162. Esperando O Desastre Acontecer
Aperto os olhos por um segundo, como quem faz uma prece silenciosa ao universo. Mas não funciona, claro.
— Sorria — Daniel sussurra. — Vai que ela acha que a gente é outra pessoa.
— Impossível — retruco. — Ela é praticamente um reconhecimento facial ambulante.
O toc toc do salto ortopédico se aproxima, e quando levanto o olhar, ela já está parada na beira da nossa mesa.
Dona Gertrudes: bolsinha no antebraço, óculos na pontinha do nariz e aquela expressão clássica de quem já atualizou todas as fofocas do bairro antes mesmo do café da manhã.
— Ann? Daniel?
— Dona Gertrudes — digo, forçando um sorriso educado, enquanto Daniel enfia outra colherada gigante na boca. — Que… surpresa.
— Surpresa nada, querida! Tomo sorvete aqui todo sábado — responde, me examinando como um scanner até seus olhos pararem na minha barriga. — Meu Deus! Você está grávida! E está enorme!
— Estou — respondo, já sentindo meu último fio de paz se despedir.
— De quantos meses?
— Dezoito semanas.
— Dezoito