Eu sabia, foi a Wilma.
Virei-me para olhar o relatório do exame de gravidez sobre a mesa. A data nele era de cinco semanas atrás.
E, naquele dia, Gustavo havia desaparecido por uma noite inteira.
Ele me disse que houve um problema na rota de contrabando do porto e que precisava resolver.
Mas agora, ao pensar bem, percebi que ele esteve com ela, acompanhando-a naquele procedimento que garantiria a continuidade da linhagem familiar.
Afinal, eu já havia sido excluída dos planos deles há muito tempo.
Eles só estavam esperando que eu soubesse, não que eu consentisse.
Eu sempre imaginei o dia do casamento, sonhei em entrar no altar de braços dados com Gustavo, caminhando juntos rumo à vida conjugal.
Mas agora, todas as expectativas se transformaram em espuma, desaparecendo no ar sem deixar nenhum vestígio.
Nesse momento, o celular vibrou de repente, interrompendo meus pensamentos.
A voz clara de Mirella soou do outro lado da linha.
— Catarina, eu sei que você vai se casar, mas mesmo assim gostaria de perguntar mais uma vez: você realmente não considera trabalhar conosco no hospital?
— Você foi a aluna mais talentosa do professor, ele sempre esperou que você integrasse nossa equipe médica.
— Considerando que você está prestes a se casar, o professor disse que pode conceder uma permissão especial para você trabalhar dois meses no hospital e descansar meio mês, assim você teria tempo para reencontrar seu marido.
Meu professor havia criado um novo projeto de pesquisa cirúrgica no Hospital Porto Esperança, e já havia me convidado por telefone há meio ano.
Ele queria que eu integrasse sua equipe e trabalhasse em pesquisa médica.
Mas trabalhar no hospital significava abrir mão de qualquer vida pessoal, sem contato com o mundo exterior por longos períodos.
No mínimo um ou dois meses, talvez um ano ou até mais.
Na época, não quis me afastar de Gustavo por tanto tempo e recusei o convite do professor.
Agora, Gustavo já se tornara pai do filho de outra pessoa.
Já que ele nunca considerou nossos sentimentos e o casamento que estava por vir, essa cerimônia perdeu totalmente o sentido.
— Mirella, eu decidi. Quero trabalhar no hospital, não preciso de folga. Podemos seguir o cronograma normal do projeto.
A voz de Mirella estava cheia de surpresa e alegria.
— Que ótimo! O professor vai ficar muito feliz.
— Quando você pretende vir? Que tal uma semana depois do casamento? Assim você ainda pode aproveitar a lua de mel.
Respondi suavemente:
— Não, pode ser no dia do casamento.
Meus olhos pousaram sobre o calendário na mesa.
O dia dez do mês que vem estava fortemente circulado com marcador vermelho.
Antes, eu só queria me lembrar de quantos dias faltavam para o casamento, para organizar todos os detalhes.
Mas agora, essa data tornou-se minha contagem regressiva para deixar Gustavo.
Daqui a quinze dias, Gustavo e eu cortaremos todos os laços. Nunca mais nos veremos.