Os dias seguintes pareciam se fundir em uma dança silenciosa entre o proibido e o inevitável. Desde aquela primeira aproximação, Dominic Moretti não voltou a tocá-la — não fisicamente. Mas seus olhares, suas palavras sutis e seu controle absoluto sobre o ambiente ao redor estavam lentamente desarmando as barreiras de Isabella.
E ela odiava o quanto isso a excitava. Isabella se viu cada vez mais imersa no mundo dele. Projetos confidenciais, reuniões fora de hora, horários estendidos na cobertura da Torre Moretti. Dominic parecia encontrar desculpas para mantê-la por perto, e Isabella, por mais que tentasse se convencer de que estava ali apenas pelo seu talento, já não conseguia negar que havia algo mais. Muito mais. E cada minuto ao lado dele era uma provocação silenciosa que deixava seu corpo em chamas. ** Na manhã de quarta-feira, Isabella desceu do elevador com passos firmes, mas com o coração descompassado. Usava uma calça preta justa e uma blusa vinho de seda, abotoada até o colo, mas com tecido que deslizava sobre sua pele como se fosse parte dela. — Uau — comentou Aaron, seu colega de equipe, ao vê-la entrar. — Esse look é pra conquistar clientes ou pra provocar incêndios? — É só roupa, Aaron — ela riu, tentando disfarçar o calor que já subia por sua nuca. — Claro que é — ele piscou. — Mas não com esse tecido… e não com esse corpo. Ela sacudiu a cabeça, rindo, e se jogou na cadeira diante da tela do computador, mergulhando nos esboços do novo projeto: o “Venetian Sky”, um arranha-céu que seria o mais ousado da história da Moretti Design. Minutos depois, o interfone tocou. — Senhorita Hart, o senhor Moretti a espera no lounge da cobertura. A respiração dela travou por um instante. Já havia estado com ele tantas vezes desde o início da semana, mas cada encontro parecia um passo a mais rumo a um limite que os dois se recusavam a nomear. Ela subiu. O elevador parecia mais lento naquele dia, ou talvez fosse a ansiedade que fazia cada segundo parecer eterno. Ao chegar ao lounge privativo, foi recebida por Dominic de pé, à frente de uma mesa posta com duas taças de vinho e uma bandeja com t***s espanholas. — Achei que seria melhor discutirmos o novo projeto com um bom Malbec — ele disse, casual, como se aquilo fosse absolutamente normal. Isabella hesitou. — Em horário de trabalho? Ele ergueu a taça, o sorriso discreto nos lábios. — Eu sou o trabalho. Aquela frase percorreu o corpo dela como um toque invisível. Ela sentou-se, ainda hesitante. — Está tentando me seduzir com vinho, senhor Moretti? — Estou tentando te relaxar, Isabella — respondeu, fixando os olhos nos dela. — Mas se isso te deixa desconfortável… posso pedir café. — O vinho está ótimo. Ele serviu a taça dela e então se acomodou à sua frente, os olhos varrendo cada expressão de seu rosto, como se buscasse encontrar ali uma fraqueza. — Já esteve com alguém do trabalho antes? — ele perguntou. Ela arqueou uma sobrancelha. — Isso é uma pergunta profissional? — Isso é uma pergunta pessoal. Você escolhe como quer responder. Isabella bebeu um gole do vinho, deixando que o calor do álcool a encorajasse. — Nunca misturei prazer e trabalho. — Porque tem medo? — Porque valorizo meu profissionalismo. Dominic sorriu. — E se eu dissesse que seu profissionalismo é justamente o que me excita? Ela não conseguiu evitar a risada. — Você é ousado. — Eu sou sincero. E você… está com medo de se permitir. Ela o encarou por alguns segundos, séria. — Eu tenho objetivos aqui, Dominic. E não pretendo jogar tudo fora porque um homem bonito resolve me provocar com palavras. — Eu não sou só palavras. E você não é só uma funcionária. O silêncio caiu entre os dois. A tensão era espessa, quase palpável. Isabella sabia que estava à beira de algo — algo que poderia mudar tudo. Mas antes que qualquer um pudesse dizer mais, o celular de Dominic vibrou. Ele atendeu, a expressão mudando quase instantaneamente. — Fale… agora não é uma boa hora… — sua voz ficou fria, dura. — Como assim “sumiram”? Aquele contrato não pode vazar… Isabella se afastou discretamente, dando-lhe privacidade. Mas não deixou de observar o semblante sério dele, a mandíbula tensa, os olhos cortantes. Quando desligou, ele se virou para ela. — Preciso que vá até o departamento jurídico e peça os contratos do projeto Venetian Sky. Alguém mexeu em documentos confidenciais. — Isso é grave. — É. E se for alguém de dentro da empresa, teremos problemas. Ela assentiu, levantando-se. — Vai me manter informada? — Isabella — ele disse, caminhando até ela — eu não confio em muitas pessoas aqui dentro. Mas com você… posso baixar a guarda. Ela mordeu o lábio inferior. Queria dizer que confiava nele também. Mas aquela confiança vinha junto de um desejo que a enfraquecia. Ele se aproximou. — Obrigado por não fugir — disse, olhando nos olhos dela. — Ainda não decidi se devo. Ele segurou o queixo dela com os dedos, levemente, com um toque que mais parecia uma promessa. — Vai perceber que é tarde demais para fugir quando já estiver dentro de mim. O ar saiu dos pulmões dela. E então ele se afastou. ** Naquela noite, Isabella foi jantar com os pais, que moravam nos subúrbios de Chicago. Evelyn e Michael Hart eram calorosos, orgulhosos da filha e completamente encantados pela nova fase profissional dela. — E o tal chefe bonitão? — perguntou Evelyn com um sorriso curioso. — Já deu trabalho? — Ele é… exigente. Mas justo. — Seu pai leu sobre ele. Parece ter um histórico impecável. E um império considerável. — Espero que ele seja mais do que um rosto bonito e uma conta bancária cheia — completou Michael. — Queremos ver você crescer, filha, mas sem perder sua essência. — Eu continuo a mesma, pai. Só um pouco mais… desafiada. Eles sorriram. — E isso é bom — disse Evelyn. — Um homem que desafia, mas apoia, pode ser exatamente o que você precisa. ** De volta ao apartamento, Isabella se jogou no sofá com o notebook no colo. Havia uma mensagem de Aaron no grupo da equipe: Aaron: “Alguém vasculhou arquivos do servidor ontem. E só a equipe sênior tem acesso. Isso vai dar merda.” Vanessa: “Dom está com o jurídico. Mandou revisar tudo.” Ela mordeu o lábio. Aquilo era mais sério do que parecia. Quem arriscaria sabotar um projeto milionário dentro da Torre Moretti? ** Na manhã seguinte, Isabella estava no elevador com Vanessa quando a assistente soltou: — Você está se envolvendo com ele, não está? Isabella arregalou os olhos. — O quê? Claro que não. — Você não precisa mentir pra mim. Eu conheço Dominic há anos. E é a primeira vez que ele olha alguém assim. — Como assim? — Como se tivesse encontrado o que não sabia que estava procurando. O elevador parou no 49º andar. Vanessa saiu, mas antes, deixou escapar: — Se ele te escolheu… é porque confia. E Dominic não confia fácil. ** No final da tarde, Dominic chamou Isabella para sua sala. Estava sério, o semblante sombrio. — Preciso da sua ajuda com algo fora do expediente. — O que seria? — Um contrato foi alterado. Ninguém além de nós dois e Vanessa tinha acesso ao documento físico. Quero que revise as plantas com seu olhar técnico. Algo foi modificado e não deveria. — Claro. Quando? — Agora. Ela o seguiu até um dos andares inferiores da torre, em um arquivo confidencial da empresa. O ambiente era isolado, cercado por vidro espelhado. Documentos sobre mesas, luz baixa, ar-condicionado gelado. Dominic fechou a porta atrás de si. Isabella analisava os papéis quando sentiu a presença dele às suas costas. — Tem certeza que quer trabalhar até tarde? — ele sussurrou próximo demais. Ela não se virou. — Se for pra descobrir a verdade, sim. Ele então encostou-se nela por trás, levemente, o calor do corpo invadindo o dela. Suas mãos pousaram em sua cintura. — E se eu dissesse que a verdade que mais me importa agora… é o que você sente quando eu te toco assim? Ela fechou os olhos. — Eu me sinto… viva. Dominic virou o rosto dela e seus lábios se encontraram. O beijo foi explosivo, faminto. Anos de tensão concentrados em segundos. As mãos dele exploravam seu corpo com maestria. Ela puxou o paletó dele com força, sentindo o peito firme por baixo da camisa. Ele a ergueu pela cintura e a sentou sobre a mesa, os papéis voando. — Vai me dizer para parar? — ele murmurou entre beijos. — Tarde demais pra fugir, lembra? O sorriso dele foi puro pecado. E naquela sala secreta da Torre Moretti, eles finalmente cruzaram o limite.