Priscila Narrando Ver o Everton ali, parado na beira do campo, me fez sentir coisas que eu nem queria nomear.Ele estava com aquele jeito despreocupado, camiseta branca, sorriso de canto, mãos nos bolsos. Mas eu conhecia aquele olhar…Ele estava prestando atenção em tudo. No Luisinho, nos meus gestos, no ambiente. Como se absorvesse cada detalhe.Fingi que não senti aquele frio na barriga quando ele se aproximou.— Achei que você ia desistir. — soltei, tentando soar leve.Mas, por dentro, uma parte de mim ainda achava que ele ia sumir… como todos os outros sumiram. Como o pai do meu filho sumiu.— Desistir de você? Nunca. — ele disse, com a voz baixa, firme.Olhei pra frente, fingindo que não me derretia por dentro.Ficamos ali, lado a lado, assistindo o Luisinho correndo no campo. E eu percebia os olhares do Everton, discretos, mas presentes.Ele não estava ali só por mim.Estava por ele também.Quando o Luis acenou pra gente, com aquele sorriso bobo de orgulho, meu coração quase sa
Sophie Narrando Eu não ia deixar isso barato. Não depois da humilhação que Priscila me fez passar. Como ela ousa, na frente do Everton, me desafiar daquele jeito? Como ela ainda acha que pode ficar com ele?Eu a observei enquanto ela se dava o gosto de achar que estava no controle, mas eu sabia que não era assim. Eu sempre fui a preferida dele, sempre fui quem ele queria. E aquela mulher... aquela simples vendedora de loja não passava de uma distração. Ela não ia conseguir manter Everton por muito tempo, eu sabia disso.Então, quando vi a chance, eu a provoquei. Falei do jeito que ela odiaria ouvir, sabendo que cada palavra minha atingiria diretamente a insegurança dela. Mas o que me surpreendeu foi a reação dela. Ela não ficou no canto, não se fez de coitadinha. Ao contrário, ela respondeu com aquela arrogância, com aquele veneno no olhar que me fez perceber algo.Ela não estava mais com medo de mim.E isso, sinceramente, mexeu comigo. Porque até agora eu sempre soube como jogar com
Everton narrandoAssim que a Sophie saiu, com aquele ar de vitória falsa, eu não consegui segurar. Comecei a rir. Baixo no começo, depois mais solto. Como se todo aquele teatrinho dela tivesse sido uma comédia de quinta categoria. Se ela acha que eu ainda caio naquele papinho furado, tá muito enganada.Ela pode ter sido meu passado, mas a Priscila… a Priscila é o que eu quero no meu futuro. E não é só por desejo, não é só porque ela me tira do eixo com aquele olhar determinado e aquele sorriso de canto que me desmonta. É porque, pela primeira vez em muito tempo, eu vejo sentido em construir algo real com alguém.Sophie pode tentar o que quiser. Pode aparecer na loja, provocar, sussurrar lembranças antigas, se fazer de vítima ou de tentação. Mas eu mudei. E o que eu tive com ela não chega nem perto do que eu sinto quando tô com a Pri.Ela é mãe, é forte, batalhadora. Ela me desafia e me faz querer ser melhor. E, mesmo que tenha mil obstáculos no caminho, o meu único foco agora é reconq
Priscila Narrando Quando o Everton me abraçou, meu corpo reagiu antes da minha cabeça. Era como se uma parte de mim tivesse esperado por aquilo… mesmo que a outra parte gritasse para eu recuar.O toque dele ainda era familiar. Forte. Protetor. Mas dessa vez, havia algo diferente. Não era só desejo. Era entrega. Era arrependimento. E também algo que eu tentava evitar: sentimento.Me afastei devagar, olhando nos olhos dele. Eu precisava manter o controle. Precisava lembrar tudo o que passei. Tudo o que chorei. Tudo o que me prometi depois que a gente se separou.— Everton... — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava — não confunda esse abraço com perdão. Ainda tem muita coisa mal resolvida entre a gente. Eu ainda tô machucada. Ainda tô confusa. E ainda tô com medo.Ele assentiu com um olhar firme, mas respeitoso. E isso mexeu comigo mais uma vez. O Everton de antes teria forçado, teria argumentado, teria dado um jeito de me convencer. Esse... só ficou ali. Presente. Me ouvindo.—
Sophie Narrando Eu sabia que a Priscila não ia me deixar tomar o lugar dela tão fácil. Ela é teimosa, obstinada... e um pouco orgulhosa, o que eu sempre admirei nela — pelo menos quando ainda estava no meu jogo. Mas agora? Agora era pessoal.Fui até a loja novamente. Afinal, eu não poderia deixar ela achar que estava ganhando. O que ela não sabia é que eu tenho paciência. Tenho tempo. E sempre dou um jeito de alcançar o que quero.A Priscila me olhou com aquele olhar desconfiado quando entrei pela porta. Ah, eu sei como me comportar quando preciso, como causar aquela tensão sem que ninguém perceba. Fiz questão de ser “simpática”, como se nada tivesse acontecido. Fiz questão de ser charmosa, com aquele sorriso de quem não está nem aí.— Oi, Pri — falei, de forma doce, como se fosse apenas mais uma cliente. — Vi umas coisas novas aqui na loja. Queria ver se você me ajuda a escolher.Ela não respondeu de imediato, mas eu vi a maneira como ela me olhou. Sabia que ela sentia a tensão no a
Priscila Narrando Eu estava tentando me concentrar, tentando respirar fundo e colocar minha cabeça no lugar, mas era impossível depois do que aconteceu. A presença da Sophie ali, sentada na mesa ao lado, soltando aquelas provocações veladas, me tirou completamente do eixo. Ela não estava ali só para me provocar — ela queria me desestabilizar. E pior: estava conseguindo.Quando cheguei em casa, deixei minha bolsa no sofá e fui direto para o quarto. Me sentei na beira da cama, tirei os sapatos e fiquei olhando para o chão, tentando entender por que tudo estava ficando tão complicado de novo. Eu estava reconstruindo minha vida... Eu estava finalmente voltando a acreditar que podia ser feliz, e agora parecia que tudo estava ameaçado mais uma vez.Sophie era o tipo de mulher que não media consequências. E o problema não era ela ser ousada, era ela ser venenosa. Eu sabia, no fundo, que ela não tinha superado o Everton — e talvez nunca fosse superar. Mas o que ela não entendia era que eu ta
Everton Narrando Saí da casa da Priscila com o gosto do beijo dela ainda nos meus lábios. Caminhei até o carro em silêncio, as mãos no bolso, tentando conter a vontade de voltar e bater de novo naquela porta. Mas eu sabia que ela precisava de espaço. E eu… precisava de paciência.Assim que entrei no carro, encostei a cabeça no banco e respirei fundo. A imagem dela me pedindo pra ir embora ficou martelando na minha mente. Ela tava tentando se proteger, eu entendi. Só que era foda ouvir aquilo quando tudo que eu queria era ficar.A verdade? Eu nunca tinha sentido isso por ninguém. Priscila me tirava do eixo, me fazia querer mudar, crescer, ser melhor. E por mais que ela tentasse se afastar, esse negócio entre a gente… já era forte demais pra simplesmente ignorar.— Você pode me mandar embora, Pri. Mas não vai me esquecer — falei antes de sair, e eu sei que ela sentiu aquilo tanto quanto eu.Enquanto dirigia pelas ruas quase vazias da cidade, comecei a pensar no que fazer agora. Não pos
Luiz Fernando Narrando Eu tava com a cabeça a mil. A bebida ainda fazia o mundo girar um pouco, mas o que mais doía não era a ressaca — era a realidade. Eu estraguei tudo. De novo.Depois daquela cena patética na porta da casa do Everton, tentando acertar ele, ficou claro que eu só tô cavando meu próprio buraco. Ele foi mais esperto, desviou fácil e ainda segurou minha camisa como quem diz: "Cresce, cara." E, pior... ele não revidou. Nem um soco. Nem uma palavra mais alta. Só me olhou com pena. Isso doeu mais do que se tivesse me quebrado no soco.Sentei no meio-fio, sentindo o gosto amargo de tudo que perdi. A Priscila… o Luis. Meu filho. Eu fui um covarde, um traidor, um idiota. E agora tô aqui, sozinho, olhando pra casa onde um dia eu tive uma família. Onde um dia ela me olhou com amor.Mas agora? Agora ela olha pra outro cara. Um que parece saber exatamente o que fazer com o coração dela. E eu… eu nem sei mais como juntar os pedaços do meu próprio.O pior de tudo é saber que eu m