escuro, com móveis pretos e vidro fumê. Dominic estava sentado, folheando um contrato. Ao vê-la, não disse nada por alguns segundos. Apenas a observou. — Gosto de ver pessoas que cumprem ordens com elegância. — Eu só estou fazendo meu trabalho, senhor. — Me chame de Dominic. Aqui em cima, eu não sou apenas seu chefe. — E o que mais é, então? Ele se levantou e caminhou até ela, parando a poucos centímetros de distância. O perfume amadeirado, o calor do corpo dele… Isabella sentiu suas pernas tremerem discretamente. — Alguém que gosta de testar os limites. Ela engoliu em seco, mas não recuou. O olhar entre os dois ficou preso por longos segundos. Foi ele quem deu um passo para trás. — Preciso que revise os projetos do Horizon para amanhã. Pessoalmente. Traga aqui quando terminar. ** No final do dia, Isabella ainda estava tremendo. Não sabia dizer se era medo, adrenalina… ou pura excitação. Quando chegou em casa, sua mãe ligou. — Como foi o primeiro dia, querida? — Intenso. — Isso é bom. Aquele Dominic Moretti parece ser um homem muito sofisticado. — Como sabe disso? — Seu pai e eu pesquisamos ele. Não queremos você trabalhando para qualquer um. Isabella sorriu. Claro que eles teriam feito isso. Michael e Evelyn Hart sempre foram protetores, mas justos. — Ele é… profissional. — E bonito — disse a mãe, rindo. — Mãe! — Só estou dizendo. Você merece alguém que te desafie. ** Na manhã seguinte, Isabella levou os projetos revisados até Dominic. Ele a observou por trás da mesa, enquanto ela explicava cada detalhe com segurança. Quando terminou, ele se aproximou por trás, olhando o mesmo ponto que ela no papel. Seus dedos roçaram levemente sua mão. Não foi um acidente. — Sua mente me intriga, Isabella. Mas é seu corpo que me desconcentra. Ela sentiu o ar sumir dos pulmões. — Senhor Moretti… — Dominic — ele corrigiu, sussurrando próximo ao seu ouvido. — Aqui em cima, lembre-se? Ela se virou lentamente. Os rostos próximos, o calor, a tensão elétrica entre os dois. Era como se o tempo parasse. Ele aproximou-se um centímetro a mais… e então parou. — Por enquanto — disse ele, recuando e voltando à sua cadeira como se nada tivesse acontecido. — Pode voltar ao trabalho. Ela saiu da sala sem conseguir sentir os pés no chão. ** Aquela era apenas a primeira de muitas provocações. Dominic Moretti não era um homem comum. E Isabella já estava presa em sua teia. Mas o que ela ainda não sabia… era que segredos muito maiores estavam escondidos naquela torre. E que ela estava prestes a se tornar parte deles.