Lá dentro, Celina caminhava como quem pisava em cacos de vidro, tentando não se despedaçar ainda mais.Assim que chegaram à sala, Tatiana deixou a mala de Celina no canto e a conduziu até o sofá. Sentou-se ao lado dela, segurando suas mãos trêmulas.— Senta, amiga. Respira. — pediu com carinho. — Você não precisa ser forte agora, só precisa estar aqui. Pelos seus filhos... por você.Celina desabou mais uma vez, recostando a cabeça no ombro da amiga. O corpo dela tremia. As emoções transbordavam em lágrimas silenciosas.— Eu não queria isso. — murmurou. — Não assim... Não com o Gabriel machucado, o Thor fora de si. Eu só queria... paz.Tatiana acariciava seus cabelos com delicadeza, como quem embala uma criança ferida.— Você tentou, Celina. Tentou demais. Mas agora você tem que pensar em você... e nos bebês. Eles sentem tudo, lembra?Celina levou a mão até o ventre, como se pudesse sentir o coração dos gêmeos batendo com força, a fazendo lembrar que ainda estavam ali, vivos, presentes
Depois de umas duas horas, o quarto de Celina estava mergulhado em uma penumbra suave. As cortinas semiabertas deixavam entrar uma luz tímida, pintando as paredes com tons de melancolia. Celina estava deitada, coberta até a cintura, os cabelos soltos e levemente bagunçados. Seu olhar perdido no teto denunciava o turbilhão interno que ainda não cessara. Sentada ao seu lado, Tatiana ajeitava uma compressa fria em sua testa, como quem cuidava de uma irmã ferida — não no corpo, mas na alma.— Amiga… — disse Tatiana com a voz baixa, mas firme — agora que está mais calma, vamos conversar. Eu entendo o que você passou, de verdade. Thor esteve aqui. Contou tudo que aconteceu… — ela fez uma pausa curta — tudo o que rolou naquele jantar horrível.Celina desviou os olhos para ela, sem força para reagir.— Não tô dizendo que ele tá certo, tá? Mas eu quero que você se coloque no lugar dele um pouquinho. Você sumiu. Ele veio aqui desesperado atrás de você. Eu vi, Cê. Desesperado mesmo. E você… você
Thor subiu devagar, cada passo ecoando no silêncio da casa. Quando chegou diante da porta do quarto, parou por um instante. Respirou fundo e, com delicadeza, empurrou a porta, entrando.Lá dentro, Celina estava de pé, olhando pela janela. O som suave da porta se fechando fez com que ela se virasse lentamente.Os olhos dos dois se encontraram.Thor ficou parado próximo à porta. Celina, ao lado da janela. Nenhuma palavra foi dita. Não ainda. Mas naquele silêncio, havia uma tempestade de sentimentos.O olhar de Thor estava triste, cansado, quebrado. O de Celina, profundamente ferido, mas cheio de amor não dito.As lágrimas começaram a escorrer dos olhos dela, sem que ela pudesse controlar. Um soluço contido escapou de sua garganta, enquanto ela apenas o encarava.Durante dois minutos, eles ficaram assim.Um diante do outro.Silenciosos.Partidos.Mas conectados por algo que nem mesmo a dor conseguiu apagar.Thor quebrou o silêncio, a voz firme, mas sem agressividade.— A gente precisa co
Após as apresentações, a senhora perguntou:— Vão querer alguma coisa pro lanche? Pro jantar?— Hoje não, dona Lúcia. Amanhã a senhora faz algo bem gostoso pra gente. Hoje é só descanso, tá bom?Ela sorriu e assentiu, indo embora com o marido.Thor entrou na casa, Celina logo atrás. Ele subiu as escadas caminhando pelo corredor e, sem sequer olhar para ela, falou:— Vou te mostrar o quarto que você vai dormir.Celina parou por um segundo. O peso da frase caiu sobre seus ombros como uma rocha. Não era o quarto deles, era o quarto dela. O afastamento era claro. O desprezo dele era palpável.E, mais do que nunca, ela sentiu o que era estar distante de quem ainda se ama.Thor empurrou a porta do quarto com suavidade. O espaço era amplo, arejado, com uma decoração que mesclava o rústico ao acolhedor. Entrou primeiro e colocou a mala de Celina com cuidado sobre a poltrona de couro que ficava perto da janela.Sem virar-se completamente para ela, apenas com o corpo inclinado de lado, disse co
Sentada na rede, ajeitou os cabelos com os dedos, tentando se recompor. Lembrou-se do copo de água e o pegou do chão ao lado da rede. Caminhou lentamente até a cozinha.Colocou o copo na pia com cuidado e foi então que percebeu uma fruteira de madeira sobre a bancada, cheia de frutas frescas. Pegou uma banana e comeu. Estava tão madura e doce que, ao terminar, pegou outra sem pensar. Só então percebeu o quanto estava com fome. A falta de apetite dos últimos dias começava a dar lugar a uma necessidade física que seu corpo não conseguia mais ignorar.Abriu a geladeira à procura de algo mais. Seus olhos pousaram sobre uma garrafa de iogurte de morango. Serviu-se em um copo pequeno e bebeu devagar, sentindo o sabor doce e suave invadir a boca. Fechou os olhos por um segundo. Aquela simplicidade lhe trouxe uma sensação estranha de conforto.Passou a mão no ventre, como se buscasse ali um pouco de força, um pouco de coragem. E encontrou.Levantou a cabeça. Era hora de ir até ele.Decidida,
Celina o olhou nos olhos, profundamente. As lágrimas caíam sem controle.Thor soltou seus braços e se afastou.— Eu tenho culpa. Por não ter resolvido minha vida com Isabela antes de me envolver com você. Errei. Devia ter proibido o livre acesso dela à minha cobertura antes de te levar pra lá. Mas eu queria ficar mais tempo com você. Porque eu não estou brincando de casinha, Celina.Ele fez uma pausa, respirando fundo.— Errei por ter transado com Isabela sem preservativo. E agora ela tá grávida. Ela soube muito bem como me prender com isso. Sim, o casamento tá marcado, mas tudo por interesse familiar. Eu não tive escolha... até te conhecer.Thor deu um passo à frente.— Estou aqui reconhecendo meus erros pra você. Mas você... você colocou a cabeça pra funcionar? Porque no jantar, eu estava com você. O tempo todo. E por fim, fui pro quarto resolver minha vida, porque você é minha prioridade. E o que você fez?Celina soluçou.— Amor... me perdoa. Mas se coloca no meu lugar. Eu fiquei n
Thor subiu as escadas em silêncio. Cada passo ecoava no corredor como um lembrete de tudo que estava acontecendo, tudo que estava por vir. Ao chegar no quarto, encontrou Celina já dormindo, envolta pelos lençóis brancos, o rosto sereno sob a luz tênue do abajur.Ficou ali, parado na porta, observando-a.Seu peito apertava. O desejo de deitar ao lado dela, de esquecer tudo e apenas sentir... era quase irresistível. Mas ele não podia. Não daquela forma.Tirou os sapatos, com movimentos lentos. Depois, foi se desfazendo da roupa, peça por peça, como se precisasse se libertar de mais do que apenas tecido.Entrou no banheiro e ligou o chuveiro. A água quente escorreu por sua nuca, pelo pescoço, descendo até as costas. Ele baixou a cabeça, apoiando as mãos na parede fria.Ficou ali, imóvel, lutando para silenciar a confusão na mente, o aperto no coração.Então, sentiu.Duas mãos pousaram suavemente em suas costas. Ele não se virou, mas fechou os olhos ao reconhecer o toque.Celina.Ela enco
O silêncio cortante da manhã foi o primeiro golpe que atingiu Celina ao despertar. Não era apenas a ausência de som — era a ausência dele. De novo. O lençol de cetim, frio e intacto ao seu lado, gritava uma verdade que ela já não conseguia mais ignorar: César não havia voltado para casa. E aquilo se repetia há meses. Com os olhos ainda grudados pela noite mal dormida, ela permaneceu imóvel, encarando o teto branco do quarto gigantesco que mais parecia um palco abandonado. A mansão, imponente por fora, era agora uma prisão dourada por dentro. O luxo dos móveis, as obras de arte nas paredes, os arranjos de flores perfeitamente trocados pelas mãos das funcionárias... tudo era supérfluo diante do vazio que consumia seu peito. Ela se sentou devagar, com um nó apertando a garganta. Os pés descalços tocaram o chão gelado. O eco dos seus próprios passos, enquanto caminhava até o closet, parecia zombar da solidão que a rodeava. Parou diante do enorme espelho e se encarou. O reflexo a fez pre