Anthony narrando
Desde que aquele moleque cruzou meu caminho lá na frente do hospital, minha cabeça não parou mais. Era como me ver menor, tipo um espelho do passado. Mas o que mais mexeu comigo foi o jeito da Ana Kelly. Ela é observadora, ela sente as coisas. E desde aquele dia, algo nela mudou.
Hoje, enquanto ela colocava a TomTom pra brincar com os brinquedos novos, eu me aproximei, sentei do lado dela no tapete da sala e soltei:
— Tá acontecendo alguma coisa, Kelly? Tu tá estranha desde aquele dia no hospital.
Ela respirou fundo, como se estivesse segurando aquilo havia tempo.
— Eu sei que se ele fosse teu filho, Anthony… — ela começou, me encarando com os olhos cheios de verdade — ...ele tem dez anos. Dez. Eu nem pensava em te conhecer há dez anos atrás. Eu ainda nem pensava em homem, pra ser bem honesta. Mas...
— Mas...? — incentivei, já sentindo o nó se formando no peito.
— Mas tua mãe tá desconfiando que esse menino pode ser filho do teu pai. E aí, Anthony... é uma traição. Tu