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Capítulo 3- A proposta do Monstro

Capítulo 3– A Proposta do Monstro

Rudbeckia já deveria ter previsto: não seria simples lidar com o Duque tirano do Norte. E, ainda assim, não se sentia preparada para o que encontraria ali. Cada palavra trocada, cada olhar, parecia um jogo silencioso de poder — e ela mal havia começado a entender as regras.

A conversa entre ambos foi interrompida de forma inusitada por um convite que parecia adivinhar sua fraqueza: um jantar.

Não apenas sentia fome. Sentia exaustão até nos ossos.

Alastair a levou até uma sala de jantar privada, um ambiente menor, de luzes baixas e atmosfera abafada. A mesa era estreita, feita de madeira escura, com apenas dois lugares. Um para ele. Um para ela.

A refeição foi impecável, mas o ar permanecia denso. Rudbeckia, mesmo saciada, manteve a tensão no olhar. Aquilo não era gentileza. Era premeditação. E ela sabia.

— Está com medo de mim, Marquesa Linperic? — Alastair questionou de forma tranquila, enquanto girava o vinho em sua taça.

Ela recusara a bebida. Não por desrespeito, mas por instinto. Não confiava nele — ainda.

— De forma alguma, Duque Liriafrith — respondeu com formalidade e um tom controlado. Seus olhos mantiveram-se nos dele, firmes. Sabia que, se desviasse o olhar, estaria admitindo fraqueza. — Talvez seja o senhor quem deva temer a mim. Dizem que sou uma sanguinária, afinal.

— Você acredita que lendas infantis me assustam? — indagou ele, com desdém quase divertido.

— Acredito que, se for sábio, deveria. — devolveu ela, com o mesmo tom.

Alastair arqueou levemente a sobrancelha e riu — um riso baixo, contido, que ecoou como provocação.

Ele esperava que a última Linperic fosse interessante. Mas não esperava que fosse tão afiada. Tão… viva.

— Muito bem — disse, recostando-se na cadeira com elegância calculada. Terminou a taça de vinho e a deixou de lado. Seus olhos, agora mais intensos, pousaram sobre ela como lâminas. — Você busca minha proteção. Mas o que exatamente eu ganho com isso? Acredite, não sou homem dado à generosidade.

Rudbeckia sentiu a garganta secar. As mãos apertaram o tecido rasgado de sua saia com mais força. Aquela pergunta a expunha. A feria. Mas ela não tinha escolha.

Sobrevivência custava caro. Sempre custou.

— O que deseja que eu faça? — indagou, baixando o tom, contra a vontade. A pergunta saiu com dificuldade — como se doesse entregar controle a ele, mesmo por palavras.

A resposta veio com um sorriso satisfeito. Não um sorriso gentil. Mas de quem acabara de vencer a primeira rodada.

— Isso é exatamente o que eu esperava ouvir.

Ele se levantou. Seus passos eram calmos, quase silenciosos. Aproximou-se da cadeira dela e se encostou na mesa, com as mãos apoiadas na cabeceira. Rudbeckia ergueu os olhos para ele e não conseguiu evitar: seus olhos deslizaram pelas veias saltadas dos braços, pela firmeza da postura. Ele parecia esculpido em pedra. E era, de fato, mais forte do que ela.

— As pessoas ao meu redor falham com frequência — começou ele, o tom baixo, mas carregado de veneno. — Talvez falte-lhes intelecto. Talvez audácia demais. Todos tentam me derrubar. Temem-me mais do que aos próprios Linperic. Curioso, não acha?

Ela não respondeu. O silêncio era, por ora, sua melhor defesa.

— Apesar disso — continuou —, ninguém sobrevive sozinho. Nem mesmo eu. Por mais força que tenha, continuo sendo humano. E todo humano precisa de aliados.

Ou, neste caso… de uma aliada à altura.

Ele então soltou a cadeira e estendeu a mão na direção dela. Ela a encarou, confusa, hesitante.

— Não existe aliada mais adequada do que uma Linperic. Então, case-se comigo, Marquesa. Seremos monstros intocáveis neste império cheio de covardes.

A proposta soou insana. Fria. Estratégica.

Mas fez sentido.

Alastair não a desejava. Não a cortejava. Ele a reconhecia. E queria usá-la.

Como ela pretendia usar ele.

— Não serei um fardo? — murmurou, com uma pontada de ironia. Uma vulnerabilidade que escapou antes que pudesse controlá-la.

Ele soltou um riso baixo, quase debochado.

— Depois de toda essa pose, está preocupada em ser um fardo?

A resposta a irritou. Instintivamente, sua mão se ergueu e agarrou o pulso dele com força. O contato entre as peles foi mais quente do que deveria. Ele a encarou, e o mundo pareceu encolher ao redor deles.

— Sendo um fardo ou não — ela disse, cerrando os dentes —, você vai me sustentar.

Os olhos dele brilharam, perigosamente satisfeitos.

— Sim. Eu gosto desse tom, Marquesa.

E então, sem pressa, levou a mão dela até os lábios e depositou um beijo na pele fria e pálida.

Ela deveria recuar. Deveria se sentir enojada. Mas só conseguia pensar em uma coisa:

Sobreviver.

Talvez estivesse louca. Talvez estivesse, de fato, vendendo a alma ao diabo.

Mas se essa fosse a única saída, ela aceitaria.

Rudbeckia sobreviveria.

E um dia, faria o império se ajoelhar diante do nome que tentaram apagar.

— Vamos selar este acordo com sangue. — declarou Rudbeckia, com a voz firme e gélida.

Era uma tradição ancestral dos Linperic. Um pacto firmado com sangue não poderia ser rompido sem consequências. Qualquer um que o traísse, teria o próprio sangue queimado por maldição — uma punição silenciosa e inevitável que se enraizava na carne e condenava até a alma.

— Por mim, está perfeito. — respondeu Alastair sem hesitar, os olhos faiscando com algo entre diversão e desafio.

Sem demonstrar receio, retirou sua espada da bainha com um movimento hábil. O som metálico cortou o silêncio. Ele a ergueu e passou a lâmina afiada sobre a palma da própria mão. O sangue escorreu, quente e escuro. Preparava-se para fazer o mesmo com a mão da mulher, mas Rudbeckia o impediu com um gesto calmo, determinado. Tomou a espada dele com delicadeza e precisão — como se já a conhecesse — e fez o corte por si mesma.

As mãos se encontraram.

O sangue dos dois se misturou — o dela, com brilho vívido e aura quase sobrenatural; o dele, mais denso e terreno. Era como unir dois mundos amaldiçoados.

Uma onda de magia percorreu seus corpos. Fria. Precisa. Irrevogável.

— Agora você nunca poderá me trair. — ela murmurou, os olhos fixos nos dele, como se fizesse questão de gravar cada traço de sua expressão.

Alastair inclinou levemente a cabeça, com um sorriso contido nos lábios.

— Como desejar, minha dama.

E assim foi selado o pacto entre Rudbeckia Eve Linperic e Alastair Adam Liriafrith.

O início de uma união que mancharia a história como o elo mais infame que o Império Enraven já ousou testemunhar.

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