Thor subiu as escadas em silêncio. Cada passo ecoava no corredor como um lembrete de tudo que estava acontecendo, tudo que estava por vir. Ao chegar no quarto, encontrou Celina já dormindo, envolta pelos lençóis brancos, o rosto sereno sob a luz tênue do abajur.Ficou ali, parado na porta, observando-a.Seu peito apertava. O desejo de deitar ao lado dela, de esquecer tudo e apenas sentir... era quase irresistível. Mas ele não podia. Não daquela forma.Tirou os sapatos, com movimentos lentos. Depois, foi se desfazendo da roupa, peça por peça, como se precisasse se libertar de mais do que apenas tecido.Entrou no banheiro e ligou o chuveiro. A água quente escorreu por sua nuca, pelo pescoço, descendo até as costas. Ele baixou a cabeça, apoiando as mãos na parede fria.Ficou ali, imóvel, lutando para silenciar a confusão na mente, o aperto no coração.Então, sentiu.Duas mãos pousaram suavemente em suas costas. Ele não se virou, mas fechou os olhos ao reconhecer o toque.Celina.Ela enco
O silêncio cortante da manhã foi o primeiro golpe que atingiu Celina ao despertar. Não era apenas a ausência de som — era a ausência dele. De novo. O lençol de cetim, frio e intacto ao seu lado, gritava uma verdade que ela já não conseguia mais ignorar: César não havia voltado para casa. E aquilo se repetia há meses. Com os olhos ainda grudados pela noite mal dormida, ela permaneceu imóvel, encarando o teto branco do quarto gigantesco que mais parecia um palco abandonado. A mansão, imponente por fora, era agora uma prisão dourada por dentro. O luxo dos móveis, as obras de arte nas paredes, os arranjos de flores perfeitamente trocados pelas mãos das funcionárias... tudo era supérfluo diante do vazio que consumia seu peito. Ela se sentou devagar, com um nó apertando a garganta. Os pés descalços tocaram o chão gelado. O eco dos seus próprios passos, enquanto caminhava até o closet, parecia zombar da solidão que a rodeava. Parou diante do enorme espelho e se encarou. O reflexo a fez pre
Celina viu aquele abdômen definido e musculoso reluzindo com os respingos d’água. Ela não conseguiu evitar o olhar. Ele era bonito. Bonito demais para a situação em que estava. E aquilo... aquilo era estranho. Ela se levantou, ainda atordoada, e notou o ombro dele avermelhado. Deu um passo em sua direção, preocupada, mas tropeçou no pé de uma mesinha antiga no quarto. Antes que pudesse cair, ele a segurou com firmeza. Os olhos escuros dele a observaram com atenção, estudando cada detalhe do seu rosto. Celina o encarou por alguns segundos. Havia algo naquele homem que a intrigava. Um magnetismo silencioso e perigoso. Talvez fosse a bebida. Talvez o desespero. Então, ele a beijou. Um beijo possessivo, intenso, como se quisesse devorá-la por inteiro. O clima entre os dois esquentou, e Celina correspondeu. Queria aquele momento tanto quanto ele. Ela interrompeu o beijo, ofegante. — Isso não pode acontecer... é loucura. Eu nem sei quem você é. Nem o seu nome... — Também não
Celina estacionou o carro na garagem da mansão e ficou ali por alguns instantes, respirando fundo. As mãos ainda tremiam no volante, e sua mente estava um turbilhão. A noite anterior parecia um borrão, um sonho — ou talvez um pesadelo. Desceu do carro com passos incertos e entrou na casa em silêncio. A mansão estava mergulhada na escuridão, apenas algumas luzes de presença iluminavam discretamente o caminho até o quarto. Subiu as escadas devagar, o coração acelerado. A cabeça martelava, reflexo da bebida e da madrugada intensa que tivera. Quando empurrou a porta do quarto e entrou, encontrou tudo escuro. Suspirou aliviada, pensando que poderia deitar e tentar esquecer tudo. Mas então, um clique suave ecoou no ambiente. A luz do abajur ao lado da poltrona foi acesa, e Celina conteve um grito ao ver a silhueta de César sentado ali, à sua espera. Os olhos dele estavam sombrios, o rosto rígido, uma expressão de puro ódio. — Onde você passou a noite? — a voz dele cortou o silêncio co
Sentado atrás da enorme mesa de mogno, olhando-a com um misto de surpresa e divertimento, estava ele. O mendigo, o morador de rua. Os olhos dele, agora friamente calculistas, a encararam com um leve toque de diversão — quase desdém. Havia algo de diferente nele agora… não apenas o terno perfeitamente alinhado, ou o corte de cabelo impecável. Era o modo como ele a olhava. Como se tivesse vencido algum tipo de jogo que ela nem sabia que estava jogando. — Senhorita Bernardes… — ele murmurou, cruzando os dedos sobre a mesa. — Que coincidência interessante. Celina engoliu em seco, tentando disfarçar o choque. O que ele estava fazendo ali? Mais importante: o que ele sabia sobre ela? Celina ainda sentia o impacto da surpresa enquanto se sentava na cadeira de couro à frente da enorme mesa de mogno. O choque de o encontrar naquele escritório luxuoso, o homem daquela noite, o mendigo, a deixou sem palavras por alguns instantes. Ele estava ali, à sua frente, como seu possível chef
Celina virou-se vendo uma mulher lindíssima entrar sem hesitação. Sentiu o estômago despencar. — Que saudade, amor! Celina ficou paralisada. Seus olhos instintivamente desceram para as mãos de ambos. Ali estavam as alianças douradas. Thor levantou-se da cadeira com uma expressão fechada, passou por Celina sem dizer uma palavra e seguiu Isabela até o corredor. Celina permaneceu sentada, com o coração disparado e um nó se formando em sua garganta. No lado de fora, a voz ríspida de Thor ecoou, ainda que ele tentasse conter a irritação: — Isabela, já falei que não quero interrupções no meu trabalho. Isso é inaceitável. — Você está levando isso a sério demais, amor — ela respondeu, emburrada. — Eu só queria te ver. — Não é o momento. Vá para casa. A gente se fala depois. Isabela revirou os olhos. — Deixa de ser chato, amor. Thor limpou a garganta e, com visível irritação, disse: — Porra Isabela, já falei e não vou repetir novamente, vai pra casa agora. Isabela bufou, cruzand
Celina encarava o teste de gravidez sobre a pia do banheiro da empresa, incapaz de desviar o olhar daquelas duas linhas cor-de-rosa. Positivo. Seu coração batia descompassado, e sua mente estava um caos. — O que eu vou fazer agora? — murmurou, passando as mãos trêmulas pelos cabelos. Ela começou a andar de um lado para o outro, sentindo o desespero crescer em seu peito. — Eu posso ser demitida… Não sei nem quem é o pai… Sua respiração estava acelerada. Sua cabeça girava. Não fazia ideia de quantas semanas estava, e essa incerteza a aterrorizava. Se fosse de César, seria um golpe do destino. Um último laço que a ligaria para sempre a ele, quando tudo o que queria era esquecê-lo. Se fosse de Thor… Celina apertou os olhos, recusando-se a terminar o pensamento. As lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ela não estava pronta para aquilo. O som do telefone tocando na sala ao lado a fez prender a respiração. Ela ignorou, incapaz de se mover. O telefone tocou novamente. E nova
Celina saiu do consultório médico com as pernas trêmulas, sentindo o coração martelar contra o peito. Cada palavra da ginecologista ecoava em sua mente como um martelo em vidro frágil: "Um mês e três dias." "Precisamos marcar seu pré-natal." Ela entrou no carro quase no automático e fechou a porta com força. Suas mãos tremiam tanto que teve que segurar o volante por um instante antes de ligá-lo. Mas, ao invés de dar a partida, abaixou a cabeça e apoiou a testa no couro frio do volante. — Não… isso não pode estar acontecendo… — sussurrou, sua voz quebrada pelo choque. Fechou os olhos, tentando encontrar uma falha, uma possibilidade de erro. Mas os cálculos eram claros. O pai do seu filho só podia ser uma pessoa. Thor Miller. Seu chefe. O homem que ela odiava com cada fibra do seu ser. O homem arrogante, prepotente, frio e insensível. O homem que a tratava como se fosse descartável, como se sua existência se resumisse ao trabalho que fazia para ele. E agora… Celina