Mundo ficciónIniciar sesiónSophia
Esse rompante do Simon em decidir viajar sem ao menos me falar nada, e ainda por cima remarcar um compromisso tão importante para nós, tendo um casamento a poucos dias de acontecer, é muito — mas muito — anormal. Meu noivo não é um exemplo de perfeição. Tem seu jeito todo arrogante de ser, sempre foi metido a playboy, e é exatamente isso que irrita profundamente a minha irmã. Ela acha que o Simon me trai em suas andanças de vez em quando. Nunca peguei muito no pé dele, pois sempre teve esse jeito de garanhão desde adolescente. Muitas vezes achei que fosse fogo de palha, só para chamar a atenção das meninas e bancar o conquistador. Foi assim comigo — e, de fato, acabou me conquistando. Durante esses quase sete anos entre namoro e noivado, tivemos nossos altos e baixos, como em qualquer outra relação. Nunca duvidei do amor dele por mim, e sempre tive certeza do sentimento que tenho por ele. Não tenho dúvidas de que o quero como meu marido e, futuramente, pai dos meus filhos. Só não entendo o que pode ter acontecido para ele agir assim, de uma hora para outra — embora eu já tenha observado mudanças em seu comportamento nos últimos meses. — Grace, por favor, tenta ligar para a GBS Investments e tenta remarcar a reunião com os consultores. De preferência, veja se podem vir até San Francisco para nos reunirmos — peço à minha assistente, que me olha com os olhos esbugalhados. — Sei que é a segunda vez que alteramos a data. Se eles questionarem, explique que o motivo é de força maior. Vamos torcer para dar certo — pisco para ela e entro em minha sala. — Farei isso agora mesmo, Srta. Foster — responde, e eu sei que está com os nervos à flor da pele. Entro na minha sala e resolvo continuar a conferir os contratos que estão sobre minha mesa. Uma coisa de cada vez. Tenho responsabilidades com o meu trabalho, mas também não vou renunciar ao meu casamento. São quase sete anos da minha vida dedicada ao Simon, e não posso desistir do nosso casamento faltando tão pouco para acontecer. Após adiantar boa parte da revisão dos relatórios, tentei ligar para o Simon, mas o celular só dava na caixa postal. Tentei falar com os pais dele, mas também não atendiam. E o Sr. Peter Bayer não aparece na Foster há dois dias. Estou começando a ficar nervosa com tudo isso. Estamos a poucos dias do casamento, e esse comportamento dele e dos pais, nessa altura do campeonato, é muito estranho. A ideia do meu pai em adiar o casamento também me causou estranhamento. — Srta. Foster, consegui agendar a reunião com a GBS Investments, mas não será com os consultores executivos, e sim com o CEO e o diretor financeiro — informa minha assistente ao entrar na sala. — Eles estarão em San Francisco na próxima semana, e na quarta-feira estarão disponíveis. — Nossa, isso só aumenta a pressão. Meu casamento será no sábado... vai ser bem corrido — comento, enquanto penso na quantidade de compromissos que terei na semana que vem. — Acho que vou parar por aqui — começo a organizar a papelada que analisava sobre a mesa. — Por hoje já deu. Preciso descansar... mas antes, preciso descobrir onde está o meu noivo. Encerro meu expediente e sigo direto para o meu apartamento — ou melhor, meu e do Simon. Moramos juntos desde o nosso noivado, há três anos. Ontem acabei dormindo na casa dos meus pais porque tinha algumas pendências do casamento para resolver com a Maya e acabei ficando por lá. Quando cheguei à empresa, não estranhei a ausência dele, pois imaginei que tivesse saído para resolver algo fora do escritório, o que já é de costume. Me enterrei na papelada e nem me dei conta de que não o havia visto durante o dia todo. A decisão de viajar sem me dizer nada não vai passar batida — mas não vai mesmo. Ao chegar ao apartamento, me deparei com um silêncio absoluto. Bem, já era de se esperar, mas havia algo diferente ali. Eu só não sabia identificar o quê. Entrei em nosso quarto e encontrei um bilhete sobre a cama: “Sophia, Precisei viajar com urgência para resolver um assunto pessoal. Não pude falar com você e nem posso falar por telefone. Chegarei a tempo para os eventos do casamento e conversaremos. Simon” Isso está ficando cada vez mais sinistro. Como assim “viajou para resolver um assunto pessoal”? E o que pode ser tão pessoal a ponto de eu não saber? Moramos juntos, dividimos a mesma cama, trabalhamos na mesma empresa. Há algo muito errado nessa história, e eu preciso descobrir o que está acontecendo. Resolvo ligar para a Emily. Minha despedida de solteira está marcada para amanhã, e ela é quem está à frente da organização. Depois de três tentativas de ligação para o celular da minha melhor amiga, desisto. Começo a sentir a ansiedade aumentar. Não costumo ser uma pessoa cismada ou neurótica; me considero bastante racional. Não sou do tipo de mulher grudenta ou ciumenta. Minha relação com o Simon sempre foi baseada na confiança. Nossas famílias são amigas desde sempre, e fomos criados convivendo no mesmo círculo social. De certa forma, todos esperavam nossa união. Pensando bem, não foi só o Simon que agiu estranhamente nos últimos tempos. Venho percebendo que minha mãe perdeu o interesse no casamento. Já não ajuda no planejamento, sempre tem uma desculpa para não participar de algumas decisões. A Maya também anda muito mal-humorada ultimamente. E meu pai parecia bem tenso quando fui falar sobre a viagem repentina do meu noivo. Resolvo tomar um banho e tentar dormir. Nem fome estou sentindo — talvez um copo de leite seja suficiente para não dormir de estômago vazio. Mas enquanto a água escorre pelo meu corpo, a sensação de que algo está prestes a explodir não me abandona. E amanhã, com a despedida de solteira se aproximando, talvez as peças comecem, enfim, a se encaixar...






