O sol começava a se pôr no horizonte quando Amy encostou o telefone no ouvido e esperou Marcus atender. O coração dela batia acelerado, não de nervosismo, mas de excitação pelo que estava prestes a acontecer.— Oi, meu amor — a voz dele soou do outro lado, cansada, mas suave, trazendo um conforto automático para Amy.Ela sorriu ao ouvir o tom dele, imaginando-o sentado em sua mesa do escritório, provavelmente afrouxando a gravata e esfregando os olhos cansados após horas de trabalho.— Oi querido. Você já saiu do escritório?— Ainda não. Estou finalizando algumas coisas. Você precisa de algo?Amy hesitou por um segundo, mordendo o lábio. Não queria mentir para ele, mas também não queria revelar seu segredo. Ainda não. Precisava aguentar até a surpresa.— Na verdade, eu queria passar um tempo com a minha mãe hoje. Conversar sobre a premiação, pegar algumas dicas sobre roupas. Ela sempre foi boa nessas coisas, sabe?Marcus riu baixinho, e Amy podia praticamente ver o sorriso cansado del
A noite da premiação enfim chegou.O clima na suíte do hotel cinco estrelas era de correria e emoção, mas Amy permanecia quieta em meio ao caos. Sentada diante do espelho, ela passava a mão pela barriga em gestos delicados e repetitivos, como se tentasse transmitir segurança ao pequeno ser que carregava. A equipe ao redor, formada por maquiadores, cabeleireiros e etilistas, atribuía aquele comportamento à ansiedade pela premiação — afinal, Amy Summers era a favorita da noite.— Está tudo bem, Amy? — perguntou Layla, a maquiadora, enquanto finalizava os olhos da cantora com sombras em tons de vinho e dourado, com um delineado gatinho preciso que realçava seus olhos expressivos.— Está sim… só tentando manter a calma — ela respondeu, com um sorriso tímido. O batom, um tom profundo de vinho, completava o visual com sofisticação.Seu cabelo foi finalizado com ondas largas e soltas, mas no topo, uma delicada trança embutida formava uma espécie de coroa, adornada com pequenos cristais discr
Amy respirou fundo diante do microfone. A plateia silenciada esperava por suas palavras, mas ela ainda sentia o coração disparado, as mãos trêmulas e os olhos marejados.— Eu… — ela começou, e a voz saiu baixa, quase como um sussurro. — Eu estou extremamente honrada de ganhar este prêmio. Isso… isso não é só uma estatueta. Isso não é apenas um reconhecimento. Isso é um marco. Um símbolo de algo muito maior.Ela fez uma pausa, buscando forças dentro de si.— Durante anos, eu desejei poder olhar para o céu e dizer ao meu pai, John, que a gente conseguiu. Que tudo valeu a pena. Que todas as noites chorando no meu quarto, todas às vezes que pensei em desistir, me trouxeram até aqui. E agora eu posso dizer: conseguimos, pai.A plateia reagiu com um “awww” coletivo, e Amy levou a mão ao peito, segurando o prêmio com firmeza.— Quero agradecer a todos que caminharam comigo até aqui. À minha mãe, Melissa, por ter me ensinado a ser resiliente. Ao meu padrasto, Charles — ela sorriu emocionada —
As semanas que se seguiram após a premiação foram um sopro de paz na vida de Amy. A intensidade do anúncio da gravidez, o pedido de casamento, o prêmio consagrado… tudo parecia um sonho que, aos poucos, ia ganhando forma concreta, preenchendo os espaços antes vazios da vida dela com uma nova rotina repleta de amor, esperança e renovação.A mansão, antes silenciosa em muitos momentos, agora vibrava com vida. Pela manhã, o som do riso de Sophie ecoava pelos corredores, seguido pelo aroma delicioso do café da manhã que Charles preparava com dedicação quase cerimonial. O homem, sempre de avental e com um sorriso nos lábios, assumira com alegria o papel de cuidador e chef da família. Ele dizia que era sua forma de participar, de cuidar da filha e do neto que viria — um neto que, mesmo ainda invisível ao mundo, já transformava completamente a dinâmica da casa.Melissa, por sua vez, não passava um único dia sem aparecer por lá. Levava frutas frescas, revistas de noiva, histórias sobre gravid
O sol se despedia com suavidade quando os primeiros convidados chegaram à chácara escondida entre colinas verdes e árvores antigas, cercada por um pequeno lago que refletia os tons dourados do fim da tarde. A cerimônia de Amy e Marcus seria íntima, longe de flashes, câmeras ou sussurros da mídia. Só havia espaço para o amor e as pessoas que verdadeiramente importavam.Os Caldwell e os Summers estavam reunidos — com Charlotte controlando as lágrimas antes mesmo da cerimônia começar, e Benjamin organizando os últimos detalhes da mesa com flores brancas e lavandas, escolhidas a dedo por Sophie. Melissa conversava animadamente com Zoe, que estava deslumbrante num vestido azul suave, enquanto Charles, em seu terno bem alinhado, andava de um lado para o outro, testando mil vezes o percurso que faria ao lado de Amy.Ethan, é claro, estava quase histérico com a beleza do local, mas contido. Dessa vez, não como empresário, mas como amigo. Ao seu lado, estava Einar — o islandês de sorriso tímid
Amy olhava para as nuvens através da janela minúscula do avião e se perguntava o que exatamente estava fazendo de sua vida. Era estranho pensar que dois anos atrás tinha ido para Los Angeles apenas com uma bolsa de roupa, o violão de seu pai e uma promessa feita para si mesma.A garota havia saído de Oakland assim que fez 18 anos, sendo incentivada por seu padrasto e sua mãe. Foram longos meses treinando antes de finalmente colocar os pés em um palco, aos 19 anos. Ainda se lembrava da sensação de entrar em um palco para fazer a abertura do show de outra cantora que já estava no ramo há mais de 10 anos.Ser ovacionada após cantar uma música antiga dessa mesma cantora, seu coração saltava como se tivesse levado um susto. Seus pelos se arrepiaram e ela finalmente percebeu que ser cantora era algo que a deixava animada.Mas meses após lançar sua carreira, Amy se perguntava se ela gostava realmente de ser cantora, ou se aquilo era só fruto de uma promessa feita para seu pai.Após a morte d
Amy soltou uma risada nasalada lembrando-se da tarde de piquenique. De fato, boa parte de suas músicas eram as escritas por seu pai, e todas elas eram aclamadas e extremamente sentimentais. Posts em redes sociais elogiavam aquelas músicas e até mesmo eram usadas nas biografias de alguns perfis de fãs.A cantora saiu brevemente de seu devaneio ao ouvir o homem ao seu lado bufar. Ela olhou de canto de olho e o viu encarar o computador de forma irritada. O homem sentindo-se observado olhou para Amy, seus olhos se encontraram por um instante e a cantora se viu perdida no verde dos olhos alheio. Ela tinha a sensação de já o ter visto em algum lugar, mas não sabia ao certo onde.Quando ele franziu o cenho, Amy pigarreou e desviou o olhar sentindo-se envergonhada por encará-lo, mas logo esqueceu-se da situação e voltou a olhar para a janela.A cantora olhou para o celular e viu a data, novamente outra lembrança tomou conta de sua mente, uma das últimas lembranças felizes que tinha tido com
Após o avião pousar em Los Angeles, Amy pigarreou e saiu logo atrás do homem de olhos verdes. Estava envergonhada, tão acostumada a ter fãs ao seu redor que uma interação com alguém que parecia não a conhecer a deixou desconcertada.Não sabia ao certo como poderia pedir desculpas, e sentia que não podia deixar aquele homem ir embora sem um pedido de desculpas realmente válido. Sentia que precisava falar com ele novamente, era como se o seu corpo estivesse sendo atraído para ele.Assim que saíram do avião, Amy, por um impulso segurou o braço do homem ainda a sua frente.— O quê? — Amy observou o olhar confuso e cansado do homem a sua frente que parecia ter pelo menos uns 35 anos. — O que está fazendo?— Ah! Desculpe. — Balbuciou as palavras sem saber ao certo o porquê de ter feito aquilo. — O lenço. — Pigarreou evitando o olhar dele. — O lenço que me emprestou. — Começou desajeitada, completamente sem graça. — Preciso devolvê-lo. Se me falar qual o seu nome e onde trabalha, posso pedir