POV: Estela
O som do tiro ainda ecoava nos meus ouvidos quando tudo ficou turvo. O carro derrapou, senti o solavanco seco no meu corpo. Isa gritou, minha mãe se encolheu no banco de trás. A porta se abriu com violência. Ele estava ali.
Meu pai.
O homem que um dia me colocou no colo e me chamava de “abelhinha”.
Hoje, aquele apelido soou como veneno.
— Sentiu saudade, abelinha? — ele riu, os olhos injetados, o cheiro de álcool e cigarro empesteando o ar. Dois homens armados estavam com ele. Um deles puxou minha mãe pelos cabelos. O outro, Isa, que chorava sem conseguir falar.
Eu tentei reagir. Lutei. Mas alguém me acertou por trás. A dor foi forte, mas o ódio... o ódio queimava mais.
Quando acordei, estávamos no chão frio de um galpão imundo, com paredes de ferro e cheiro de mofo e sangue. Correntes presas ao concreto. Arames farpados. Gritos abafados por bocas cobertas.
Estávamos acorrentadas.
Isa soluçava ao meu lado, olhos vermelhos. Minha mãe, pálida, com a blusa r