Capitulo 5

Gabriel estava no seu escritório, concentrado nos ficheiros, quando sentiu de novo o cheiro que o estava a enlouquecer.

Depois ouviu a voz dela a cumprimentar Carol.

Esperou que talvez a Sra. Wolf batesse à porta para confirmar a sua presença, mas sentiu-a parar por um momento à sua porta e depois continuar o seu caminho.

Passaram mais duas horas, durante as quais ela parecia ignorá-lo.

"Não sejas ridículo, Gabriel", disse para si próprio, "ela está a trabalhar. Concentra-te no teu trabalho.

Se fosse um trabalho normal, com um chefe normal, não seria invulgar.

Cada um por si e com contactos limitados ao formal.

Mas não valia a pena iludir-se. Ele queria voltar a vê-la, sabe-se lá por que razão absurda.

Selena soube que ele tinha aceitado o emprego assim que chegou ao seu apartamento.

Não precisava de o confirmar.

Mas já tinha decidido a sua estratégia de sobrevivência: manter a distância.

Estava mais preocupada com a sua fórmula roubada, por isso ligou a um detetive que parecia bem qualificado e falou com ele rapidamente, sem especificar muito.

-Boa tarde, detetive Cooper. Recebi uma referência muito boa da sua parte.

A voz do outro lado da linha parecia lisonjeada.

-É uma honra, vindo de si. Admito que sigo de perto a sua carreira. Como especialista em conflitos e espionagem empresarial, esperava ansiosamente pelo momento em que precisaria dos meus serviços.

Apanhaste-me de surpresa... Então, sabes o motivo da minha chamada?

-Não exatamente, mas, para ser honesto, estou ciente do interesse dos seus concorrentes na nova linha de fragrâncias. Eles estão desesperados para não irem à falência como o resto das empresas locais...

-Compreendo... Infelizmente, o meu problema é um pouco mais... pessoal.

-Sou toda ouvidos.

Selena suspirou. Não podia revelar os seus verdadeiros motivos, pelo menos por enquanto, mas podia ser um pouco honesta.

-É uma fórmula secreta, mas não faz parte das nossas fragrâncias comerciais. É para uso pessoal, algo como um "fato feito à medida" mas em perfume. Como qualquer outro produto feito à medida, não é adequado para todos os tipos de pele.

-Acho que percebi... Se não me engano, cada fragrância tem um aroma diferente consoante as características de quem a usa: o pH da pele, por exemplo... Estou correto?

-Exatamente, detetive. Essa fórmula não funciona para que a minha concorrência a possa fabricar em quantidade. Mas digamos que não estou interessado em que ela seja replicada e difundida... Pode ser uma questão de... orgulho pessoal. Não gosto de ser roubado no nariz.

-Bem... e o que é que queres que eu faça?

-Por agora, quero que o localizes, que descubras o que estão a fazer com essa fórmula, onde a guardam, se estão a fazer algum lote de perfume... seja o que for. Depois veremos como proceder...

O homem acenou com a cabeça. Estava habituado a tais tarefas.

-Perfeito. Vou fazer isso. Mantenho-o informado.

-Obrigado, detetive. Será bem recompensado.

Depois de a chamada ter sido interrompida, ficou pensativa.

A fórmula, mais do que um perfume, foi concebida para esconder a sua verdadeira natureza.

Num ser humano, era até desagradável.

Mas na pele de Selena, era uma camuflagem. Uma que lhe permitira fugir pela floresta, apesar do olfato apurado daqueles que a caçavam.

Ela não sabia se ainda estavam à sua procura. Ou porque é que a procuravam.

Só sabia que qualquer um da sua espécie que acedesse à poção que ela usava para se esconder a encontraria imediatamente e saberia quem, ou o quê, ela era.

Ela estava pensando, quando suas narinas se abriram de repente, e em sua cabeça Maia quase ofegou.

Não precisou de olhar para perceber que Gabriel estava em frente à sua porta.

E ela não estava preparada para o voltar a ver.

A batida suave na porta anunciou-lhe que seria inevitável. Pegou numa pasta de fórmulas, levantou-se, afastou-se em direção à janela e, disfarçando a voz o mais neutralmente possível, respondeu:

-Vai em frente.

Ouviu-o abrir a porta e entrar com desenvoltura.

-Desculpe, Sra. Wolf. Recebi uma chamada do Sr. Ford do laboratório. Ele precisa de si para verificar as alterações na fragrância feminina....

Ela nem sequer olhou para ele para responder.

-Obrigada, Sr. Reyes. Diga-lhe que estarei lá dentro de meia hora.

Gabriel sentiu a raiva a crescer dentro de si. Não gostava de ser ignorado e, se fosse outro chefe, em qualquer outro emprego, teria explodido numa explosão a queixar-se desta desatenção.

Porque é que ele permitia que ela falasse com ele daquela maneira, como um cãozinho de colo?

Ele reprimiu a vontade de responder com insolência, do tipo que sempre o metera em sarilhos, e disse apenas: "Muito bem, Sra. Wolf:

-Muito bem, Sra. Wolf, precisa que a acompanhe ao laboratório?

Selena virou-se ainda mais e virou-lhe as costas.

-Isso não será necessário. Obrigada. Pode ir.

Ele cerrou o maxilar e saiu.

Na sua mente, disse a si próprio que aquela era a verdadeira chefe, a mulher de negócios fria e calculista, e que o brilho quente e dourado dos seus olhos tinha sido uma miragem.

Que era o seu primeiro dia, que tinha dormido mal e que não devia levar isso a peito.

Mas sentia-se estranho. Como se não fosse suposto as coisas serem assim.

"Não gosto do que fazes."

"Cala-te, Maia. Eu contratei-o, como tu querias, mas ele é um perigo latente."

"Podias ser mais brando..."

"Desde quando é que me tornei numa mulher mole? Não vejo porque hei-de mudar agora. Pelo contrário. Habitua-te, porque não corro o risco de cair em tentação..."

"Isso é o que vamos ver."

Carol viu Gabriel sair do gabinete do chefe com uma expressão irritada. Ela sorriu-lhe e tentou suavizar a situação.

-Primeiro dia difícil?

Ele olhou para ela e sorriu de volta. A secretária não era má. Talvez ela pudesse distrair-se no futuro.

-Nem por isso... Apenas pensei que teria a oportunidade de estar mais perto da Sra. Wolf, como sua assistente. Mas ela parece ignorar-me.

-Crê em mim, é melhor que ela te ignore... -Crê em mim, é melhor que ela te ignore...

Ela assusta-te assim tanto?

Bem, eu não sou exatamente uma rapariga com força de vontade. Mas a Sra. Wolf às vezes assusta-me, admito. É porque ainda não a viste zangada?

-Compreendo... e quando ela está de mau humor, há alguma coisa de que ela goste? Alguma atenção?

A jovem pensou durante alguns minutos.

-Um café, árabe, de grãos torrados e macios, sem açúcar. A cafetaria ao fundo do quarteirão vende-os. Sei que a Susan costumava comprá-los quando se enganava...

-Susan?

-A sua antiga assistente...

-Claro... -Susan?

Bem, isso era um começo. Se dentro de meia hora o seu chefe viesse ao laboratório, ela poderia ir buscar o seu café e cumprimentá-lo com uma atenção que reforçaria a sua relação de trabalho em fase de arranque.

Ele estava ali para aprender com ela, não para ser mantido à margem. A distância não era boa para ele.

Selena saiu para o laboratório, passou pelos dois sem olhar para eles e desapareceu no elevador. Prendeu a respiração para não tremer.

Aguentou o Sr. Ford, que pelo menos tinha corrigido a fragrância para que não cheirasse a plágio, autorizou a produção e saiu, pensando que devia ir ao departamento de design para redefinir o novo frasco e a nova embalagem.

Estava tão distraída que só reparou nele no ar quando já era tarde demais para se esquivar, correndo de cabeça para o corpo largo e forte de Gabriel.

Sentiu-se tonta, sentiu o café quente na saia e os braços musculados a segurarem-na para que não caísse.

O nariz de Gabriel cravou-se no seu pescoço, chupando com força, e ela ofegou descontroladamente, enquanto na sua cabeça ouvia o gemido e o grito de Maia:

"Mate!"

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