Um mês antes do meu casamento com meu noivo, Gustavo Guedes, ele insistiu em ter um filho com a primeira namorada dele.
Eu não concordei, mas ele mencionava o assunto todos os dias, pressionando cada vez mais, como se estivesse negociando uma transação que precisava ser concluída.
Até que, quinze dias antes do casamento, recebi uma entrega anônima.
Era um relatório de exame de gravidez da clínica particular Costa Diamantina.
Estava escrito claramente:
[Wilma Prado, grávida de cinco semanas e mais três dias.]
Naquele momento, compreendi completamente que ele nunca pensou em pedir minha opinião.
Ele já tinha tomado a decisão, apenas estava me informando, eu, a noiva oficial.
Sentei-me diante da janela do apartamento, olhando para a paisagem urbana movimentada, sentindo um frio invadir meu corpo.
No dia seguinte, cancelei a reserva do local do casamento, rasguei todos os convites e queimei todos os presentes que ele me deu, incluindo o anel de noivado e a promessa de casamento escrita à mão por ele.
No dia do casamento, não compareci. Em vez disso, embarquei sozinha em um voo para Porto Esperança, ingressando oficialmente no Centro Internacional de Medicina e iniciando minha carreira de pós-graduação em pesquisa clínica.
A partir desse momento, entre mim e Gustavo, tudo terminou de forma definitiva.
— Eu já te expliquei inúmeras vezes, Wilma não vai aguentar por muito mais tempo, a leucemia dela está em estágio terminal.
— O médico disse que ela tem, no máximo, um ano de vida.
— O último desejo dela é deixar um filho, para dar continuidade à linhagem da família.
— Eu devo a ela a minha vida... Não é apenas uma dívida de gratidão, é a continuação de uma aliança entre duas Famílias da Máfia.
Gustavo ficou diante de mim, com aquela voz suave habitual, mas cada palavra parecia uma facada no meu coração.
Cinco anos atrás, nas ruas de Timbé, houve um tiroteio entre a Família Prado e traficantes dos Pirén. Era para ele ter sido baleado, mas Wilma se colocou na frente e levou o tiro por ele.
Desde então, ela se tornou a salvadora dele.
Mas eu não entendi.
Sacrificar a mim, tornando-me moeda de troca para sua dívida, isso é amor?
— É apenas uma inseminação artificial.
Ele tentou continuar me convencendo:
— Não existe amor entre nós... É só para deixar um filho.
Ele fez uma pausa, o olhar complicado:
— Você me ama, não ama? Se me ama, deveria me entender, me apoiar.
Levantei-me de repente, a voz trêmula de raiva:
— Gustavo, nós vamos nos casar no mês que vem. E você, pelas minhas costas, faz outra mulher engravidar. O que eu sou para você?
Ele ficou em silêncio.
No momento em que abaixou a cabeça, vi uma hesitação em seus olhos, talvez culpa, talvez apenas costume de calcular tudo.
No segundo seguinte, seu rosto voltou ao normal, e ele falou com firmeza e voz baixa:
— Catarina, isso não é só entre mim e Wilma, é uma decisão dos dois clãs.
— Durante as negociações entre a Família Guedes e a Família Prado, ficou decidido que, se tivermos um filho, os rancores dos últimos dez anos entre as famílias seriam resolvidos.
— Eu não posso simplesmente ir contra a decisão do clã.
Olhei para ele e, de repente, ele me pareceu um estranho.
Crescemos juntos, do bairro pobre até a faculdade de medicina, e eu estive ao lado dele em cada etapa.
Tínhamos um amor puro, só nosso.
Mas, na verdade, ele nunca esteve realmente ao meu lado.
Ele só me via como uma noiva adequada: gentil, elegante, inteligente, discreta.
Achava que eu era digna de ser a esposa do herdeiro da Família Guedes.
Mas a verdadeira amada do coração dele não era eu.
Era aquela garota que brincava de pistola d’água escondida com ele desde os cinco anos, a filha do inimigo da família, aquela que, mesmo estando no lado oposto, ele sempre guardou no fundo do coração.
Ele me amava? Talvez.
Mas, diante da família, do poder, da gratidão e de Wilma, eu sempre seria a primeira a ser sacrificada.
Ele parecia querer dizer algo mais, mas foi interrompido por uma ligação.
Ele caminhou rapidamente até a varanda e atendeu, a voz tornando-se suave e baixa.
Eu não conseguia ouvir quem estava do outro lado da linha, só via o sorriso gentil em seus lábios.
Aquele sorriso, fazia muito tempo que eu não via quando ele olhava para mim.