Karen narrando

O carro corria tranquilo pela avenida, o sol filtrava pelas janelas e o rádio tocava uma música calma, quase como trilha sonora pro que eu sentia por dentro.

Encostei a cabeça no vidro e soltei um suspiro leve, acariciando minha barriga devagar, como se ela pudesse entender cada pensamento que me atravessava naquele instante.

— Tá tudo mesmo se encaixando, né? — falei, olhando pro Estevão, que dirigia com uma mão no volante e a outra segurando a minha.

Ele sorriu de canto, aquele sorriso que sempre me passava calma.

— Tá sim, meu amor. Finalmente.

— Mas sabe o que mais me emociona? — continuei, com os olhos marejando de leve. — É olhar pra Ana Kelly hoje e pensar naquela Ana de São Paulo… aquela mulher cheia de receios, de feridas escondidas, de força contida. Era tanta dor atrás do sorriso dela que às vezes eu achava que ela nunca ia conseguir sair daquele lugar escuro.

— E saiu. E saiu gigante — ele respondeu, firme. — Do jeitinho dela, do tempo dela. Mas saiu.

— E vi