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Capítulo Cinco — Estabilidade e descanso

Gabriel

Londres, Inglaterra — Dias atuais

Me sinto cansado. Estou há quase dois meses trabalhando em um dos nossos projetos mais promissores. Nos últimos anos, a Inteligência Artificial tem sido motivo de intensas discussões. O debate global sobre questões éticas e sociais — como o impacto da IA no mercado de trabalho, privacidade e segurança — tem gerado inúmeros desafios. Mas isso não impediu que essa tecnologia fosse vista como motor de inovação, abrindo caminho para um futuro mais conectado e inteligente.

Há anos venho me dedicando ao desenvolvimento integrado de hardware e software, aplicando IA para criar soluções inovadoras. Com essa expertise, fundei a Synergy Sphere Global Holding, voltada não apenas à criação de tecnologia de ponta, mas também à integração de empresas do setor que necessitam de investimentos estratégicos e gestão eficiente para se consolidarem no mercado.

Nos últimos anos, nosso foco tem sido o desenvolvimento e aplicação de tecnologias relacionadas à IA. É essencial agregar empresas alinhadas com esse direcionamento estratégico, visando à unificação de ideias e esforços para impulsionar a inovação e o crescimento conjunto.

Nossa equipe de criação e implantação tem se reunido com gestores de diversas empresas interessadas em nossos métodos de gestão e estratégias de investimento. Uma delas é a Foster Technological Solution, de San José, Califórnia. Estamos transferindo nossa matriz para os Estados Unidos. Já temos uma sede em reforma no Vale do Silício, mas, por ora, estamos concentrados em Londres — meu país de origem.

— Sr. Smith, estou com a assistente da CEO da Foster na linha, solicitando mudança na data da reunião com nossa equipe, marcada para a próxima semana — informa minha assistente, ao entrar em minha sala.

— Mas já é a segunda vez que pedem para mudar — comento, suspirando. — Qual o motivo desta vez?

— O último agendamento foi feito em nome do Sr. Simon Bayer, diretor de produção. Mas, segundo a assistente da CEO, ele precisou fazer outra viagem com urgência e não poderá estar presente.

— E quem irá comparecer? — Esse promete ser um bom negócio, mas essa inconstância me incomoda.

— A assistente é da própria CEO. Ela pediu que a reunião fosse em San Francisco. Estará disponível entre segunda e quarta da semana que vem, pois os dias anteriores são inviáveis.

Fico em silêncio por alguns segundos. A Foster é estratégica para nossos planos de expansão, mas essa instabilidade me incomoda. Ainda assim, algo me diz que essa CEO merece ser ouvida pessoalmente. Talvez essa reunião revele mais do que números e projeções...

— Hum, parece complicado para eles cumprirem uma agenda — comento, irritado. Detesto quem não honra compromissos e espera que os outros se adaptem. — Providencie meu avião para San Francisco na segunda de manhã. Tenho um compromisso com minha família neste fim de semana, na Carolina do Norte, e de lá seguirei para a Califórnia. Ah, e ligue para o Mike. Ele vai comigo. Sem desculpas — desta vez ele não escapa.

Mike Lanox é meu melhor amigo e diretor financeiro da holding. Nos conhecemos desde a faculdade, e ele foi um dos que mais me incentivou e ajudou a construir o que somos hoje. Gosto de tê-lo ao meu lado em viagens de negociação. Ele é perspicaz e enxerga detalhes que muitas vezes me escapam.

Mas ele detesta essas viagens e sempre tenta fugir quando o incluo nos meus planos. Mike é casado, tem dois filhos em idade escolar e não gosta de sair da rotina familiar. Seu lema é: “usar a coleira de homem de família” — diga-se de passagem, com prazer. Mas eu tenho resistido sistematicamente.

Casamento um dia fez parte dos meus planos, quando ainda era um romântico iludido. Mas, desde o desastre com a Débora, decidi me manter solteiro até onde — ou quando — for possível. Sei que um dia terei que escolher alguém para me unir em casamento, talvez por conveniência, pois não pretendo entregar meu coração a mulher nenhuma.

— Ele vai ficar uma fera, Sr. Smith — minha assistente sorri, já prevendo a reação do Mike. — Prepare-se para um montão de desculpas. Vou agendar como o senhor pediu.

Ela sai da minha sala, e fico imaginando como será visitar meu pai semana que vem. O que eu queria mesmo era tirar esses três dias para descansar na minha cabana em Twin Peaks, em San Francisco. Preciso relaxar, tomar um bom vinho em minha própria companhia, sem horário para acordar ou comer, sem reuniões ou ligações — e, principalmente, sem ninguém para me encher o saco. Começando pela minha família.

Pensando bem, acho que irei fazer isso. Tirarei esse fim de semana e seguirei para minha cabana, deixando essa pressão dos últimos meses. Descansarei por uns dias antes da reunião com a responsável pelo projeto da Foster.

Sou tirado dos meus devaneios ao ouvir batidas na porta. Mike entra com a expressão fechada e cara de poucos amigos.

— Irmão, você quer mesmo me ver separado da minha esposa gostosa? — pergunta Mike, indo até o bar da minha sala e nos servindo uma dose de uísque. — Esse fim de semana é o aniversário da bruxa da minha sogra. Se eu não fizer tudo o que a Linda quiser, vou ficar uma semana sem sexo. Dá pra facilitar minha vida, Gabriel. Olha que eu vou descontar em você quando tiver uma esposa pra alegrar o seu pau todas as noites.

— Vai sonhando com isso, amigo. Não pretendo ter mulher nenhuma me esperando em casa, muito menos me chantageando com sexo. Não quero uma sogra pra chamar de bruxa — brindamos antes de beber, e ele se senta em frente à minha mesa.

— Quando você menos esperar, vai estar vivendo a mesma vida que eu, abanando o rabinho quando sua esposa estalar os dedos. Pode apostar.

— Grande amigo, você, hein? Jogando praga pra mim. E eu aqui pensando em te dar de presente uma viagem com a Linda pras Ilhas Maldivas... ou outro lugar que ela quiser — ele me lança um sorriso de canto. — Posso propor à Linda que te libere da obrigação do aniversário. Você vai comigo pra San Francisco e, quando voltar, te dou uma semana de férias para uma lua de mel antecipada.

— Pensando bem... acho que posso mudar de ideia — rimos juntos. — Vou adorar não ter que sorrir praquela velha horrorosa, fingindo que estou adorando estar lá, quando na verdade quero afogá-la na piscina.

— Você fala isso, mas ama sua sogra bruxa — provoco.

— Amo é o caralho, irmão. Aquela velha é uma empata-foda de merda. Não sai lá de casa e vive dando pitaco em tudo. Se eu não amasse tanto a minha delícia, já tinha dado o fora. — Ele suspira. — Sabe qual é a mais nova daquela chata? Quer reformar a casa dela e, enquanto isso, morar com a gente. Tem noção da merda que vai dar?

— E o que a Linda diz sobre isso?

— Minha delícia sabe o quanto isso me aborrece, mas se sente dividida. Ainda se deixa manipular pela mãe. Na maioria das vezes, relevo, mas aceitar que ela more comigo já ultrapassa a linha da tolerância — e a Linda sabe disso. — Ele toma mais um gole do uísque. — Mas e aí, por que você vai até San Francisco? Não era a equipe do Bryan que iria?

— Tivemos um contratempo com a agenda da empresa. Lembra da Foster Technological Solution?

— A empresa que está desenvolvendo o software de IA para próteses?

— Exatamente. Nosso hardware é compatível com o que eles estão desenvolvendo. Pelo que sei, a CEO é a responsável pela criação. E a reunião será com ela. Quero estar frente a frente com quem pode me ajudar a realizar um dos meus maiores sonhos.

Mike me encara em silêncio por alguns segundos. Ele entende o peso do que estou dizendo. Porque, no fundo, sabe que esse projeto não é só sobre tecnologia. É sobre redenção. Sobre tudo o que perdi... e tudo o que ainda posso conquistar.

Passei boa parte da infância entre uma cama e uma cadeira de rodas. O problema na minha coluna demorou anos para ser resolvido. Enfrentei muita fisioterapia e terapia para não cair na depressão, como aconteceu com meu pai. Eu tinha sete anos, não podia ir à escola nem interagir com outras crianças, vivendo isolado enquanto meu pai se refugiava no trabalho, tentando fugir da culpa.

Durante esse período, conheci outras crianças com dificuldades parecidas, inclusive Collin Freeman, que perdeu as duas pernas em um acidente. Diferente de mim, que tinha chances de voltar a andar, Collin não se adaptou a nenhuma prótese. Isso o deixou cada vez mais frustrado. Nos tornamos melhores amigos, compartilhando jogos, quadrinhos e tarefas escolares, mas eu percebia a tristeza dele — semelhante à do meu pai.

Um dia, durante a fisioterapia na piscina da clínica, encontrei Collin morto. Sua mãe havia se ausentado por alguns minutos, e ele aproveitou para se jogar na água. Aquela imagem nunca saiu da minha mente. Foi ali que nasceu em mim o desejo de mudar o futuro de pessoas como ele. Ninguém deveria morrer por falta de adaptação.

Ninguém deveria morrer por falta de adaptação. Ninguém deveria ser esquecido.

A imagem do Collin naquela piscina ainda me visita em sonhos. Às vezes, acordo com a sensação de estar afundando junto com ele, como se a água tivesse engolido não só seu corpo, mas também parte da minha inocência. Foi ali que entendi que viver não era apenas sobreviver — era fazer valer a pena. E, para mim, isso significava criar algo que pudesse mudar vidas.

— Entendo sua expectativa, Gabriel. Mas vá com calma para não se frustrar novamente — disse Mike, com a voz mais serena. Ele conhece todas as frustrações que enfrentei desde que me empenhei nessa busca.

— Claro, Mike. Estou consciente de que preciso ir devagar. Mas é difícil fingir indiferença diante de um assunto que me importa tanto.

— E o encontro com sua família neste fim de semana? Está preparado? O Natan e o Alan estarão lá. Vê se mantém a calma e não cai nas provocações deles — meu amigo me previne, ciente do quanto é difícil para mim manter a indiferença perto daqueles idiotas.

— Farei o possível, amigo. Mas você sabe o quanto é difícil para mim ser indiferente a eles, depois de tudo o que já tentaram contra mim e contra meu pai — encosto no encosto da poltrona e tomo mais um gole do uísque. — Esse também é um dos motivos pelos quais quero levá-lo comigo. Preciso de alguém lá para manter minha sanidade intacta.

— Ou podemos nos juntar e dar um cacete nos dois. Estou louco para descontar em alguém toda a raiva que a bruxa da minha sogra está me fazendo — ele brinca.

— Não acho uma má ideia — digo, e gargalhamos, tomando o último gole do uísque.

O riso alivia a tensão, mas não apaga o peso do que está por vir. A reunião com a Foster pode ser um divisor de águas. E o fim de semana com minha família... bem, esse será mais um teste de resistência.

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